60 anos da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

Osmar Baroni, João Eurípedes e Olga Maria Frange de Oliveira. O presidente recebendo novos acadêmicos

Escritores e leitores em festa. A Academia de Letras do Triângulo Mineiro comemora seu 60º aniversário. Fundada em 15 de novembro de 1962 em Uberaba, Minas Gerais, a ALTM tem sido guardiã da memória literária local e regional, através de seus membros: patronos, fundadores e demais acadêmicos.

Instituições existem por haver quem nutre afeto por elas. Na medida em que não há desvelo, atenção, cuidado, instituições vão se esvaindo tornando-se pequenas chamas, apagando-se aos poucos até ao derradeiro lampejo de luz. Viva e atuante, a ALTM enfrentou com galhardia momentos difíceis nesses últimos anos e comemora o aniversário com cores vivas e a hospitalidade de sempre. Essa situação deve-se a quem ocupa a presidência, desde 2017, o escritor João Eurípedes Sabino.

Fonte da imagem: Jornal da Manhã

Sem a menor pretensão de diminuir a atuação de outros, quero nesse momento enfatizar o trabalho do atual presidente, seu cuidado e afeto para com a Academia, seu respeito e carinho pelos demais componentes, seus pares. Reitero que as instituições são o que são aqueles que a representam. João Eurípedes Sabino, sou testemunha, atende com presteza e cortesia toda e qualquer pessoa, seja membro, visitante ou mero curioso. Nos períodos mais difíceis, na triste pandemia da qual ainda temos sinais, o presidente manteve acesa a chama que norteia os trabalhos da ALTM: realizou publicações, concursos, reuniões virtuais, elegeu novos membros sem jamais deixar de prestar assistência aos demais.

Parabéns, João Eurípedes Sabino!

Parabéns, Academia de Letras do Triângulo Mineiro!

Quero rever-te, pátria minha

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos…
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu…

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda…
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha… A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
“Liberta que serás também”
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão…
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
“Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes.”

Sabatina

(E eu, dentro do ônibus, a atenção despertada pelo diálogo entre um garotinho esperto, curioso e uma mãe atenciosa:)

– Mãe, por que estavam mandando os caras irem para Cuba?

– Parece que lá é um bom lugar, meu filho!

– Mas eles estavam brigando!

– Quem mandou o outro para Cuba não deve conhecer a ilha…

– Ilha?

– Cuba é uma ilha.

– Que nem a Venezuela?

– Não menino, quem te disse que a Venezuela é uma ilha?

– Ninguém, é que escutei quando gritaram para os outros irem para a Venezuela. O que é que tem lá?

– Uma vida diferente daqui, ora essa! Ou igual, vai saber.

– Hum, você não conhece nem Cuba, nem a Venezuela, né, mãe!

– Nem essa gente, meu filho, nem essa gente. A gente sabe de ouvir falar. Só quem estudou, ou foi lá e viu bem direitinho, é que pode falar.

– Mas e as revistas, os jornais.

– Os jornais dizem o que os donos querem que digam. Já aqueles briguentos só leem WhatsApp, meu bem.

– Mãe, lembra daquele cara de boné, com a bandeira vermelha? Ele deve ser canhoto, como eu.

– Como assim? O rapaz segurava o mastro da bandeira com as duas mãos!

– Mas, estavam gritando para ele: esquerdopata, esquerdopata! Ele deve ser canhoto.

– Esquerdopata é outra coisa, menino.

– Pata, mão. Esquerda, canhoto!

– Se fosse só por isso. (e a mulher riu gostoso).

– Eu não sei se quero ser esquerdopata, mãe!

– Melhor que fascista, te garanto. Você ouviu quando gritavam fascista? Promete que você nunca vai ser fascista?

– Se você me ensinar o que é isto. E o que é comunista também! Berravam fascista de um lado, comunista de outro, deve ser tudo coisa ruim. Tudo “ista”!

– Não é, meu filho. São coisas diferentes. O som é parecido, mas são muito diferentes.

– Então, posso ser esquerdopata?

– Você nem sabe o que é!

– Mas sou canhoto! E se você não quer que eu seja fascista, posso ser esquerdopata.

– Eles estavam se xingando. Não é elogio! (E ela deu sinal para descer)

– Eles xingavam também de comunista. Meu pai fala que Jesus era comunista.

– Devia ser.

– Mas eles estavam brigando!

– Se Jesus estivesse por aqui iriam brigar com ele também.

– Mesmo? Mas, mãe você acha que…

(O ônibus parou. Mãe e filho saíram. E eu, com vontade de segui-los, ver onde toda aquela sabatina iria chegar).

Valdo Resende, escrevedor de coisas.

Primavera de 2022

A Amante Indesejada no Monte Sião

A edição de agosto do jornal de Monte Sião tem publicado regularmente poetas e contistas da cidade e de outras regiões do país. Mais uma vez sou honrado com a publicação de um texto, desta vez o poema Amante Indesejada. Agradeço ao escritor e amigo Luiz Genghini pela indicação e convite.

Para ter acesso aos números anteriores do Monte Sião entre no link da https://fundacaopascoalandreta.com.br/ .

Vale a pena conhecer o trabalho dos escritores publicados pelo jornal.

Em Santos, de Santos

Por vias estreitas, centenárias,

Seguem brasileiros e estrangeiros

Rumo ao futuro, cheios de fé.

No peito sonhos brejeiros

Na alma cheiro de café.

.

São de Santos, vivem em Santos,

Cidade que celebrizou Pelé.

.

Pelo imenso estuário da América do Sul

Desde os velhos vapores aos iates colossais

Chegam reis, príncipes, embaixadores,

Turistas enamorados de distantes capitais.

E marinheiros trafegam ao lado de estivadores,

.

Estão em Santos, vivem em Santos

Cidade que é porto, é cais!

.

Caminhei por todas as praias

Brinquei nos grandes cassinos

Vibrei com cada vitória

Nas igrejas toquei sinos

Hoje vivo sua história.

.

Estou em Santos, sou de Santos

Cidade que escolhi como destino.

.

Valdo Resende / 2015

Contingências Antropofágicas – CCBB Brasília

Celebrando o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, o ciclo de três debates discute aspectos históricos, estéticos e humanos do movimento modernista e também questiona as influências dessa primeira etapa do modernismo na arte hoje, jogando luz sobre os significados de uma busca pela identidade brasileira através da arte. Como a questão da brasilidade toma corpo agora?

Os debates são presenciais, gratuitos, com tradução em libras e certificado digital para quem comparecer a pelo menos duas palestras!

Programação:

Quinta, 5 de maio, 19h30

Contingências sócio-históricas: O significado da semana

Maria Eugenia Boaventura – O Salão e a Selva

Regina Teixeira de Barros – Mulheres modernistas

Sexta, 6 de maio, 19h30

Contingências estéticas: A composição da sinfonia modernista de 22

Guilherme Wisnik – Só me interessa o que não é meu

Agnaldo Farias – O lastro modernista nas artes hoje

Sábado, 7 de maio, 19h30

Contingências humanas: O significado de ser moderno hoje

Fred Coelho – Invenções e Reinvenções do Modernismo

Luisa Duarte – Adriana Varejão: Só me interessa o que não é meu, uma atualização crítica.

🎟️ Os ingressos serão liberados no dia de cada debate, na bilheteria do CCBB Brasília. Acesse bb.com.br/cultura o

Programa BH Todo Dia

Elias Santos e Valdo Resende

Muito feliz em ter participado e poder compartilhar a gravação do Programa BH Todo Dia, do Canal TV Brasil, já publicada no YouTube. Apresentado por Elias Santos e exibido ao vivo no dia 31 de março, o tema do programa foi “Auto estima, comunicação não violenta, Semana de Arte Moderna e humor”.
Destaque do programa a recente apresentação do Oscar, quando a atitude de Will Smith chamou a atenção do planeta para a Alopecia. O tema foi aprofundado por André Gianini, cirurgião plástico e especialista em restauração capilar.

Vários convidados participaram do programa: a terapeuta familiar Cinara Cordeiro, a atriz e apresentadora Kayete, a cantora Carô Rennó e eu, Valdo Resende, divulgando o Seminário Contingências Antropofágicas, apresentado no CCBB Belo Horizonte, com curadoria de Katia Canton e produção da Kavantan & Associados, Projetos e Eventos Culturais. Deixo abaixo os registros dos três blocos do programa:
No primeiro bloco, Elias Santos nos convida a opinar sobre a cidade, Belo Horizonte e eu, mineiro, não pude deixar Uberaba de fora dos meus comentários. No encerramento do bloco o especialista convidado fala sobre o tema motivador, a Alopecia.


No segundo bloco, comentamos a Alopecia; pessoalmente destaco a participação da Carô Rennó, que está nesta condição, nos colocando em contato direto com as questões vivenciadas e com experiências contundentes.

No terceiro bloco desenvolvemos o tema central e cada convidado falou do motivo específico em estar presente. No meu caso, a divulgação do Contingências Antropofágicas, 100 anos depois de 22.


Deixo registrado meu prazer em ter participado e conhecido grandes profissionais da minha terra, aprendido sobre o tema e, sendo “novato” nesse tipo de situação, quero elucidar dois aspectos que, posteriormente, percebi e sobre os quais peço desculpas:
O quadro que está atrás, na minha parede, com o retrato em aquarela do Palhaço Arrelia, não é de minha autoria, mas de L. Victor, artista santista. A segunda correção é que em Peirópolis, no município de Uberaba, temos sítios Paleontológicos e não arqueológicos (estes, minhas paixões piauienses).
Assistam e deixem suas opiniões.


Muito obrigado.