Arte e a Bienal

Arte não é religião. Isto implica que sacralizar a obra de arte é, no mínimo, uma bobagem. Esta é uma premissa básica para estabelecer uma possível relação com o produto artístico. Sem medo de duvidar, de questionar, de inquirir e, também, de ficar irritado, assumir um blasé básico ante um déjà vu… como, por exemplo, as bacias na atual Bienal de SP, com uma composição e posição da coisa que lembra monitor de tv antiga. São pias, fechadas com um charuto. E a gente já teve outros objetos de banheiro, no século passado, expostos por aí.

Arte é reflexão. Além de muitas obras de artistas negros, ou com elementos de raízes africanas, há algo perceptível para quem entra pelo grande espaço expositivo. A considerável quantidade de monitores e guias também afrodescendentes. Que ótima visão! Conversamos com uma em especial que, educadamente, avisou minha amiga que tal obra não poderia ser fotografada. Uns nus femininos.

Doido essa história de fotografar uns, outros não. E as “proibidas” mostravam mulheres nuas. Mulheres e seus corpos explorados… Outro déjà vu que carece de discussão, mas aqui, vou bancar o “antenado” e aguardar opiniões de quem tem “lugar de fala”. Na verdade, preguiça danada para essa coisa antiga, de quando pintaram nus sobre relvas, majas desnudas… tão velho!

Arte é libertação. Um meio de expor e expor-se, ganhar novos mundos, conhecer outros, vivenciar experiências inéditas. E após um ano e tantos meses de quarentena, caminhar entre várias proposições diversas, ricas em forma e conteúdo, a sensação imediata é de que arte é para ser feliz. Livre e feliz! Ops! Há muitas salas fechadas, escuras, com vídeos…

Para quem está há tanto tempo em quarentena, preso a telas de tamanhos diversos, a fontes várias entre as possibilidades virtuais, a presença de inúmeras salas escuras e seus vídeos constituíram-se em acinte! “– Que falta de sensibilidade, senhores! Vou sair de tanto tempo fechado para entrar em sala escura? Me poupem!” Brinco novamente de antenado e fico “revoltinha”, cheio de “mi mi mi” e assumo meu lado “adolescentão”:  Não entrei em nenhuma dessas salas! Sala, só a vermelhinha, com a caixinha de tule, e eu lá dentro vendo as mudanças que a caixa provoca.

Arte é diversão. Que maravilha poder caminhar pelos imensos corredores, fazer cara feia para os quiosques de vendas com preços abusivos (aliás, o entorno do prédio parece a Rua 25 de Março em dia de festa! Só tem ambulant… ops, foodtruck). Continuando, é muito legal constatar um monte de artistas que, sem medo de me expor, penso: “- Que sujeito perturbado!” E saio rindo, buscando a próxima obra. Com amigos, entre pessoas VACINADAS! Sem comprovante não é possível entrar no local. E a brincadeira continua com uma obra, com outra. Esqueço minha idade e saio rodopiando ao filmar um objeto multicolorido, terminando por ficar tonto, tendo de me apoiar para não cair.

É bom que arte seja acessível. Não se paga ingressos nesta Bienal. Arte é liberdade de ir e vir, evitar o que de antemão não nos atrai e parar, quanto tempo necessário diante do que nos agrada.

E assim concluo uma primeira impressão, de uma primeira visita. ARTE NÃO É CONSUMO, a gente volta pra ver, rever, repensar, discutir, refletir… E o que não foi legal, passa a ser ótimo, o bom vem a parecer medíocre e por aí vai. Só não pode é sacralizar. Santo é coisa de Igreja.

Bora pra Bienal. É da hora! É crazy! É supimpa! Bacana! Top! Massa! (a gente sai de lá assim, brincandinho! Grato por estar vivo, viver em São Paulo, nesse Brasil mais perturbado que artístico.

Fui! Mas voltarei. Aqui e lá, na 34º Bienal de São Paulo.

Meus livros e leituras

Página do Instagram onde o autor se propõe a indicar livros e autores, “meuslivroseleituras” relata viagens literárias e expõe um diário de leituras. Meu e-book, A Sensitiva da Vila Mariana, foi lido e comentado.

Feliz com a iniciativa do Edson Benedito Taborda, o dono da página, agradeço sinceramente e compartilho com vocês, aqui do blog. Ao mesmo tempo deixo um convite neste link para seguir e conhecer as demais indicações em “Meuslivroseleituras”.

A Sensitiva da Vila Mariana – Valdo Resende

Acredito que já tenha deixado claro por aqui o meu gosto por contos, e logo que tive oportunidade quis conhecer os contos do Valdo, que foram publicados pelo autor em um blog a partir de 2008 e depois selecionados para esse livro, além do último que é extremamente atual, se passando nessa situação atual que passamos, e cara, o que falar desses contos?

Foram extremamente cativantes pra mim, com um humor refinado e do povão ao mesmo tempo, uma leitura rápida, divertida, interessante, terminei a leitura com um sorriso de satisfação, e com o sentimento de os personagens serem meus amigos, pessoas que eu poderia encontrar na rua hoje mesmo, pois senti as situações como reais, nada de absurdos.

Uma leitura eu diria bem realista (embora elas gostem de uma extravagância hahaha) tive o prazer de conhecer nesses contos três grandes amigos, Vanilda “a Tatuada”, Vadico que é também o narrador das situações, e Maria Aparecida com seus croquetes, que deveriam ser deliciosos e eram a porta de entrada dela em todos os lugares que desejasse, ao terminar bem gostaria de aumentar esse grupo me tornando um D’artagnan dessa equipe \o

Edson Benedito Taborda

Narciso, estou na tv; mas não levo o prêmio

Narciso. O que vemos quando olhamos a TV?
Narciso. O que vemos quando olhamos a TV?

 

Hoje recebi uma solicitação com cheiro de ameaça, de recriminação. Algo tipo “quero só ver até quando você deixará de opinar sobre o BBB”. Revidei, quase asperamente, que meu silêncio sobre o tema já é uma tomada de posição. E pensei em repetir as ladainhas costumeiras tipo “desligue a televisão”, “mude de canal” e etc.. O poeta José Régio,que admiro, escreveu: “só vou por onde me levam os meus próprios passos…”. Portanto, posso começar pedindo para que deixem o BBB em paz.

Para criticar um “reality show” o correto é estabelecer um padrão (do que seja um bom programa desse tipo), ou buscar uma base que sustente comparações. Sabemos que um programa é ruim, porque temos noção do que seja um programa bom. No caso do BBB, me parece que a Rede Globo dá de dez a zero na concorrência e até na matriz, de onde veio o programa. Ou seja: o programa é bem feito, bem editado, bem comercializado, bem apresentado e, evidente, cheio de gente bonita.

Se tecnicamente o programa é bem feito, resta ir buscar o motivo de tantas críticas. Parece que o conteúdo e o comportamento, expresso pelos participantes concorrentes, seja o maior problema. Aqui cabe lembrar alguns versos de Caetano Veloso:

Quando eu te encarei frente a frente

Não vi o meu rosto

Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto

É que Narciso acha feio o que não é espelho…

Acontece – e está aqui o maior problema – que o programa é espelho sim. Um perturbador espelho de um tipo de jovem que anda por aí. Os participantes buscam de tal forma o prazer que só não são totalmente hedonistas por enfrentarem provas que provocam desconforto e não são, nem um pouco, prazerosas. Até parece que nossos jovens, fora dos espaços televisivos não saem, vorazes, buscando prazer a qualquer custo…

O que vemos é algo muito semelhante a nós mesmos.
O que vemos é algo muito semelhante a nós mesmos.

Pelo programa já passou gente de todo tipo. Semianalfabetos, alfabetizados, ricos, pobres, bonitos, feios, certinhos, desbocados, comportados, irresponsáveis… Jovens exatamente iguais aos que encontramos por aí. Nem mais, nem menos. E sendo eles mesmos concorrem ao grande prêmio que será conquistado após festas, namoros, algumas brigas, banhos de piscina, sessões de ginástica…, enfim, muito prazer e vida boa.

O indivíduo denominado BBB poderia estar entre as pessoas das relações de qualquer um de nós: irmão, sobrinho, filho, amigo, conhecido… Essa proximidade, essa semelhança, está entre o que incomoda aos críticos ferrenhos do programa?

Os concorrentes do BBB participam de festas, ganham carros e, entre outros, o prêmio máximo, “sem fazer nada”.  E há um montão de outros, aqui de fora, que também não fazem nada, exceto críticas ferrenhas, às vezes indelicadas. Resta perguntar, para cada crítico do programa, quais ações pessoais cotidianas estão sendo realizadas. Certamente leem livros, muitos livros. Nunca bebem, pois estão sempre nos cultos religiosos esperando o casamento para realizar atos sexuais para procriação. Trabalham, nas horas vagas, em asilos, orfanatos e, enfim, jamais assistem ao BBB porque desligam a TV, ou mudam de canal. É isso?

A semana está começando. Gente comum pode sonhar com a loteria. Gente jovem e bonita sonha em participar do BBB. Uns poucos estão lá e um sairá com uma bela grana. Todos os que não estão no programa podem fazer um milhão de outras coisas, inclusive ver televisão. Certo que continuarão as críticas; mas, qual a base? Qual o padrão comparativo? O que fazemos, realmente, no nosso cotidiano que nos torna diferentes de um BBB?

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Até mais!

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