Outros brasileiros na hora do prazer

(Foto: Vania Lourenço Sanches)

Uma perua transformada em motel a preço módico: Uma hora por R$ 5,00! Recebi o anúncio como se fosse piada em época de crise. Entre dois corações a palavra motel; abaixo o tempo e o preço. Assinando a categoria enquanto nome do negócio: Fode Truck.  “Que falta de elegância, Valdo, escrevendo essas coisas. Que feio!”, diria uma tia, já falecida. Eu rio, pensando na felicidade de quem pode pagar os cinco “mangos” para ser feliz, já que, lembrando meu amigo Robinho, “não dá para lutar contra a natureza”.

Não sendo dono da imagem do negócio descrito acima, resolvi ilustrar com uma foto, tirada em São Raimundo Nonato, euzinho em frente a um inesquecível bar. Um balcão lateral, muita bebida disponível, um som sempre aberto aos temas afetivos e, bem em frente ao balcão, uma cama de casal. Um varal preso ao teto, com uma cortina florida separava o ambiente quando amantes resolviam não ir muito longe para fazer o que poderiam fazer ali mesmo. Sem dissimulações, sem hipocrisia. E com o conforto de um bom ventilador para também espantar mosquitos indesejáveis.

Soube de histórias, já que o bar piauiense estava próximo da Universidade local, onde fui dar um curso. Não havia trocas de lençóis entre um uso e outro, mas garantiam peças limpas a cada dia. Para manifestações afoitas, exageradas durante o ato, aumentava-se o som. “Não muito”, garantiu-me o proprietário; “os gemidos de uns estimulam os outros e assim o serviço prospera. O senhor não quer experimentar?”

Essas histórias correm por aí no anonimato possível dos grupos de WhatsApp, neste período do ano em que já se tornou comum jovens articulados e saudáveis movimentarem lençóis para espectadores da tv aberta. E se é verdade que o Brasil é o país da delicadeza perdida, o tesão continua pop e o sexo segue, imbatível, indiferente aos locais onde é praticado.

Prazer é bom e Freud já determinou e nos ensinou princípios que, quando não satisfeitos, geram tensão. A situação pode ser delicada e complicada conforme a formação do ser que terá, ao longo da vida, um possível e considerável conflito entre a elegância, que pede discrição, ou o combate à hipocrisia, mandando essa às favas. Além dos ditames dos “bons costumes”, vivemos época de pandemia e aconselhamos às pessoas que permaneçam em suas casas. Complicado!

Tempos em que sobreviver é luta. Do que viverá o dono do bar piauiense? O preço da perua motel é esse, ou o valor diminuiu por conta da crise vigente? Como se resolvem as pessoas solitárias, que não se contentam com prazeres individuais? Enfim, o bom nisso tudo, é perceber que somos feitos para o prazer e ainda não desistimos dele. E que no “país do carnaval”, proibidos de brincar e desfilar, sem dispor das quantias enormes de dinheiro para ir ao Lollapallooza ou ao Rock In Rio, temos peruas, bares e outras possibilidades para a satisfação de nossas necessidades.

Boa semana!

O Baterista Walmar Paim

O menino de Santo Amaro da Purificação, Bahia, que sonhava em ser um músico de destaque conseguiu muito mais do que isso.

É ele que há anos dita o ritmo da banda de Bel Marques, que enche de alegria o circuito Barra-Ondina nos carnavais de Salvador.

Um profissional que se tornou mestre, referência e que inspira outros tantos meninos a trocar a bola de futebol ou o videogame pelas baquetas.

Nesse domingo embarca para sacudir o Trem das Lives o querido Walmar Paim. Venha rei, esperamos você.

Trem das Lives


Domingo, 15.08.21, 18h00

Instagram.com/tremdaslives

E, no entanto, é preciso cantar!

De todas, parece que esta será a mais cinza entre as quartas-feiras de cinzas. E que o dia se justifique conforme sua razão de existir: um marco para a mudança de vida. As chances de mudança são, infelizmente, muito poucas. Nem o carnaval aconteceu da forma que nos habituamos a cantar o primeiro verso da canção de Vinícius de Moraes: “acabou nosso carnaval…”.

Assim como 1º de janeiro se torna irrelevante quando constatamos que a mudança de ano não muda nada, a Quarta-Feira de Cinzas de 2021 tende a celebrar tão somente a fragilidade humana, a vida efêmera tirada das 1.100 vítimas mortas cotidianamente pelo COVID. Esse média, horrorosa, não converte ninguém, não muda comportamento de ninguém.

… Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça…

Nessa quarta-feira aqueles que se recusam a usar máscara continuarão assim, favorecendo a circulação do vírus. E justificarão sua atitude baseadas em disse-me-disse doméstico no WhatsApp, o espaço de fofoca da era virtual. Esse mesmo espaço onde irão circular vídeos de “profissionais” (entre aspas, pois são assassinos) que fingem vacinar idosos. E entre um copo de cerveja e outro, nas esquinas de São Paulo e de outras cidades, discutirão acaloradamente os destinos dos participantes do BBB e, entre um “Vai, Corinthians!” e outro “O Palmeiras não tem mundial!”, seguirão a vida rumo à Pascoa, período que deveria ser de excelência em mudanças, mas que será mais um marco do mesmo.

Tenho refletido sobre o que poderia vir a sensibilizar as pessoas. Nosso país tem absurdos tais em que o governo oferece via comercial de TV um curso de educação “baseado na ciência”. E ante a angustiante falta de vacina, o contraponto é a liberação da compra de seis, SEIS, armas de fogo por pessoa. A mensagem sugerida é a de que quem pode comprar mata quem não pode? No mínimo domina e faz calar a boca.

…Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais…

É complicado viver com o inimigo logo ali, além da porta. Está no outro e, na impossibilidade de detecção, todos os outros são os portadores do vírus que mata. Há sobreviventes, dizem alguns. Mas, como saber que estaremos entre os sortudos? A presença de uma vacina à conta-gotas faz aumentar a ansiedade entre a perspectiva de fim de prisão e o receio de morrer na praia, olhando o calendário e contando os dias que faltam para chegar a nossa vez: de morrer ou de nos vacinarmos.

E, no entanto, é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade…

A gente vive não só de teimosia, mas da lembrança do olhar de mães que nos disseram que estava tudo bem, da segurança que nossos pais nos transmitiam guiando-nos nas travessias perigosas. Esses seres humanos que nos ensinaram a confiar na justiça divina, seja via Deus dos Hebreus, seja via Xangô ou a Lei do Retorno. No merecimento de uma vida melhor, conforme o que cada religião prega. E, ante o desconhecido e a incerteza do que nos virá, melhor é ficar por aqui, com nossos irmãos, com nossos amigos. E é por isso, talvez, que a gente luta e não desiste.

A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar…

Ano passado, ingenuamente, pensamos ser breve os anunciados quinze dias de uma quarentena que permanece. Agora temos a vacina em andamento e espero que todos tenhamos o direito de tê-la em nossos corpos, que é o que realmente interessa. Talvez, essa quarta-feira, esse período de quarentena que antecede a Páscoa, seja realmente a passagem para um mundo sem medo. Então, certamente lembraremos desta como a mais cinza, entre as quartas-feiras de cinza que, graças aos céus, aos santos, aos deuses, aos orixás… virou cinzas, ficou no passado.

Notas:

A foto acima foi feita em Recife, o mestre Luiz Gonzaga na praça.

A Marcha da Quarta-Feira de Cinzas é música de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes. Ouça a canção! É linda e cheia de esperança. A gravação que escolhi é de Elis Regina, na primeira fase de sua carreira, no Fino da Bossa.

Petit carnaval do nosso Trem

Um carnaval possível nesse momento! Fernando Brengel, o rapaz atrás dos óculos sem lente e dos óculos com lente, primeiro da foto acima, conduziu o Trem das Lives deste domingo. Sem querer querendo, o Trem das Lives reuniu convidados que participam do carnaval paulista, resultando na presença de quatro queridas e grandes escolas de samba da nossa cidade.

Amanda Salles, na foto acima ao lado do Brengel, é destaque da Rosas de Ouro e evidencia em cada fala um profundo amor pela escola. Lembrou momentos legais e outros de sofrimento, mas que mostram a relação dos integrantes com suas agremiações. Atenção para a palavra destaque: Amanda é linda!

O casal Rafael Nascimento e Walquíria Silva, responsáveis pelo camarote e Júri do Troféu nota 10, e pela organização e realização do evento da premiação durante 13 anos, tem histórias para dez lives sobre esse Prêmio, sobre histórias de carnaval. Um casal respeitado e querido pelos sambistas de todas as escolas.

Carlos Ono, que já estudou Propaganda e Marketing conosco, é típico representante de uma expressão muito comum em São Paulo, “tem japonês no samba”. O rapaz é descendente de japoneses, apaixonado pela Império da Casa Verde, escola que defende com garra.

Alexandre Cremonini Furniel é folião apaixonado e foi o nosso anfitrião na Acadêmicos do Turucuvi. Levados por ele, Fernando Brengel e eu desfilamos pela escola em carnavais inesquecíveis! Alexandre aproveitou para nos contar sua experiência com desfiles cariocas.

Finalizando a foto, Bob Valdo, que não canta reggae, mas que adora Bob Marley e que promete sair mais ou menos assim no próximo carnaval…

Veja detalhes dessa live gostosa via link abaixo! Aproveite a festa com a segurança necessária, fique em casa e seja responsável! E, também, atento para a próxima viagem do Trem das LIves.

Carnaval no Trem das Lives

O Trem das Lives desse domingo vem com carnaval e samba de campeão!

O destaque fica por conta de Eduardo Santos, Presidente do GRES Acadêmicos do Tatuapé. Um homem devotado à Escola e ao carnaval.

Para garantir a evolução nota 10 do programa vamos conversar sobre os efeitos da pandemia, as soluções possíveis, assim como conversaremos sobre o que podemos esperar para o carnaval de 2021

Venha para esse ziriguidum repleto de animação.

Domingo, 17.01.21, 18h00

instagram.com/tremdaslives

Carnaval, trabalho e amor

Acadêmicos do Tatuapé em desfile de 2016 – Foto arquivo pessoal

Como estão sobrevivendo os profissionais que fazem o carnaval? Fornecedores de matérias primas para fantasias, para carros alegóricos, instrumentos musicais… A lista é bem maior, pois envolve oficinas de costura, de adereços, além de uma infindável lista de trabalhadores: escultores, aderecistas, desenhistas, arquitetos, cenógrafos, carpinteiros, eletricistas, além daqueles que, evidentemente, são a alma da escola: compositores, puxadores, passistas e todos os diferentes personagens que garantem o brilho da festa.

Recentemente vi em uma live da Teresa Cristina uma belíssima cantora, sambista paulistana, dona de uma voz espetacular. Com uma garra incomum, bom humor, e sem deixar o samba de lado, a moça informou que estava sobrevivendo vendendo perfumes e fazendo faxina. Que ótimo que essa profissional está conseguindo sobreviver. A questão é que o carnaval envolve milhares de trabalhadores brasileiros.

Em outros anos estaríamos ultimando preparativos para desfiles de escolas de samba, saídas de bloco, bailes. Os ensaios estariam fervendo e teríamos as chamadas televisivas para desfiles nos sambódromos paulista e carioca. Por todo o país há milhares de pessoas que, sem carnaval, ficarão sem salários ou terão seus ganhos reduzidos.

Centralizo essa pequena reflexão nas escolas de samba, pois tais agremiações são representantes de comunidades inteiras, para as quais são prestadoras de serviço, normalmente facilitando ações educacionais, além de oferecer assistências diversas. As verbas são obtidas em feijoadas, ensaios, shows na própria escola e em locais onde são contratadas e, obviamente, verbas dos meios oficiais para fazer o carnaval e dos prêmios recebidos.

Em termos de economia os números são imensos. Em 2020 a previsão de faturamento esteve em torno R$ 8 bilhões, dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).  Há que se pensar que o evento gera milhares de empregos temporários nos meses de janeiro e fevereiro, quando pensamos em ambulantes, prestadores de serviços diversos que auxiliam no bem-estar dos foliões garantindo alimentação e objetos de consumo imediato. Isto sem contar o setor de transportes e toda a cadeia turística que envolve passagens, estadias em hotéis e pousadas e vagas disponibilizadas no mercado informal… a cadeia é imensa.

Por todo o Brasil há gente sem trabalho por conta da pandemia. Chamo a atenção para o pessoal do carnaval, especificamente das Escolas de Samba, pelas características peculiares que, embora assinaladas acima, cabe reiterar:

Um desfile no sambódromo coloca uma comunidade na passarela! Dos mais antigos, a Velha Guarda, às alas infantis passando por ritmistas, exímios bailarinos nas Comissões de Frente, nos casais de Mestre-sala e Porta-bandeira, na ancestralidade presente representada pela Ala das Baianas, todo o pessoal de apoio, empurrando carros e comandando alas e, não menos vital, a força das alas de anônimos personagens cantando com garra e alegria o amor pela agremiação. Toda essa gente pulsando ao som de uma bateria que mexe com nossos sentidos e emoções, fazendo-nos cantar e dançar seguindo os puxadores de samba, levando versos dos compositores da escola para a busca de um campeonato.

Gosto de blocos, aonde vou para me divertir. Amo escolas de samba porque vejo no Sambódromo a diversão tornada amor por uma agremiação. Respeito cada integrante, seja da escola campeã ou daquela, pequenininha, que chegou aos grupos prévios sonhando desfilar entre as grandes.

No Sambódromo, gosto de observar o sujeito fazendo uma força enorme para empurrar um carro alegórico e, sem deixar o sorriso, solta as mãos por alguns segundos, dança, canta, acena para a plateia e volta ao trabalho. O tempo não pode ser perdido e estar dentro do tempo garante pontos preciosos na luta pelo campeonato. Quero destacar esses profissionais por serem o mais visível do trabalho pesado que é fazer uma escola brilhar.

Como será o Carnaval em 2021? Entre os cancelamentos oficiais – que impedirão escolas de fazerem seus trabalhos – e as desobediências de civis que saracotearão por aí, quero alertar para os profissionais que fazem uma Escola de Samba e são a razão de ser do nosso carnaval. Pedir todo apoio ao povo do carnaval, aos profissionais de todas as escolas de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Brasil.

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NOTA: A imagem da Acadêmicos do Tatuapé é para lembrar que no próximo domingo, no Trem das Lives, receberei Eduardo Santos para um papo sobre Carnaval e a situação atual em função da pandemia. Todos estão convidados!

Domingo, 18h Trem das lives

instagram.com/tremdaslives

Entre Reis e o Carnaval

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Que tempo é esse, entre os Reis e o Carnaval? (Foto: Flávio Monteiro)

Passado o dia de Reis, 2017 é página virada. Bem verdade é que ainda falta o carnaval para que 2018 comece. Resta saber que tempo é esse, entre os Reis e o Carnaval onde, com muito receio constatamos o pouco que é mudar data, mês, dia ou ano. Tantos bons augúrios desejados para o país, para todos os habitantes… Junte-se muitas doses da bebida preferida às boas intenções e até inimigo foi agraciado com o desejo de um feliz ano novo. No entanto…

Deseja-se tanto em dezembro que a virada do ano e o subsequente quase nada diferente nos deixa com uma sensação de frustração, incerteza, vazio. Parece reprise as notícias de impostos, as chuvas, as tramoias políticas visando eleições; e omissões, várias, de todos os tipos como o que ocorre com a chamada grande imprensa que, por exemplo, deixou de citar a primeira dama, jogando a bela loira num ostracismo inquietante? Omissão leve esta, mas é começo de ano; vamos devagar.

A sensação de mesmice deste janeiro está maior que as anteriores? Não sei se pelas chuvas, se por não estar viajando em férias, ou se pela vinheta de carnaval da “globeleza”, feita de tal forma que parece que usaram sobras da anterior. Também por que há praias cheias, chuvas, aumento de tarifas… Mesmice! Outros dirão que está pior, dado à quantidade de gente duvidosa assumindo ministérios e outros cargos… Todavia, é histórico: quando não tivemos criminosos em cargos públicos?

Há tanto para dizer que mudou quanto para afirmar que permanece a mesma coisa. E essa constatação que se repete nesse tempo, entre Reis e Carnaval, não é para pessimismos drásticos muito menos otimismos obsoletos. É um lento balde de água pós carraspana de virada do ano, pelos excessos das festas, para que todos coloquem os pés no chão e continuem, como sempre, na luta por melhores dias, melhores tempos.

Tudo vai continuar. Tudo vai mudar. Tudo vai dar certo, é só esperar o carnaval passar… Ou não! É o que diria Caetano Veloso (Muito bom citar Caetano!).

Até mais!