É Copa. E vou torcer para a Argentina. Soy sudamericano!
A camisa de Pelé, no museu da Bombonera, de um jogo de 1963 pela Libertadores.
A unidade do nosso continente aprendi com Mercedes Sosa e por isso é a mais representativa de nossas cantoras. No palco, La Negra cantou pela união de todos nós, os hermanos. Impossível não se emocionar com as canções dos chilenos Victor Jara e Violeta Parra, dos argentinos Atahualpa Yupanqui e Charly Garcia, dos brasileiros Chico Buarque e Milton Nascimento… a lista de exemplos é bem mais extensa.
Essa atitude da cantora em unir a América do Sul não é isolada. Foi visitando diversos museus argentinos que tive a oportunidade de constatar a presença de artistas sul-americanos raramente vistos em museus brasileiros. Detalhe: em um dos principais museus de Buenos Aires, o MALBA, encontrei em destaque o Abaporu, de Tarsila do Amaral. Lá também estavam Hélio Oiticica, Di Cavalcanti, Lygia Clark. Uma sensação boa de orgulho do meu país. E dos mexicanos, cubanos! Da América Latina, da América Espanhola.
Em belíssima exposição no subsolo da Bombonera, o estádio do Boca Juniors, vi imensas fotos de Maradona e, destacada em uma vitrine, uma camisa de Pelé! O Brasil e a Argentina são países irmãos, a despeito da rivalidade incentivada por comentaristas de futebol.
Euzinho na Bombonera, deixando claro na pose e na fatiota que não jogo bola.
Em casa sempre tivemos ânimos alterados na hora do futebol. Meu pai, meus irmãos, minhas irmãs, os sobrinhos… Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Flamengo, Cruzeiro, Atlético, Santos! Fui habituado a receber um telefonema quando o Corinthians vencia. Sem palavras, ouvia-se o hino. Depois vinha acusações do tipo “foi roubo”, “juiz ladrão” e, logo depois, voltávamos ao normal. Somos irmãos. Somos uma família.
O futebol é uma metáfora de uma batalha pelo domínio do território inimigo, avançando sobre esse e deixando lá o gol, sinal inequívoco de superioridade. Vale repetir: é metáfora. No entanto é o momento em que ao mundo se impõe algumas verdades e, entre essas, uma incômoda aos ingleses “pais do futebol”: Criaram, mas o penta campeonato é do Brasil. Faz ou não um bem para a alma?
Escrevo este post sabendo que o Marrocos não está entre os três primeiros lugares. Uma pena! Seria ótimo que o mundo se voltasse para um time africano, campeão. Amanhã teremos a final da Copa do Mundo. Na ausência do Brasil escolho facilmente um lado. Escolho o nosso, de gente sudamericana! Assim mesmo, na língua dos hermanos. Soy sudamericano! Que vença a Argentina!
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PS 1: Este post é dedicado ao meu brother Fernando Brengel, a quem eu disse há vários dias que a Argentina venceria esta Copa. Gostaria que o Brasil fosse o vencedor, mas vendo o andar da carruagem já intuía que não venceríamos. Pode ser que eu esteja errado, mas continuarei torcendo pela América do Sul, parte que nos cabe nesse imenso planeta chamado Terra.
PS 2: Em campo é lindo ver quando Messi conclama à luta, tal qual Mercedes Sosa, no palco, nos conclamava à união.
PS 3: O título “Toda a pele da América em minha pele!” é verso da música “Canción con todos”, que deixarei abaixo, para que ouçam e recordem Mercedes Sosa.
Copa do Mundo? Abaixo uma, entre milhões de outras histórias.
1955 – Nasci, um ano depois de a Alemanha ganhar sua primeira Copa do Mundo.
1958 – SUÉCIA – Havia o rádio. E alguém falava rápida e desesperadoramente. De vez em quando as pessoas gritavam, mas em algum momento meu pai saia para o quintal e soltava fogos. Os vizinhos soltavam fogos, o bairro, a cidade. Minha mãe ou uma das minhas três irmãs prendiam-me, já que aquilo era perigoso. Meu irmão podia acompanhar meu pai, segurando os canudos que faziam enorme barulho. Como o fato era comum, ou seja, ouvir um cara desesperado falando aos borbotões e ver meus familiares gritando ou não durante a coisa, aprendi meio que por osmose que aquilo era futebol. E nós, do Brasil, éramos Campeões Mundiais. E meu primo Poy, o Oswaldo, era goleiro do Uberaba Sport Club. E meu irmão Valdonei jogava no time do Hermes, o Estrelinha.
1962 – CHILE – Já foi bem mais interessante. Eu sabia o que era o futebol, embora não jogasse por jogar mal. Gostava de pegar a bola com a mão e, mesmo assim, não fui goleiro. Meu primeiro ídolo foi Gilmar, um goleiro sensacional. Ele pegava bolas nas partidas que ouvia no rádio e, no mesmo dia, à noite, pegava outras bolas no jogo que passava pela TV. Eu não tinha noção de a transmissão do rádio acontecer simultaneamente à partida e que, na televisão, era videoteipe. Diferença que me passava desapercebida: quando pelo rádio, meu pai mantinha o lance de soltar fogos.
Meu segundo ídolo foi Garrincha e, com ele, o substituto de Pelé, o Amarildo. Havia um Vavá, mas só vim a ser chamado assim bem depois. Muito depois dessa Copa conheci Djalma Santos. Estive no velório dele, em Uberaba, e fiquei decepcionado ao ver o “falatório” de matracas presentes. Falta de respeito com o grande jogador. Sorry, Pelé, mas na “minha” primeira Copa, com consciência de ser um evento de tal porte, Garrincha e Amarildo brilharam. E o Mané, com seus dribles engraçados, fazendo gringo de besta ganhou minha admiração e predileção para todo o sempre. Salve, Mané Garrincha!
1970 – MÉXICO – Ali já estava definida uma postura que assumo ainda hoje. Contra a toda poderosa Europa, colonialista cruel, cabe impor derrotas onde nos é possível. Dessa feita foi a Itália “humilhada” pela seleção canarinho, o que já havia ocorrido com a Suécia em 58 e com a Tchecoslováquia em 62. E sem o Brasil no páreo, minha torcida vai para a América do Sul. E nesses tempos atuais, vai para a África, a Ásia. Europa, não! (antes de terminar este a Argentina mandou a Holanda polir seus tamancos em outra freguesia! Bravos!)
Em 1970 já tinha noção básica do uso que se faz do futebol em situações diversas. O lema “Brasil, ame-o ou deixe-o” era algo estranho, já que vizinhos haviam desaparecido em – soube depois – prisões militares, assim como a polícia política esteve na casa de outros vizinhos revirando tudo, rasgando livros, levando outros embora. Em 70 sentia também a diferença brutal de tratamento entre as diferentes modalidades esportivas. Não fui goleiro, mas pratiquei vôlei. Para quem viveu essa época sabe a merda que era. Primeiro, o futebol. O “resto” era resto mesmo.
Dane-se, o planeta e todos os problemas sociais: ter um time com Pelé, Tostão, Rivelino, Jairzinho, Gerson, Carlos Alberto, Félix… Esses nomes estão na memória e ser Tricampeão Mundial é lembrança de sonho, de festa.
1994 – ESTADOS UNIDOS – Me parece que essa história de jogador de futebol acreditar que visual ganha partida começou mesmo foi com o Dunga, e seu cabelo esquisito nos EUA quando fomos Tetra. Bom, fez escola, é só ver os jogadores de hoje em altas transações visuais… E cada um sabe a dor e a delícia de um cabelo, uma roupa, um parangolé! Sejamos felizes!
Lembrança boa mesmo é do Branco chutando de longe e marcando um gol em cima da Holanda. Romário que era certeza de gol me faz, até hoje, repetir um “se fosse o Romário não perderia esse gol”. E tinha o Bebeto, que segue na vida com a dignidade e a postura que teve em campo. E o Taffarel!? Um amigo de infância, lá em Uberaba, homenageou o goleiro logo no nascimento do primogênito, um Taffarel mineirinho.
Aquele cara lá, da Itália, que errou o pênalti, não teve a benção do Papa? Baggio perdeu em um momento crucial. Eu tenho um pé atrás com o Zico, quando perdeu um pênalti em 1986 para a França. Faz muito tempo, mas magoou! Logo você, Zico?
2002 – COREIA DO SUL & JAPÃO – Todo palmeirense que se preza gostaria de canonizar Marcos, o São Marcos que foi goleiro do Pentacampeonato Brasileiro e megacampeão no Palmeiras. Vi o goleiro em campo e em pizzaria, lá em São Paulo. Cordial e educado, com a tranquilidade dos campeões e dos grandes atletas. Nunca me pagou uma pizza!
São lembranças pessoais e eu, que havia dormido na final da Copa anterior, 1998 na França, vencido pela cansaço e momentaneamente pela vida, durante a Copa, presenciei cenas absurdas, algumas registradas nas peripécias das personagens do meu primeiro romance “dois meninos”. A vida me fez ver tudo diferente e eu estava bem escaldado dessas coisas do esporte. Todavia…
Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, Roberto Carlos, Roque Júnior… Um time de “erres” brilhantes e inesquecíveis. Guardei na memória as arrancadas de Ronaldo, a alegria, competência e o sorriso de Ronaldinho, a força do chute de Roberto Carlos. Sem desmerecer os demais, mas lembranças são assim mesmo.
Enfim, espero estar vivo quando chegar o hexa. Ele virá. Por enquanto vou homenageando todos os jogadores de todas as épocas da seleção, inclusive daquelas que não venceram uma Copa. Esses atletas nos dão alegrias de uma tal forma que, quando perdem, preferimos odiar os técnicos. Os mesmos técnicos que não citei por não citar mesmo. Não guardei os nomes, lamento. Estou supermegahyper odiando um técnico que, certamente, é motivo de outros ódios.
Técnicos e cartolas sobrevivem na história oficial, na cabeça dos “amantes do futebol”, daqueles que têm imensa e doentia paixão (Valeu, Neto! Adorei ver você sintetizando toda a nossa loucura por futebol! Que piti, meu irmão! Bom demais lavar a alma!).
Gente como eu guarda, na memória para esta e outras vidas, cinco figuras muito especiais, elegantes, heroicos. Aqueles que tomam a taça e a erguem para a nossa inenarrável alegria. Bellini (1958), Mauro (1962), Carlos Alberto (1970), Dunga (1994) e Cafu (2002). Quem nunca sonhou estar no lugar deles?
Acabando mesmo: Devemos agradecer aos deuses. E pedir perdão. Nunca deixar de pedir perdão. Como podemos merecer a vitória em uma Copa quando em nosso território foi roubada a Taça Jules Rimet? Os deuses são bons. Tanto que nos permitiram duas vitórias após esse triste fato que, registro, para deixar bem claro o lado nada bom que nós, brasileiros, temos. Mas, os deuses esquecem e, acreditem, o hexa virá.
Não foi a primeira vez que se teve notícia desse tipo de acontecimento. Toda vez que o resultado político desagrada certo tipo de gente os Ets aparecem. É só procurar que os relatos são inúmeros e as aparições de luzes em movimento nos céus do Rio Grande do Sul não foram as primeiras. Voando a noite sobre Porto Alegre, por dias consecutivos pilotos em serviço informaram comandos terrestres sobre diversas aparições de objetos luminosos não identificados.
Tia Ademilde soube pelo grupo do Zap, mistura de família, vizinhança, vendedoras de perfumes e oportunistas de várias possibilidades, entre essas as políticas. “Os Ets chegaram. Não deixarão Lula assumir. Estamos salvos!” A notícia veio acompanhada de relatos de visitas anteriores durante eleições americanas, guerras provocadas por europeus e outros tais. Junto aos assuntos veio um, tenebroso: Vieram para destruir o planeta. Até Nostradamus previu!”. O fim do mundo bateu fundo para a tia. Nem Lula nem ela veriam 2023!
Próxima dos 70, corpinho de 50, Ademilde tem se ressentido com a vida. Viu chegar a idade cuidando de pais, irmãos, sobrinhos, amigos e foi uma luta insana por liberdade de ir e vir, namorar, ser feliz. Quando se viu em condições de mandar seu mundinho às favas veio a pandemia. Mais dois anos de reclusão quando viu-se morando só, os últimos dependentes levados pela doença que, dizia o grupo do zap, era invenção da televisão. O que a fez aguentar o tranco foi o lero-lero da conversinha virtual cotidiana através do que mantinha contato com dezenas de pessoas. Entre essas um viúvo que Ademilde, tomando coragem em noite triste, chamou para uma conversa por vídeo. O papo terminou em safadezas inconfessáveis, mas permitidas para gente adulta.
Se o mundo estava para ser dizimado por Ets, só restava à tia aproveitar. Tomou três doses de conhaque para tomar coragem e chamou Lázaro, o viúvo, indo direto ao ponto: “Se o mundo vai ser destruído pelos Ets é melhor a gente aproveitar. Venha! Estou te esperando”. Lazinho estava mais para calmaria do que para noites calientes. Tentou argumentar com Ademilde, lembrando a música de Assis Valente sobre o fim do mundo na voz de Carmen Miranda. Aquilo não seria a “conversa mole” da canção? A tia, ansiosa, gaguejou ao argumentar usando Nostradamus e, convicta, brincou com um “nostransamos” antes de morrer. “Venha logo!”
Lazinho passou na farmácia e, mediante o preço do Viagra, desgraçou o governo por “armar” seletivamente a masculinidade necessitada do estimulante. Somente militar carece do estimulante? Absurdo! Escondeu o preço do prazer de Ademilde e engoliu o comprimido antes de tocar a campainha, sendo recebido com o que a tia podia mostrar, um enorme decote e saia muito curta. A mulher notou o olhar de aprovação do convidado e mentalmente agradeceu à Hebe Camargo, de quem aprendeu uma velha máxima: só mostre o que está bonito! Ofereceu um drink para o convidado.
Foi o primeiro encontro presencial entre o casal. O viúvo, não tão alcoolizado quanto a anfitriã, observou a casa, elogiou a decoração, perguntou sobre fotografias expostas. Ele precisava de um tempinho para que o comprimido fizesse efeito e pediu licença para dar uma olhada em um dos grupos do zap parecendo chamá-lo. Era uma gravação com mensagem de um amigo petista do viúvo, preocupado em desfazer mentiras circulantes: “-Lazaro, tudo bem? Você não caiu nessa de disco voador em Porto Alegre, né! São reflexos de luzes em satélites. Deu no jornal. Nada vai acontecer com Ets”.
Acreditei nessa conversa mole
De que o mundo iria se acabar
E fui tratando de me despedir
Fui tratando bem depressa
de aproveitar…
O casal ouviu a notícia feito balde de água fria. Não tinham mais motivos para possíveis safadezas de fim de mundo. A Tia Ademilde não se conteve: “Malditos Ets! Não servem para merda nenhuma”. Lazinho sentiu o efeito do remédio movimentar suas calças e a situação o excitou mais ainda. “Como assim, não servem, Ademildinha! Veja, olha aqui como estou!”. E os dois embarcaram na galáxia do prazer, um fazendo ao outro ver estrelas, discos voadores, satélites, Ets…
Dia seguinte, antes mesmo que fizessem promessas de mais noites de fim de mundo veio outro desmentido do desmentido pelo mesmo grupo. O mundo não iria acabar, mas estava garantida uma troca de corpos. Lula não iria assumir! Os Ets colocariam outro no corpo do presidente eleito. Ademilde, feliz e satisfeita, gostou dessa ideia de entrar no corpo, colocar coisas no corpo, trocar, compartilhar, ser feliz. Marcou com Lázaro futuros e sigilosos rounds, pois perante os amigos do grupo de zap ela insistia em manter o que chamam de decoro, recato. Afinal, são todas pessoas de bem. Família!
Tem sido assim desde então. A tia não entrou nessa de enviar código Morse para Ets com celular ligado sobre o cocuruto. Prefere chamar Lazinho para papos além do Zap. O último dilema do grupo virtual veio com a Copa do Mundo e as viagens luxuosas ao Catar de alguns enquanto outros enfrentam tempestades e banheiros químicos entupidos. Ademilde e Lazinho, sem remorsos, permanecem quentinhos. Seja no recôndito do lar, via vídeo, seja presencialmente, sob as cobertas. Vivem noites felizes e cheias de ação.
Não tem pra ninguém. Daqui para a frente a prioridade e a estrela máxima passa a ser a Copa do Mundo. Tempo e espaço utilizados para a divulgação da escalação de Tite são os melhores indicadores de quem é que irá dominar o noticiário. Não adianta a atriz ajoelhar levantando aos céus imagem e preces a Nossa Senhora. Nem mesmo a presença de Lula no Egito. Nada hoje foi mais importante que os jogadores que tentarão o hexa.
Primeiro grande problema: Philippe Coutinho está no álbum, mas ficou de fora da escalação. Figurinha inútil tanto quanto o terceiro p incluso no nome, entra para a história dessa competição como o azarado que se machucou. Outros problemas virão e, a gente espera, nada tão desolador quanto morrer na praia. Que todos embarquem e partam em busca do primeiro lugar. Todos! Mas…
Sem polêmica não seria escalação para a Copa. Assim, é o que percebo, Daniel Alves passa a ser a escolha mais discutida do momento. Figurinha que esteve no álbum e ficou de fora em 2018, ele está com 39 anos e isso parece ser um problema seríssimo! Não tanto quanto o problema que são os 38 anos de Thiago Silva. Digo isso por terem questionado o Tite pelo primeiro, não pela convocação do zagueiro. Thiago perdeu três Copas! E vai de novo!
Até parece que eu entendo de futebol. Não entendo “p.” nenhuma. Talvez por isso me seja fácil perceber que Galvão Bueno apostou na escalação de Roberto Firmino e o casal que o acompanhava no estúdio concordou com ele. Tipo se é para errar vamos com o chefe. Erraram. Eu senti falta do Gabigol. Do Flamengo foram escalados Everton Ribeiro e Pedro. Do Palmeiras, o Weverton.
Ao notar a escalação de Weverton, não deixei de notar outros nomes dignos de uma escalação do Stanislaw Ponte Preta: Militão e Paquetá. O Militão é o zagueiro que deveria estar como meio-campista, que é lugar ideal para militar um “avante povo rumo ao gol”. Já Paquetá (esse nome é o máximo!) deveria sair do meio campo e ficar como zagueiro. Um zagueiro “paquetá” atacante adversário…
Bom, reiterando, nosso noticiário fez com que a lista de Tite fosse mais importante que qualquer outra coisa no planeta. Vide os raros minutos dados ao COP 27, a Conferência do Clima da ONU. Também mereceram espaços menores a prisão do político estuprador de uma menor, a morte do assassino da Daniela Perez e o julgamento da pastora envolvida no assassinato do marido. No meio de tudo, o cara que acabou de perder as eleições deve estar comemorando a Copa, com esperança de que esqueçamos as listas de sigilos que nos foram impostas, ou que não continuaremos exigindo justiça em relação aos crimes cometidos durante a gestão ainda por terminar. Copa à parte, anistia jamais!
Para fechar o início da semana com o bom astral esportivo, presto homenagens para nossas duas campeãs mundiais: Rayssa Leal no skate e Rebeca Andrade na ginástica. Meninas feras! Quanto aos rapazes do futebol: ganhem! É o mínimo que nós, que ganhamos módicos salários, exigimos de quem ganha milhões. O que mais desejo é que nossos atletas, com os bolsos cheios do dinheiro europeu, enfiem um Hexa para a história da Seleção Brasileira.
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Notas:
Garrincha me faz parar para pensar em futebol enquanto arte e diversão. Optei por ilustrar esse texto com quem, entre poucos, que devemos reverenciar por todo o sempre.
Stanislaw Ponte Preta é pseudônimo de Sérgio Porto, grande cronista, jornalista e compositor brasileiro.
Uma personagem com o nome Paquetá apareceu também na Turma do Casseta. Um sujeito enorme armado com um porrete, sempre pronto a “acalmar” seus desafetos.
“Espinho que pinica, de pequeno já traz ponta” diz Macunaíma via Mário de Andrade. É assim: daqui há alguns séculos, aposto, alguma fã irá encontrar Roberto Carlos e implorar: Cante “Emoções”! E o artista, com vontade de fulminar a cidadã informará sacanamente dividindo o fardo: a Wanderléa está logo ali! E a fã chata correrá para a Ternurinha gritando: “Prova de Fogo”! Cante “Prova de Fogo”!
Ora, caríssimos leitores, diante desse quadro como é que a gente pode pensar em renovação? A gente bem que gostaria de mudanças, mas nem mesmo o Fausto Silva pode deixar de afirmar que “quem sabe faz ao vivo”. Se o fizer, é provável que algumas pessoas terão uma síncope, seguida de desinteria e depressão.
Parece brincadeira, mas tenho cá com meus botões que a coisa é séria. Nós, brasileiros adoramos fixar situações, acontecimentos, tendo notória lerdeza em aceitar transformações e mudanças. Há até os que preferem acreditar na Bíblia com seu Adão e Eva a aceitar a Teoria da Evolução. A monarquia, por exemplo, acabou por aqui em 1889! E a gente não perdeu tempo em compensar o trauma elegendo reis e rainhas do rádio, do maracatu, do carnaval, da bateria, da primavera, sem esquecer as majestades máximas: O Rei Pelé e, of course, o Rei Roberto Carlos!
A mais recente coroa foi para a querida cantora Teresa Cristina, a Rainha das Lives. Tetê, pois temos essa intimidade com a soberana, certamente tem aversão aos escravagistas monarcas brasileiros. O maior problema da monarquia hoje, no Brasil, se reflete no comum “você sabe com quem está falando?”, pergunta algum nobre de araque que, ao encontrar um igual costuma ouvir como resposta um nada original “com um grande merda”. Estabelecida a crise na nobreza a contenda costuma enunciar, de ambas as partes, atributos familiares da mais baixa categoria. Uma beleza!
Uma inverdade, como dizem os políticos com medo de levar umas bifas ao chamar o rival de mentiroso, ou como prefiro, um folclore nacional é que brasileiro não tem memória. Basta um meliante qualquer se vestir de padre e os fiéis filhos de Deus já saem beijando mão, pedindo a benção e acreditando em tudo o que o safado diz. É verdade que o povo religioso tem dificuldade em distinguir a Igreja Católica da concorrência, principalmente quando essa utiliza denominação similar. Também não muda o simulacro de cristão que deseja a morte do próximo, que manda pobres e doentes para longe de si, em seguida entrando no templo e rezando feito anjinho (será que anjos rezam?).
Ao que parece, memória mesmo não existe é em relação à política. Ou, vai ver, o brasileiro não dá a menor importância para os fulanos representantes que mudam de opinião com a mesma rapidez daquele torcedor que muda o humor conforme o andamento do jogo. Fortes indícios confirmam que o eleitor não se importa hoje com as alianças de seus candidatos com os inimigos de ontem. Também nosso eleitor esquece promessas, compromissos, acordos… Político pode trafegar na mais absoluta falta de honestidade que brasileiro pouco se importa, é o que mostram as eleições. Ok, estou exagerando, afinal a lista dos não reeleitos é bem grandinha, mas…
Há gente bem intencionada em nosso país que discute esquerda, direita, centro, progressistas, conservadores, mas o que não muda, de jeito nenhum na geral, na arquibancada ou perante a tv é o deixar tudo isso de lado perante um jogo de futebol. Ou o capítulo final da novela (alguém vai perder Pantanal?). Eleições com grandes quantidades de abstenções e votos em branco é fato permanente e, para não aumentar a lista quero registrar o hábito de que considerável parcela da população não consegue nem mesmo cumprir horários. O relógio foi inventado no ano 725 DC e ao mineiro Santos Dumont atribui-se a invenção do relógio de pulso, mas brasileiro acho que o outro tem a obrigação de esperá-lo! Coisa de gentalha, diria Dona Florinda, o Kiko, do Chaves e eu.
A querida e finada Elke Maravilha dizia que levaríamos uns quatrocentos anos para nos tornarmos civilizados. Tenho comigo que Elke tinha razão. Coisa que os “europeus brasileiros” odeiam é o fato de que a imensa maioria de pessoas que migraram para cá vieram porque a vida em seus locais de origem era uma merda! Mas, se acham europeus! Superiores! Esses devem odiar a cena de Bacurau, o filme em que a forasteira interpretada por Karine Teles leva um tiro na cara após afirmar ser superior aos nordestinos, pois vem do sul, é “europeia”. (Qualquer semelhança com a reação da região sul sobre os votos recebidos por Lula…).
Outra forma de superioridade é o comum “Gente de bem”. Essa categoria, nesse país, costuma roubar, assassinar, mentir, enganar, iludir… O que interessa é aparentar e usar subterfúgios para seguir em frente, mantendo essas coisas na clandestinidade. Gente de bem adora parecer, ao invés de ser. Homens pintam cabelo, mulheres fazem plástica, homens colocam prótese peniana, mulheres fazem ninfoplastia e assim, a relação de coisas que brasileiro faz para enganar o tempo só muda conforme o progresso da ciência. No mais, há pessoas que escondem a idade (isso não muda nunca?), embora estejam há cinco décadas, ou mais, presentes na mídia. O velho e imutável preconceito em relação aos velhos!
Estamos vivendo um período turbulento com o tal segundo turno das eleições presidenciais. E como as atitudes de políticos e eleitores não tem sido as esperadas ou desejadas, a tendência é chegarmos próximos do desespero. A luta está caótica! Bobagem! Acalmemos nossos corações inquietos. O que parece fim do mundo vai virar festa com o primeiro jogo da Copa do Mundo. É certo que irá rolar medo enorme de um novo 7 x 1! Mas, somos brasileiros, melhor futebol do mundo, vencer mais um campeonato vai contribuir para mudar os ânimos e manter as coisas como são. E isso sim, é triste.
No post passado assinalei algumas pequenas, mas consideráveis mudanças. Há outras e se alguém quiser comentar e dizer quais são eu agradeço. Afinal, o que não muda em mim, sertanejo desnutrido, é uma postura Macunaíma. Sou chegado ao vidão marupiara! Por isso vou parar por aqui. Ai, que preguiça!
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Notas:
As duas imagens deste post são do filme Macunaíma (1969) de Joaquim Pedro de Andrade: Paulo José e Grande Otelo são os intérpretes da personagem de Mário de Andrade.
Naquele período o país vivia a Copa do Mundo, o campeonato que estava em pleno andamento na França. O futebol era o país. Tornava-me estrangeiro ao evitar o assunto; alienígena por deixar de assistir a um único jogo. A expectativa antes de cada partida, a tensão durante a mesma e a comemoração após a vitória aqueciam os frios dias de julho. Os torcedores alucinados, consumindo rios de cerveja antes e durante cada jogo, extravasavam a tensão dos noventa minutos em carreatas barulhentas e intermináveis; após cada vitória, a cidade, vestida de verde e amarelo, dançava ao ritmo de aplausos frenéticos, tremendo o solo pelos saltos descontrolados de cada torcedor, ensurdecida pelo espocar de fogos de artifício. Minutos de imensa felicidade a cada gol.
Passado o jogo, em meio à comemoração, iniciava-se a busca dos noticiários para rever cada lance e a cata dos jornais diários para ler mais, ter mais, esticar ao máximo a alegria proporcionada pelo time nacional. As crianças viviam à procura de figurinhas para completar um álbum, com todos os participantes do campeonato; adesivos plásticos, camisetas, miniaturas de plástico dos atletas, tudo relacionado com o local do evento, a França, e às diferentes equipes, principalmente a brasileira, era comercializado. Ao abrir a janela da minha sala deparava-me com uma imensa bandeira brasileira pintada sobre o asfalto. O principal símbolo nacional, estático na rua, tremulava hasteado no topo dos edifícios, em inúmeras janelas de apartamentos vizinhos.
Sempre assim no meu país: vive-se o futebol; consome-se futebol; tudo o mais fica para depois, absolutamente colocado em segundo plano. Eu já vivera outras copas; criança, ouvia os jogos pelo rádio e acreditava ser outro jogo, à noite, dias depois, quando a televisão passava o tape. Ocorriam-me também, às vezes, lembranças dos tempos de Garrastazu Médici; o que eu tinha vivido como adolescente tricampeão e o que vim a saber posteriormente…
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(O texto acima abre o segundo capítulo do meu romance “dois meninos – limbo” lançado pela Elipse, arte e afins. Quem estiver interessado em obter o livro pode entrar em contato aqui pelo blog https://valdoresende.com/loja/ ou via e-mail: valdoresende@uol.com.br . A foto acima, que ilustra este post é de Flávio Monteiro).
País que valoriza as artes é outra coisa! Vejam essa: entrou em vigor no final do mês de junho lei que determina a exibição nas escolas de um mínimo de duas horas de filmes produzidos no Brasil. Documentários, roteiros originais, adaptações… Tudo para contribuir na formação das nossas crianças. Detalhe interessantíssimo: 43.000 mil escolas não têm televisão! 48.000 escolas não têm DVD!
Nosso país nunca deixou de preocupar-se com o ensino das artes; o problema é que primeiro entram com o bolo, para depois pensar no que comemorar. Também é possível pensar que primeiro oferecem a casa, agora quanto ao terreno para a construção da mesma… Tudo parece um jogo político onde vale o que é dito; a realidade é outra coisa. É fácil arrotar grosso e afirmar que “garantimos duas horas mensais de exibição de filmes para nossos alunos”; omite-se a falta de aparelhos e tudo bem.
Que nenhum mal informado de plantão venha creditar tal postura ao PT. A história está aí, para lembrar, por exemplo, que em 1961, foi instituída a Educação Artística em nosso país. Nesse ano estava saindo Juscelino Kubitschek de Oliveira, entrando o Sr. Jânio da Silva Quadros que, renunciando, deu o lugar para João Belchior Marques Goulart. Na lei de então ficou determinado que um único professor entraria em sala de aula para ensinar música, teatro, artes plásticas, dança, enfim todas as modalidades artísticas. A Educação Artística, por decreto, criou o professor polivalente. O resultado pode ser comprovado por aí… Temos uma população que sabe tanto de arte quanto de física quântica.
A Lei de Diretrizes e Bases vigente para a educação nacional, de 1996 (Senhores, nesta data nosso presidente era Fernando Henrique Cardoso), acabou com a Educação Artística ao determinar a volta do professor especialista em determinada forma ou expressão artística. Lindo! Se antes não tínhamos professores com formação adequada para o ensino da Educação Artística, agora não temos professores suficientes para ensinar cada uma das formas artísticas. O cálculo é interessante: temos mais de 190 mil escolas no país. Não dá para afirmar que temos 190 mil professores de música, outro tanto de dança, mais outro tanto de teatro ou artes plásticas.
Tudo indica que há uma turma que se perpetua no alto escalão da educação nacional, determinando bobagens. Não temos quantidade suficiente de professores de arte, mas temos uma lei que determina o ensino por especialista de cada uma das formas artísticas. Não temos aparelhos de televisão (olha só que precariedade!), mas temos lei que obriga a exibição de filmes.
Em passado recente diríamos: – É este o país que pretende sediar a Copa? Pois é; sediou com sucesso e, com certeza, fará uma belíssima Olimpíada. Então, enquanto aguardamos o próximo evento mundial fica determinado: Assistirão filmes na escola os alunos cuja escola tem TV. Os outros ficarão sem tal atividade. Simples assim. Afinal, é provável que esses mesmos alunos ainda não tenham tido um professor de história e cultura afro-brasileira. É! Não entendeu? Pois bem, a legislação vigente também determina um professor de história e cultura afro-brasileira nas salas de aula do país! Este é ou não é o país da Copa?