Nossas escolhas culturais ou meus dias de Michael Jackson

Sem querer colocar dedo em alguma ferida; também não quero oferecer carapuças sem que me peçam. A intenção é refletir e, sem receio, mostrar experiências recentes.

Visitei alguns lugares na semana passada; o objetivo primeiro era escrever sobre os mesmos aqui no blog. Estamos em férias, vamos aproveitar! Estranhamente, os locais estavam vazios. Muito vazios. Postei uma única foto do espaço atual do Museu do Theatro Municipal e registrei a presença de um único rapaz, que chegou lá com um casal. Aqui outra foto, novo ângulo, do espaço pouco visitado.

Um imprevisto impediu-me de visitar Jennifer Monteiro (e faço questão de registrar aqui meu pedido de desculpas!) e resolvi voltar e refazer o itinerário anterior, em plena tarde de sábado, com um amigo. Foi por estar em agradável companhia que posso postar a próxima foto. De caso pensado, pedi uma imagem que deixasse evidente minha “solidão”. Ficou assim:

Brincamos e lembrei-me de Michael Jackson que fechava grandes lojas para não ser perturbado enquanto fazia suas escolhas. Em momentos ranzinzas já sonhei ser o Rei do Pop e fechar alguns museus para não ser perturbado pelo excesso de visitantes.

E não é que eu estava tendo um belo dia de Michael Jackson! Vejam! Imensos e belos espaços culturais a minha disposição. Guardadas as devidas proporções, não sou superstar, nem preciso de seguranças para caminhar pela cidade. Apenas de um “assessor” para fotos.

Fomos almoçar no shopping mais próximo e este sim, estava lotado. Filas para tudo. Caixas das lojas, escadas rolantes, praças de alimentação. Filas de consumidores vorazes.

As pessoas consomem aquilo que querem; aquilo com o qual se identificam. É um direito. Outro direito é esculhambar as escolhas alheias. E quando criticam algo publicamente, abrem a possibilidade de debate, mesmo quando a crítica é avassaladora, quase condenando ao extermínio aquele que não compartilha do mesmo gosto.

Há um imenso espaço nas redes sociais usado pelos críticos do cantor de sucesso da hora, do reality show do momento, só para ficar nos exemplos atuais que recebem opiniões contundentes. Ok! Repito que as pessoas têm o direito de criticar, penso que devem exercitar esse direito. A questão é que visitei um terceiro lugar… Também vazio.

É lamentável que em dois dias distintos, em pleno mês de férias, em dias ensolarados, belos espaços culturais da maior cidade da América do Sul estejam vazios. Em todos os lugares aqui evidenciados a entrada é gratuita!

Sinceramente, pouco ouvi a música de sucesso da hora. E só vi cenas do atual reality show enquanto aguardava o programa sobre Dercy Gonçalves. Longe de bancar o esnobe! Sigo “Mulheres de Areia” religiosamente e reitero minha paixão pela “Viúva Porcina”, na reprise de “Roque Santeiro” na madrugada (Férias!). E gosto de ver os comentários do Fernando Brengel enquanto rola “Fina Estampa”. Agora, fico bastante incomodado ao visitar espaços vazios, na cidade de milhões de habitantes.

Nossa São Paulo tem lugares estimulantes! Para todos os gostos, para todos os bolsos. Jennifer Monteiro e Fernando Brengel, os amigos citados neste post, aproveitaram as férias para uma visita ao incrível Museu do Futebol. Espero que tenham encontrado muitas pessoas por lá. Estudantes, crianças, pessoas de todas as idades, pois eu, decididamente, tendo dois dias de espaços culturais “exclusivos” não gostei da idéia de ser  solitário como foi o querido Michael Jackson.

Boa semana!

Ops! Não coloquei legenda dos outros lugares visitados, não é! Aguardem. Escreverei sobre os mesmos.

13 comentários sobre “Nossas escolhas culturais ou meus dias de Michael Jackson

  1. Nathalia Romao

    A cada dia mais me sinto Michael quando se trata de passeios culturais e por vezes ainda convido amigos que nunca foram a este ou aquele museu ou que nem se quer algum dia nutriram curiosidade. Eh mais facil ficar em frente a tv consumindo todo o lixo e absorvendo informacoes manipuladas….

  2. Valdo querido, eu e Jenni agradecemos de coração a citação em seu belíssimo post. Aliás, um post que nos alerta quanto à questão cultural, quanto aos espaços que têm tudo para lotar – principalmente nas férias escolares – e se encontram às moscas. Engraçado é que as pessoas vão, por exemplo, a Paris e voltam encantadas com o Louvre – sem dúvida nenhuma com absoluta razão – e retornam dizendo “aos domingos nem ingresso se cobra para entrar no museu”. Já ouvi isso um zilhão de vezes. Pois saibam os viventes desse lado do Equador que aos sábados o Museu da Língua Portuguesa e a Pinacoteca do Estado fazem exatamente o mesmo, não cobram entradas. Temos museus com acervo de nível internacional, o MASP está aí e não me deixa mentir. Enquanto não valorizarmos o que temos como poderemos cobrar a ampliação de investimentos em cultura, seja do Estado ou da iniciativa privada? Precisamos nos repensar como público, como povo, como Nação. E sabe mais? Frequentar museus, cinemas, bibliotecas, espetáculos teatrais, shows, vernissages, praças, botecos, escolas de samba ou o que o valha é um hábito plantado dentro de casa. Os pais têm relação direta na construção de seres capacitados a valorizar o belo, o inteligente, o questionador. Ir ao Metropolitan – lindo por sinal – é fácil. Em 12 vezes sem juros passa-se uma semana confortavelmente instalado em Nova Iorque. Se isso foi facilitado, por que um pulinho ao Museu de Arte Sacra é tão difícil? Doído? Mentes colonizadas dão nisso, nessa pobreza de alma, de espírito. E daí o fulano vai no Malba, em Buenos Aires – se é que vai – e espanta-se ao ver o Abaporu da Tarsila do Amaral fazendo parte do acervo regular do museu. Espantado fico eu. Esse ano comemoraremos em fevereiro 90 anos da Semana de Arte Moderna, infelizmente o sonho do Oswald de Andrade parece cada vez mais distante. Dizia que “um dia a sociedade ainda comerá dos finos doces que fabrico”. Oswald, tudo o que a gente come hoje tem o gosto do óleo requentado dos fast foods culturais, das musiquetas passáveis e das letras tortas, salvo honrosas exceções, como acontece com o movimento cultural pernambucano Bomba do Hemetério que conhecerei semana que vem. Bjs e vamos em frente companheiro. A luta continua.

  3. Obrigado, amigo! Vamos em frente. Assino com você sobre todas essas questões. Nosso país carece muito de um olhar mais atento sobre as próprias manifestações, sobre os espaços disponíveis. Fico feliz pelo quanto os comentários, (o seu, assim como o da Nathalia), complementam meu post. Aí sim, sinto que “a luta continua”.
    Abraços.

  4. Ivone

    Como eu não tenho avó para me ensinar a fazer tricô ou crochê, depois dos quarenta vou reservar para os Museus. Hoje prefiro as baladas. Com certeza estando cançada, curtirei mais as obras existentes nesses belos lugares culturais. Balada… Também é cultura. kkkkkkkkkkk

  5. Walcenis

    Bom é um Museu/igreja movimentado como aquele em Assis na Itália, que como bons e espertos brasileiros, embolamos no grupo de turistas baianos e aproveitamos a aula do guia. Lembra? Nos divertimos com esse fato.

    1. Como não lembrar? E as imensas filas em Florença? E no Vaticano. Recentemente, em Buenos Aires, aguardei mais de uma hora para conseguir entrar no Malba (prepare-se!) que o Brengel citou abaixo. Mas, vale a pena. Visitando o Malba, a gente percebe uma imensa diferença entre o que entendemos por cultura e o que os “hermanos” entendem. Há que se tirar o chapéu para esses locais; e aqui, os espaços estão às moscas.

  6. e a fila quilométrica prá ver Rodin na Pinacoteca? horas em volta do Pq da luz….faz tempo rsrs Reparei por vezes no MAM ou MAC no Ibirapuera, o parque bombando de gente e no dia de graça quase ninguém entra.

  7. O MAC no Ibirapuera é imperdivel e o MAM era na USP agora acho que foi para onde era o Detran ali na AV. Ibirapuera também são imperdiveis, todas as vezes que fui não cruzei ninguém! No MAC só se vê as pessoas parando no café mas ir ao Museu que é bom nada…. o que o povo realmente precisa é de um chá de cultura…eu muitas vezes fui olhei, olhei e não compreendi muita coisa, anotava tudo para chegar em casa e procurar sobre os artistas, movimentos é inacreditavel que na maioria deles não tenha NINGUEM para instruir sobre o tour…ou para que possamos fazer uma pergunta, matar uma curiosidade.

  8. Magda

    Vavá,
    Se eu conseguir ficar na posição de solidão que você ficou, juro que precisarei de um guindaste pra levantar. Parabéns pela posição da foto e também pelo belo texto.

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