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Antonio Carlos Ferreira de Brito, “Meio termo”, “Transversal do tempo”, Cacaso, Djavan, Edu Lobo, Elis Regina, Fafá de Belém, Francis Hime, Lourenço Baeta, Lucinha Lins, Maria Bethânia, Nana Caymmi, Pássaro Proibido, Simone, Sueli Costa, Tom Jobim, Uberaba
Antonio Carlos Ferreira de Brito, o Cacaso, nasceu em Uberaba em 1944. Suas criações estão imortalizadas nas vozes de Elis Regina, Maria Bethânia, Simone, Lucinha Lins, Fafá de Belém, Nana Caymmi… Lá em Uberaba, quando adolescente, não conheci a obra do poeta e compositor, letrista de primeira. Foi depois, já aqui em São Paulo, que a música de Cacaso entrou na minha vida.
São as trapaças da sorte, são as graças da paixão
Pra se combinar comigo tem que ter opinião
São as desgraças da sorte, são as traças da paixão
Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração…
(Face a face – Sueli Costa e Cacaso)
Parceiro de Sueli Costa, Edu Lobo, Tom Jobim, Francis Hime, Djavan e muitos outros, as letras de Cacaso cantam paixões densas, amores desesperados e, paralelamente, revelam os tempos difíceis vividos pelo país sob a ditadura militar. O período conturbado aparece até em canções aparentemente leves, mas que revelam os princípios do cidadão e compositor.
Sou brasileiro de estatura mediana
Gosto muito de fulana, mas sicrana é quem me quer
Porque no amor quem perde quase sempre ganha
Veja só que coisa estranha, saia dessa se puder
Não guardo mágoa, não blasfemo, não pondero
Não tolero lero-lero devo nada pra ninguém
(Lero-lero – Edu Lobo e Cacaso)
Foi através de Maria Bethânia, com seu repertório esplêndido, que prestei atenção no letrista Cacaso, posto que já estava familiarizado com o trabalho de Sueli Costa, a parceira do compositor em “Amor, amor”. Bethânia gravou Cacaso em 1976, no disco “Pássaro Proibido”.
Quando o mar
quando o mar tem mais segredo
não é quando ele se agita
nem é quando é tempestade
nem é quando é ventania
quando o mar tem mais segredo
é quando é calmaria…
(Amor amor – Sueli Costa e Cacaso)
Tempos depois de conhecer a música de Cacaso na voz de Bethânia ouvi Elis Regina cantar “Meio termo” no disco “Transversal do tempo”, de 1978. A interpretação de Elis é avassaladora para a música de Lourenço Baeta com letra de Cacaso. Impossível não transcrever toda a letra dessa belíssima e triste canção.
Ah! como eu tenho me enganado
como tenho me matado
por ter demais confiado
nas evidências do amor
como tenho andado certo
como tenho andado errado
por seu carinho inseguro
por meu caminho deserto
como tenho me encontrado
como tenho descoberto
a sombra leve da morte
passando sempre por perto
o sentimento mais breve
rola no ar e descreve a eterna cicatriz
mais uma vez,
mais de uma vez,
quase que fui feliz!
(Meio termo – Lourenço Baeta e Cacaso)
Cacaso faleceu de enfarte, ainda jovem, em 27 de dezembro de 1987, no Rio de Janeiro, cidade onde viveu desde os 11 anos. Lá estudou filosofia e tornou-se professor de teoria literária. Além da crítica e da paixão exasperada ele soube dosar suas criações com invejável humor.
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que tem a boca pintada
Que tem as unhas pintadas
Que tem as asas pintadas…
(Dentro de mim – Sueli Costa e Cacaso)
O poeta Cacaso será tema para outro texto, em outro momento. Aqui faço questão de reativar lembranças do letrista e compositor; uma singela homenagem ao conterrâneo que enriqueceu com verve poética a música popular brasileira.
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Até mais!
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