85 anos de Angela Maria
Fascínio tenho eu por falsas louras
Ai, a negra lingerie
Com sardas, sobrancelha feita a lápis
E perfume da Coty…
Neste dia 13 de maio uma grande estrela que não foi miss suéter nem garota solitária, completa 85 anos. Lábios de mel, provavelmente ela tem; a garganta é de ouro. Ela não foi “miss”, mas foi rainha. É rainha. A Rainha do Rádio, Angela Maria.
…Fica comigo
Velha amiga e companheira
Vou cantá-la a vida inteira
Pra lembrar do que passou.
Angela Maira nasceu em Macaé, RJ, em 13 de maio de 1928. Com mais de 60 anos de carreira, é reconhecida pelo Guinness Book como recordista mundial de gravações de disco, 115. Foi rainha do rádio em 1954 e forma com Elis Regina e Dalva de Oliveira o trio das maiores cantoras brasileiras, com domínio vocal e uma capacidade de cantar que extrapola o comum. Afinação, potência e extensão são qualidades ímpares dessas mulheres.
Números e títulos não criam ídolos; músicas sim! E sucessos e canções que permanecem na memória de um país é o que conta. E isso, músicas de sucesso que permeiam a lembrança popular, Angela Maria tem aos montes.
Meu amor quando me beija
Vejo o mundo revirar
Vejo o céu aqui na terra
E a terra no ar…
Dominando toda a década de 1950 e emplacando êxitos nas décadas posteriores, Angela Maria esteve e está presente na vida de milhões de brasileiros, na manifestação do gosto musical de diferentes gerações. Angela Maria continua cantando como cantava quando meu tio e padrinho de batismo era fã da cantora. Tinha os discos e revistas sobre ela. Foi em criança que eu conheci e guardei algumas das canções preferidas do meu padrinho Nino.
Hoje não te quero mais
Eu preciso de paz
Já cansei de sofrer
Vives na rua jogado
És um fósforo queimado
Atirado no chão…
Apelidada SAPOTI pelo então presidente Getúlio Vargas, Angela é a maior expressão do samba-canção, e dela se aproximaram cantoras como Maysa e Nora Ney, entre muitas outras que nunca obtiveram tanta popularidade como ela. A Sapoti também é lembrada por um comportamento impecável, uma elegância profissional excepcional. Não se tem notícias de pinimbas históricas envolvendo a cantora; o que ficou são os registros de uma carreira brilhante.
Tem certos dias em que eu penso em minha gente
E sinto assim todo o meu peito se apertar
Porque parece que acontece de repente
Como desejo de eu viver sem me notar…
Angela Maria já disse que quer ser lembrada por “Gente Humilde”, cujos versos estão acima. Todavia, muita gente lembra-se dela por “Babalu”, “Vida de Bailarina”, “Cinderela”, “Tango Pra Teresa” ou pela graciosa “Garota solitária”:
Esta noite eu chorei tanto
Sozinha sem um bem
Por amor todo mundo chora
Um amor todo mundo tem
Eu, porém, vivo sozinha
Muito triste sem ninguém…
Uma canção interpretada originalmente por ANGELA MARIA é sempre lembrada, no dia das mães. Aquela canção que diz “ela é a dona de tudo, ela é a rainha do lar” e fala do filho que (santo deus!) lembra “o avental todo sujo de ovo” pra rimar no final que gostaria de “começar tudo, tudo de novo”. As mães, aquelas que valem mais “que o céu, a terra e o mar” gostam. Na última semana a música foi lembrada em um seriado da Rede Globo, Louco por elas.
Lúcida e atuante, Angela Maria apresentou-se recentemente no Rio de Janeiro, em noite de gala, com um repertório baseado em grandes sucessos de uma carreira fonográfica iniciada em 1951 e que, em 2012 teve os principais sucessos registrados em DVD, lançado pela gravadora Lua Music, denominado Estrela da Canção Popular.
As canções de Angela Maria estão ai. As emissoras de rádio tocam quase nada e raramente ela aparece em TV. Aliás, ela prefere churrascarias, restaurantes populares, onde pode sentir melhor a presença do público. Por aqui quero prestar uma homenagem sincera para essa extraordinária mulher. Cantora de lábios de mel, garota não muito solitária, mas sempre a minha miss suéter.
Guardarei para sempre
Seu retrato de miss com cetro e coroa
Com a dedicatória
Que ela, em letra miúda, insistiu em fazer
“-Pra que os olhos relembrem
Quando o teu coração infiel esquecer…”
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Até!
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Notas Musicais:
Todas as canções citadas são do repertório de ANGELA MARIA e estão identificadas na ordem em que aparecem no texto.
Miss Suéter – João Bosco e Aldir Blanc
Balada Triste – Dalton Vogeler e Esdras P. da Silva
Lábios de Mel – Waldir Rocha
Fósforo Queimado – Paulo Menezes, Milton Legey e Roberto Lamego
Gente Humilde – Garoto, Vinícius de Moraes, Chico Buarque
Babalu – Margarita Lecuona
Vida de Bailarina – Cholocate e Américo Seixas
Cinderela – Adelino Moreira
Tango Pra Teresa – Jair Amorim e Evaldo Gouveia
Garota solitária – Adelino Moreira
Mamãe – Herivelto Martins e David Nasser
Miss Suéter – João Bosco e Aldir Blanc