Informações Precárias

Os trens da linha 7 são velhos e com funcionamento precário.
Os trens da linha 7 são velhos e com funcionamento precário.

Segundo a Folha de São Paulo, em matéria publicada quarta-feira “A volta pra casa do Paulistano é complicada após a chuva que provocou transtornos durante a tarde e a noite…”.  Se chuva provoca transtornos o jeito é rezar pra seca total. Nossos problemas terminarão…

O mesmo jornal, em matéria online (veja link abaixo), na última quarta-feira, dia 25, segundo a assessoria do metrô (O JORNAL SÓ FALA COM A ASSESSORIA!) o tumulto na Estação Barra Funda começou quando “alguns passageiros atiraram objetos contra as bilheterias e houve alguns bate-bocas e empurrões”. O jornal completa, ainda segundo tal assessoria, que “a polícia e os seguranças do metrô foram ao local”.

Nenhuma menção a tiros de borracha contra passageiros inocentes. Nenhuma menção a gás de pimenta atirado contra a população na plataforma lotada. Nenhum comentário sobre o descaso da CPTM para com os usuários do trem da linha 7.

Um jornal que se diz sério, que alardeia “credibilidade” deveria no mínimo ouvir os dois lados. Obviamente a assessoria do Metrô nem a CPTM informaram da forma absurda de tratamento para com os passageiros, chegando mesmo a desligar o ar de vagões lotados.

Vai aqui um pequeno relato que somado ao de outras pessoas daria uma versão completa da situação:

Entrei na Estação da Luz por volta das 18h. Os alto-falantes anunciavam insistentemente a suspensão de trens da linha 7. Em nenhum momento foi informado alguma previsão de retorno ou o acionamento de ônibus para os passageiros, ou qualquer outra solução. A circulação de trens está suspensa; dane-se! É o que dá a entender as mensagens da CPTM.

Por volta das 18h50min chegou o trem na plataforma um e aí sim, foi informado que a composição iria apenas até a Estação Barra Funda. O trem estava caindo aos pedaços, como a maioria das composições que transitam pela linha 7, e o sistema de som interno não funcionava. Lotado, a viagem seguiu lentamente até a Barra Funda que já estava também lotada.

Na medida em que o trem foi entrando na Barra Funda não foi avisado aos milhares que lá estavam que o mesmo não seguiria em frente. Resultado óbvio: milhares tentando entrar à força em vagões lotados de gente que queria e precisava sair, pois o condutor do trem DESLIGOU O VENTILADOR (ar condicionado só em composições novas).

Coloquem-se no lugar de milhares de pessoas espremidas dentro de um trem, sendo empurradas brutalmente por outro tanto do lado de fora. Não há som, não há avisos de que o trem não prosseguirá. Alguns indivíduos passam mal, outros entram em desespero, outros se revoltam e estes, com o passar do tempo, começam a xingar e a dar pancadas nas paredes.

O jornal FOLHA DE SÃO PAULO, que se diz sério, informa que a polícia militar e a segurança do Metrô foram ao local. Foram! Foram sim! Com balas de borracha e tiros de gás de pimenta contra passageiros que só queriam chegar ao trabalho ou voltar para casa. Três adolescentes, vândalos, entraram no mesmo vagão em que eu estava, gritando e batendo em bancos e janelas. Estavam desarmados! Atrás deles entrou a tropa de choque, armada até os dentes. Os tiros de borracha estavam direcionados corretamente, mas o gás atingia a todos, assim como o pavor de estar encurralado dentro de um vagão.

Não me cabe julgar a ação da polícia que foi chamada para conter ações de vandalismo. Com certeza absoluta temos direito a informação correta e é o que se espera de um dos principais jornais deste país. Quais as intenções desse jornal em escamotear os fatos e informar unilateralmente? O que é preciso discutir é a incapacidade da CPTM de lidar com situações, no mínimo, corriqueiras, já que este é um país tropical e chuvas são uma constante.

A CPTM informa precariamente seus passageiros. Não é padrão disponibilizar transporte alternativo em caso de impedimento na circulação de trens? Quanto tempo leva para o escoamento das linhas do ramal 7? Porque os trens para Osasco são novos, circulam bem e continuamente e os trens para Jundiaí são tão precários e param por qualquer coisa? Para esta questão a desculpa, esfarrapada, é de que os trens novos são velozes e não conseguem manter tal velocidade com o excesso de curvas do ramal 7. Esses trens novos não podem andar na velocidade dos atuais e com isso garantir mais conforto para os usuários?

A Estação Barra Funda, na última quarta-feira, tornou-se um campo de guerra. A sensação é de que Metrô e CPTM prestam favores, quando deveriam prestar um serviço garantido pela Constituição Brasileira. Dotada de um sistema de som que poderia ser usado para orientar todos os presentes, inclusive quanto à ação repressiva necessária, omite-se e sobra então o sentimento de que os policiais não estão presentes para garantir a segurança dos cidadãos, mas apenas os interesses e a precariedade de duas empresas em lidar com algo tão natural e constante: uma chuva.

Senhores da Folha de São Paulo, que tal ouvir os dois lados de uma questão? Senhores da CPTM e do METRÔ, que tal treinar seus funcionários para lidar com problemas, informando rapidamente as possíveis soluções para seus usuários?

Até mais!

(Clique aqui para ler a publicação da Folha de São Paulo)

Coesão, ou “a vida como realmente é”

Marisa Monte em Londres. O vestido, de perto, é bem diferente...
Marisa Monte em Londres. O vestido, de perto, é bem diferente…

Proponho um pequeno exercício coletivo: primeiro todo mundo vai descontar 40% do próprio salário. Segunda ação, vamos todos usar o transporte público para ir trabalhar. Pode ser amanhã, entre 07h00 e 09h00; quem preferir pode optar pelo mesmo “passeio” entre 17h00 e 19h00. Que fique bem claro que é só uma proposta; todos podem dizer não.

Lá no Ceará, em Juazeiro do Norte, os professores da rede pública terão seus salários reduzidos em até 40%. A cidade quer se enquadrar na LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal). Aqui em São Paulo a alta do transporte público resultou que o preço da passagem foi de 3,00 para R$ 3,20.

Os professores cearenses anunciaram greve. Ocorreram manifestações em São Paulo contra a alta da passagem. E eu… Bem, no sábado pela manhã, fui visitar a exposição “Jogos Olímpicos: Esporte, Cultura e Arte” na Galeria de Arte do SESI – SP, no majestoso prédio da FIESP.  A exposição é inédita e traz o acervo do Museu Olímpico de Lausanne, na Suíça.

Lá estão os cartazes da maioria das edições do evento, as tochas olímpicas, as medalhas de ouro, prata e bronze de todas as edições e mais, muito mais. Há uniformes de atletas e materiais das diferentes modalidades esportivas. Vídeos, muitos vídeos. Uns falam sobre história, outros com reportagens como, por exemplo, a preparação dos atletas, física e emocionalmente.

Dos vídeos que parei para assistir gostei mais do que mostrou nossos artistas, ao final da última Olimpíada em Londres, quando a bandeira olímpica foi entregue ao então prefeito do Rio de Janeiro. O show brasileiro foi muito lindo. Batuque de bumbo, berimbau; batida de violão, cavaquinho e flautas, melodiosas flautas acompanhando Marisa Monte brincando de cantar Villa-Lobos. Percebi que a apresentação brasileira foi muito melhor sem qualquer comentarista de TV atrapalhando a audição do espetáculo.

Também na exposição constata-se o ditado que diz sobre gatos pardos… Ao lado do aparelho de TV que reproduz o filme da apresentação brasileira encontra-se o vestido que Marisa Monte usou no espetáculo. Sob as luzes do estádio londrino é lindo. Na real ali, dentro da vitrine, quase podendo ser tocado, a constatação é de que o efeito foi lindo, mas que o tal vestido é chinfrim, isso é…

Professores e passageiros de transporte público, recordem Micha, o simpático ursinho russo.
Professores e passageiros de transporte público, recordem Micha, o simpático ursinho russo.

Não vi o Tatu Bolinha, ou sei lá o nome que pretendem para o mascote brasileiro. Uma vez mais me encantei com Micha, que ainda faz lembrar com emoção o final das Olimpíadas de Moscou. O ursinho é destaque entre outros animais e seres estranhos, representantes simbólicos das culturas de locais onde ocorreram os jogos.

Quem chegou até aqui deve se perguntar sobre o que entendo por coesão; a tal característica textual que evidencia harmonia entre as partes de um texto; conexão entre assuntos e temas. Só que fiquei pensando: Quem realmente se preocupa com a educação deste país e com a situação dos professores? Quem, entre os que andam com seus carros estão realmente preocupados com aqueles que vão amassados dentro dos ônibus paulistanos?

Em atitude coesa com a maioria da população resolvi ignorar os problemas alheios e curtir a exposição do SESI.

O SESI é uma instituição preocupada com a educação. Tanto é que na presente exposição há um magnífico salão para encontros e oficinas. Não há um programa impresso com a história do evento, ou com os dados da exposição. Há um fôlder para crianças, com joguinhos que distraem os pimpolhos e deixam pais e mães felizes. Agora, preciso voltar aos temas iniciais…

Tenho ido para o trabalho usando ônibus, metrô e trem. A direção está no contrafluxo e isto me garante um razoável espaço para virar para os lados e, com sorte, ir sentado olhando a paisagem. Não percebo nenhuma melhoria nos últimos seis meses, nada que justifique o aumento da passagem. Percebo, por exemplo, que a CPTM e o METRÔ desligam escadas rolantes na hora do fluxo, pois isso garante maior lentidão e os passageiros demoram mais para chegar à plataforma de metrô e trem. Também colocam grades orientando o fluxo da boiada (Ops!), da grande multidão.

Quanto ao salário dos professores… Rola por aí o Plano Nacional da Educação- PNE que diz, entre outras coisas, que o professor deve ser valorizado através da equiparação de rendimento médio dos profissionais do magistério das redes públicas de educação básica aos dos demais profissionais com escolaridade equivalente. Simplificando rasteiramente, iguais salários para a categoria. Portanto, o professor do Estado do Ceará que tome cuidado, pois o corte pode atingi-lo, baseando-se para isso na tal equiparação que prevê o PNE… Algo semelhante já aconteceu aqui em São Paulo. Um político aumentou o salário dos professores de um lado. Outro congelou, até que Estado e Município se equiparassem…

Ah, mantendo a coesão deste precário texto: a exposição no FIESP vai até 30 de Junho. De segunda a domingo, com entrada franca! Todo aquele que quer ver seu filho dentro dos ideais olímpicos deve estimulá-lo visitando a exposição.

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Boa semana para todos.

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