Elza, para ouvir!

Eu gostaria de morrer em casa, de causas naturais, como Elza Soares. Entre paredes conhecidas, sem a frieza do quarto hospitalar, perto de pessoas da família, com lucidez e visão para identificar quem vier me buscar. Espero merecer tal graça. Quanto à Elza, fui alertado por Flávio Monteiro: “- Merecido. Ela sofreu antes, ao longo da vida, tudo o que tinha que sofrer!” Realmente, não carecia de mais nenhuma dor.

Morte, certeza que costumamos recusar, nos pega de surpresa, nos deixa meio sem rumo. E a gente toca a pensar em quem faleceu. Incomoda um pouco ler tanto sobre Elza Soares sem que citem suas canções, interpretações. Penso que a melhor homenagem é ouvi-la e, por isso, resolvi indicar sugestões de fã.

Gosto de “Boato”, música de João Roberto Kelly, na voz de Elza Soares, gravado em 1960. No final do samba Elza repete o refrão imitando Dalva de Oliveira, Miltinho e Alaíde Costa. Um absurdo potencial de quem fazia o que bem queria com a voz. Tá bom para começar?

Em raros registros – 3 cds – feitos graças ao trabalho de Zuza Homem de Mello, estão gravações de Elza ao vivo, nos anos de 1960. Dois desses momentos no programa Fino da Bossa (Elis Regina e Jair Rodrigues) e um no Corte Rayol Show (Renato Corte Real e Agnaldo Rayol). Quem não ouviu Elza Soares e Elis Regina cantando “Devagar com a louça” (Haroldo Barbosa e Luis Reis) fica nessa mania de “melhor” que citei em post passado. Bobagem! As duas são melhores. Elas cantam como se tivessem ensaiado durante meses, como se formassem dupla com anos de experiência e dão aula de senso rítmico, divisão ímpar. Essa gravação simplesmente precisa ser ouvida:

Na real, voltando por onde poderia ter iniciado, comecei a gostar de samba enredo ouvindo Elza e, na hierarquia dos afetos, minha primeira citação /indicação vai para “Bahia de Todos os Deuses” (Salgueiro, 1969).

“Nega baiana, tabuleiro de quindim

Todo dia ela está na Igreja do Bonfim

Na ladeira tem, tem capoeira…”

Outra referência afetiva é de “Lendas do Abaeté” (Mangueira, 1973) e, inesquecível, “A Festa do Divino” (Mocidade Independente de Padre Miguel, 1974), esse é samba de quando a cantora foi intérprete da Escola na avenida. Atenção, por favor: no quesito samba enredo, Elza Soares sempre manifestando sua predileção pela Mocidade, não deixou de cantar sambas de outras escolas. Música boa é para ser cantada, de preferência, por quem sabe.

Começo dos anos de 1980, no Instituto de Artes da Unesp, Dirce Ceribelli utilizava canções de Caetano Veloso para nos ensinar Jakobson. Entre essas, “Língua”, que o compositor divide interpretação com Elza Soares em momento icônico. E logo depois tive a oportunidade de vê-la, no Centro Cultural Vergueiro. Mulher bonita, gostosa, com pernas colossais, por aqui e ali diziam ser a Tina Turner brasileira. Mania infeliz essa nossa. Tina é ótima, mas Elza não carece de comparações. Foram tempos de mudança, em que Elza, sem deixar o samba, deu ênfase para todo o seu potencial musical.

“Dura na Queda” (Chico Buarque), “A carne” (Marcelo Yuka, Seu Jorge, Wilson Cappellette), “Rio de Janeiro” (Anderson Lugão), “Flores Horizontais” (Zé Miguel Wisnik, Oswald de Andrade)… eleger uma canção é difícil, pois cada uma dessas vai além do universo musical. Elza, definitivamente, assumia seu lugar como voz de um povo, de uma raça, de um gênero, características que acabaram levando-a para o plural, tornando-se cantora de povos, raças, gêneros.

“Flores horizontais

Flores da vida

Flores brancas de papel

Da vida rubra de bordel…”

Quero concluir essas breves indicações do repertório de Elza sugerindo audição de outros duetos além de Língua (todo mundo, me parece, quis cantar com ela). Chico Buarque (Façamos – Cole Porter, versão de Carlos Rennó), Letícia Sabatella (A Cigarra – Elza e Letícia), Luiz Melodia (Fadas – Luiz Melodia) … Mas, entre tantas parcerias, volto no tempo, lá para os anos de 1960 para indicar um trio: Elza, Elis e Jair cantando “Se acaso você chegasse” (F.Martins, Lupicínio de Oliveira), na mesma coletânea citada acima. É ouvir os três e lamentar imensas perdas, três figuras máximas da nossa música.

Certamente deixei alguma grande interpretação. Fatal deixar de lado vários, entre tantos momentos intensos de puro talento de Elza Soares. Espero que este texto estimule a ouvir e ir bem mais além. A cantora está na nossa música e sua história – vasta e forte – permanecerá.

Ave, Elza Soares!

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Nota: Todas as canções estão nas plataformas digitais.-

A maior!

Semana em que Elis Regina e Nara Leão estão em foco na mídia brasileira. Que ótimo relembrar e homenagear essas artistas extraordinárias. Nas diferentes matérias sobre as duas cantoras invariavelmente recai sobre Elis o adjetivo maior. “A maior!”. Ninguém discorda; nem deve, nem pode. No entanto…

Provavelmente por sermos subdesenvolvidos, nós, brasileiros, tenhamos essa coisa do tamanho das coisas. O maior estádio, a maior usina hidrelétrica, a maior ponte… Esses exemplos arquitetônicos foram utilizados durante a ditadura militar, afinal os caras precisavam de dar motivos de orgulho para a gente do país. Mais ou menos nessa época a própria Elis disse em uma ou outra oportunidade que Maísa era a maior cantora, ou Gal Costa a maior cantora. Para Maria Bethânia reservaram o “a maior intérprete”.

A febre do “maior” veio depois de diferentes reinados. Nostalgia dos tempos coloniais, sem ter por aqui o charme das nobrezas europeias, inventamos títulos para praia – Quem não conhece “a princesinha do mar”? – criamos reis da voz, rainhas do rádio, rei da juventude, rei do baião, rainha da Jovem Guarda e, entre outros, para ficar bem claro que ainda não dispensamos as titulações nem mesmo em plena pandemia, agradecendo o trabalho de Teresa Cristina, elegendo-a Rainha das Lives. Serei sempre grato à cantora e compositora pelas noites em que nos salvou do desespero.

Afeto e reconhecimento estão entre diferentes sensações que caminham junto e em ordem invariável quando citamos nossas referências, nossas preferências. Se concordamos que Elis Regina é a maior, onde colocamos Nana Caymmi, Mônica Salmaso, Elizeth Cardoso, Ângela Maria, Elza Soares, Maria Bethânia, Alcione, Daniela Mercury? Caramba, ia deixando Dalva de Oliveira de fora, a Gal Costa! A Clara Nunes! Podemos colocar quantas cantoras na tal lista “A maior”?

As cantoras citadas no parágrafo anterior nos legaram (legam, ainda!) registros incríveis de inquestionável qualidade vocal. Todas elas, em um ou outro momento, nos arrebatam com suas interpretações e terão, como disse Elis, “a durabilidade do disco”, o que a gente sabe, graças à tecnologia, que essas vozes deverão estar por muito tempo conosco. Elis e Nara têm histórias peculiares em comum (veja aqui), mas neste texto quero enfatizar outros aspectos.

Nara Leão é páreo – se a gente necessitasse disso – para qualquer artista do mundo quando se coloca a representatividade como parâmetro. Milhares de quilômetros distanciam Nara de Leny Eversong, se pensamos em potência vocal. Sem dúvidas, é possível reconhecer e confirmar que o “fio de voz” de Nara foi mais forte que o de Lenny, ou de qualquer outra cantora. A moça rica de Copacabana norteou a Bossa Nova, subiu o morro e nos legou poesia e protesto, assinou junto com o pessoal da Tropicália e mandou às favas os preconceitos em relação a Jovem Guarda. Não é lero-lero. Comprova-se na discografia!

Elis Regina é páreo – e ela não precisa disso – para qualquer cantora do mundo quando se alia técnica e expressão, potência e domínio vocais. Representou como poucas a época em que viveu, mais ainda, sendo um retrato fiel do brasileiro: o ser batalhador que é arrimo de família, que enfrenta forças adversas para ganhar espaço. Nara, rica, fez o que bem quis e, cá para nós, sorte a dela. Elis, brigou feito fera para fazer o que queria, como queria. Briga com gravadoras, empresários, com o governo, com o universo machista onde transitou, brigas que precisavam levar em conta a necessidade de sustentar os seus.

Legal refletir sobre “a (o) maior” principalmente para uma juventude que, penso eu, confunde o ato de cantar com grito. É só assistir o The Voice” para confirmar a gritaria. É complicado abrir espaço profissional e, nesse país do “a maior” e dos “reis e rainhas de quase tudo”, o jovem já chega por baixo. Esquece a suavidade da Bossa Nova, por exemplo. João Gilberto ganhou o mundo colocando a voz em registro suave, como Nara e, na maturidade, Maria Bethânia. Dóris Monteiro é inesquecível e entre as cantoras atuais, Marisa Monte e Maria Rita sabem dosar potência e suavidade, brindando-nos com momentos deliciosos. Subir a voz é força expressiva. Todo cantor deveria aprender isso com Elis Regina, assim como a professora de suavidade – sem esquecer a precisão da expressão – é Nara Leão. As duas – em polos distintos – representam o que há de melhor em nossa música.

A imprensa usou e abusou da rivalidade entre cantoras. Não voltarei ao assunto (Veja aqui), posto que vejo pouca ou nenhuma novidade sobre a questão. A prática continua. Fora dessa necessidade de audiência, podemos refletir e discutir essa questão da adjetivação dos nossos artistas. São grandes, são maiores. Nunca em detrimento aos pares. São imensos em determinado momento, são fundamentais em outros. O que devemos é conhecer, reconhecer e agradecer quando houver o excelente trabalho de cada cantora, de cada artista. Há lugar para todo mundo.

Nos tempos dos registros físicos – discos em compacto, ou long play, fitas cassete, cds – o espaço era problema e, por isso, escolhi vozes femininas para minha coleção de discos. Uma razoável coleção de cds, indo de Aracy de Almeida à Zizi Possi. Ouço Elis tanto quanto ouço Maria Alcina, Evinha, Tetê Espíndola. Dedico horas à Zezé Motta, Beth Carvalho e também ao Quarteto em Cy. Giane e Inezita Barroso, tanto quanto Clementina de Jesus ocupam lugar especial e por aí vai. De A a Z, deixo rolar à vontade e, para lembrar um verso de Joyce Moreno, gosto de “canções que ninguém escuta”. Tenho muita coisa da Elis Regina, da Nara Leão, da Gal Costa. Quase tudo da Maria Bethânia, e quem me conhece sabe o lugar que Wanderléa tem no meu coração. Todas grandes! Todas são “a maior”!

Salve, Elis Regina! Salve, Nara Leão!

Um salve maior para todas as cantoras do Brasil!

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As fotos que ilustram este post estão em capas de disco de Elis (1977) e Nara (1968).

Cleide Queiroz em Palavra de Stela: Poesia e Teatro

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Cleide Queiroz em Palavra de Stela. Foto: João Caldas.

Um bom trabalho, dizem, pode ser resumido em uma frase; lá vai: Cleide Queiroz mostra infinitas faces de uma mulher no monólogo Palavra de Stela. Escrito assim parece pouco, indigno da performance da atriz que comemora nessa montagem 50 anos de carreira . Por isso é fundamental escrever um pouco mais.

Stela do Patrocínio foi internada em uma colônia psiquiátrica aos 21 anos e assim ficou por quase trinta anos. Um jeito diferente de Stela ser e, principalmente, de dizer coisas impressionou outra mulher, a artista plástica Neli Gutmacher, quando esta montou um ateliê na Colônia Psiquiátrica Juliano Moreira, em Jacarepaguá.  Uma terceira mulher, Viviane Mosé, organizou a fala de Stela gravada por Neli , publicando essas em forma de poesia no livro “Reino dos bichos e dos Animais é o meu nome”. Uma síntese do percurso de mensagens resultantes na montagem Palavra de Stela, escrita e dirigida por Elias Andreato .

Sinto que é necessário ampliar esse preâmbulo. Que tal conhecer algumas palavras, da Stela do Patrocínio, transcritas do programa da peça?

“Não sou eu que gosto de nascer

Eles é que me botam para nascer todo dia

E nem sempre que eu morro me ressuscitam

Me encarnam me desencarnam me reencarnam

Me formam em menos de um segundo

Se eu sumir, desaparecer,

Eles me procuram onde eu estiver”

Eita! Dá uma vontade enorme de ter mais versos de Stela.

Uma história densa, um texto forte, poético. O público entra na sala do Top Teatro e a atriz já está em cena. Cleide Queiroz. A mulher tece teias por onde outras mulheres surgirão via mente de Stela, voz e corpo de Cleide. Poucos adereços em um cenário que ressalta possíveis espaços na mente da personagem, tornado físicos pela capacidade cênica da atriz.

A história não é linear. Vamos descobrindo Stela do Patrocínio aos poucos, simultaneamente vamos reconhecendo aqui e ali a trajetória da moça, da atriz, tudo devidamente realçado na direção de Elias Andreato e no inquietante figurino de Mira Haar.  Tem mais: Iansã comandando ventos e todos os elementos, tem Medeia tornada Joana, aquela da Gota D´água, que Cleide já interpretou na íntegra. Tem um jeito de ser e cantar que é Maria Bethânia sem deixar de remeter à fonte da própria Bethânia, Dalva de Oliveira e, sobretudo, tem Stela do Patrocínio.

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Stela do Patrocínio, com Cleide Queiroz. Foto: João Caldas.

Stela é a doente abandonada, a professora, a dona de casa, a menina, a mulher exuberante. Stela vai se desnudando, se desvelando enquanto fala com o público, com o gravador da psiquiátrica, com as pessoas todas que povoaram sua mente. Cleide Queiroz revela Stela em versos declamados com ritmo preciso, em canções que somam intenções, mas também a atriz nos mostra a personagem via silêncios perturbadores.

A coordenação do projeto é de Carlos Moreno. A direção de produção é de Sonia Kavantan. Palavra de Stela tem música original e arranjos de Jonatan Harold, desenho de movimento e programação visual de Roberto Alencar – cujos registros figuram entre as notáveis ilustrações do programa. Mira Haar, além do figurino, assina a cenografia. As fotos são de João Caldas.

Palavra de Stela está no TOP TEATRO (Rua Rui Barbosa, 201 – Bela Vista. Tel: (11) 2309-4102). A temporada vai até o dia 27 de Agosto. Os horários:  sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 19h. Ingressos: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia). Duração: 70 minutos. Vendas online: http://www.aloingressos.com.br/

Marque na sua agenda, reserve seus ingressos. Palavra de Stela é imperdível.

Até mais!

Elis Regina em 1965

elis menino das laranjas

Tornar-se cantora e ficar entre as melhores do Brasil foi tarefa gigantesca até para Elis Regina. É possível constatar a grandiosidade enfrentada pela cantora, por exemplo, traçando um painel do ano de 1965. Neste ano Elis projetou-se nacionalmente ao vencer o I Festival Nacional de Música Popular Brasileira (TV Excelsior) com “Arrastão” (Edu Lobo e Vinícius de Morais). De quebra fez um show com Jair Rodrigues e o Jongo Trio que resultou em disco e programa de TV – O Fino da Bossa – entrando definitivamente para a história da música brasileira.

Em 1965 atuavam algumas mulheres que embora na faixa dos quarenta anos, por contingências da época já eram “velha guarda”. Cantoras extraordinárias como Elizeth Cardoso, Dalva de Oliveira, Marlene, Emilinha Borba e Isaurinha Garcia enfrentavam a passagem da era do rádio para a era da TV. Elis tinha o trunfo da juventude até mesmo perante outra das maiores cantoras brasileiras, Ângela Maria, que em 1965 já estava com 36 anos. Maysa, também notável entre as melhores, estava com 29 anos e Elsa Soares, sambista ímpar, chegava aos 28.

Perante grandes cantoras, ídolos reconhecidos pela crítica e pelo público, Elis Regina era uma jovem surgindo com brilho no cenário musical brasileiro. Para representar a modernidade na música brasileira Elis tinha que estar à altura de Sylvia Telles, embora o mercado exigisse que ela fosse tão popular quanto Celly Campello.

1965 - Arrastao - Elis REgina (1)

Além das cantoras já estabelecidas outras meninas, como Elis, iniciavam carreira. Em 1965 Nara Leão já era um grande nome. Dona de personalidade marcante e de uma privilegiada visão de mundo, Nara unia compositores dos morros cariocas aos jovens bem nascidos da Zona Sul, mudando os rumos da nossa música.

É bastante conhecido o fato de Nara Leão ter convidado Maria Bethânia, menina que havia conhecido na Bahia, para substituí-la no show “Opinião”. Bethânia chegou e atingiu sucesso imediato entre os cariocas que viram o show e em todo o Brasil, via rádio, cantando “Carcará”. Com Bethânia veio Gal Costa, sempre suave e sem fazer muito barulho. A dupla baiana que por si já faria tremer qualquer concorrente ainda contava com dois amigos do tipo que toda cantora precisa: grandes compositores do naipe de Gilberto Gil e Caetano Veloso.

Em 1965, aos 24 anos Nana Caymmi voltava ao Brasil para retomar a carreira. Celly Campello, que três anos antes havia abandonado a carreira recusou participar do programa Jovem Guarda. Wanderléa aceitou, tornou-se imensamente popular e, contam os biógrafos, amiga de Elis Regina.

Em 1965 eu estava com dez anos. Ouvíamos rádio durante todo o dia. Eu parava para ouvir Wanderléa com um chamado irresistível: “Atenção, atenção, eu agora vou cantar para vocês, a última canção que eu aprendi…” A moça bonita da Jovem Guarda cantava “É o tempo do amor” e eu gostava tanto quanto de “Carcará”, o “bicho que avoa que nem avião” na interpretação definitiva de Bethânia. Tenho certeza de que a primeira canção gravada por Elis que me fez parar e prestar atenção na cantora foi “Menino das Laranjas” . Com dez anos eu apenas gostava; hoje percebo que Elis canta a música com graça – a mesma graça que me encantava em Wanderléa – e interpretava intensamente, como Bethânia. De quebra, “Menino das Laranjas” é de uma notável sofisticação melódica e rítmica.

Ainda era 1965 quando vi Elis na televisão. Aos vinte anos ela cantava “Arrastão” com alegria contagiante, com a força necessária para retirar a rede de pesca cheia, farta, sem deixar de lado a doçura da intérprete que narra o pescador querendo Janaína para casar. Em maio do mesmo ano estreava, na TV Record, o programa “O Fino da Bossa”, e neste registrava-se a maior parceria vocal de Elis Regina: Jair Rodrigues.

O disco “Dois na Bossa” veio antes e deu origem ao programa de TV. No disco estão “Menino das Laranjas” e “Arrastão”, as duas músicas que me fizeram gostar de Elis Regina. Também estão outras onze canções só na primeira faixa, compondo o pot-pourri de maior êxito da dupla Elis e Jair. Definitivamente, Elis alcançava a categoria de melhor cantora do Brasil. Nesse programa, sem o que se denomina hoje “música de trabalho”, Elis pode mostrar toda a sua versatilidade, o que é possível comprovar pelas gravações preservadas por Zuza Homem de Mello, disponíveis em CDs.

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Outro dia me perguntaram como foi o impacto do lançamento do disco Construção, de Chico Buarque, em 1971. Respondi quase que mecanicamente: “- Ouvíamos no rádio. Tocava o dia inteiro!” Continuando o papo, recordei o hábito de ouvir rádio, desde criança, quando conheci toda essa gente e, principalmente, Elis Regina.

No próximo dia 19, segunda, lembraremos a grande cantora, falecida em 1982. 33 anos sem Elis! Três gerações sem a grande intérprete!Comigo, tudo começou em 1965. Impossível não registrar esses 50 anos de admiração e respeito que tenho pela maior cantora do Brasil.

Salve, Elis!

Boa música para começar o carnaval

Dalva de Oliveira e Marlene.
Dalva de Oliveira e Marlene.

“Hoje, eu não quero sofrer

Hoje eu não quero chorar

Deixei a tristeza lá fora

Mandei a saudade esperar…”

Penso em carnaval e recordo os versos de “O primeiro Clarim” , criação de Klécius Caldas e Rutinaldo Silva que tive o privilégio de ver Dircinha Batista cantar.  Dircinha foi uma cantora extraordinária, talentosa tanto quanto sua irmã, Linda Batista.

“… Hoje eu não quero sofrer

Quem quiser que sofra em meu lugar…”

Algumas músicas de carnaval tem esse poder de alimentar sonhos e, incrível, fazer com que grandes tristezas sejam transformadas em belíssimos versos. E é possível sair pelos salões, quando há salões, cantando e dançando uma triste sensação de rejeição, como esse Malmequer, composição de Newton Teixeira e Cristóvão de Alencar:

Eu perguntei a um malmequer

Se meu bem ainda me quer

E ele então me respondeu que não

Chorei, mas depois eu me lembrei

Que a flor também é uma mulher/

Que nunca teve coração…

Não é porque é carnaval que a gente perde o senso crítico. Algumas gravações para o carnaval de 2014 são no mínimo lamentáveis. Sabem-se lá quantas são as tramas dos negócios que permeiam “músicas para consumo”; todavia, na falta de algo que seja efetivamente bom, não seria legal regravar uma bela canção e fazê-la voltar na boca do povo?  João de Barro e Noel Rosa e tantos outros  merecem suas canções gravadas nas vozes de Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Claudia Leitte. Mais que músicas e atitudes autopromocionais, esperamos grandes canções dessas profissionais. E a propagar versos precários e medíocres, porque não cantar, por exemplo, Estrela-do-Mar, de Marino Pinto e Paulo Soledade? De quebra ainda homenageariam a grande Dalva de Oliveira:

Um pequenino grão de areia

Que era um pobre sonhador

Olhando o céu viu uma estrela

E imaginou coisas de amor ô-ô-ô/

Passaram anos, muitos anos

Ela no céu, ele no mar

Dizem que nunca o pobrezinho

Pode com ela encontrar.

Talvez nossos cantores de agora não cantem esse tipo de música pela impossibilidade de enfiar um “tira o pé do chão” no meio da letra. Ou então, imaginem só Elizeth Cardoso dizendo um “Levanta o braço ai!” entre os versos de “As Pastorinhas”!

A estrela d’alva

No céu desponta

E a lua anda tonta

Com tamanho esplendor

E as pastorinhas

Pra consolo da lua

Vão cantando na rua

Lindos versos de amor

João de Barro e Noel Rosa sempre tiraram o pé do chão. As canções de carnaval ou são marchinhas, ou marcha-ranchos… E são tão geniais que não carecem de um “Quem gostou faça barulho”, porque é impossível ficar calado quando a música é boa. Lá pelas tantas, o coro é geral e fortíssimo em versos como esses:

Linda criança

Tu não me sais da lembrança

Meu coração não se cansa

De sempre e sempre te amar.

Emilinha Borba, Elizeth Cardoso e, abaixo,as irmãs Dircinha e Linda Batista
Emilinha Borba, Elizeth Cardoso e, abaixo,as irmãs Dircinha e Linda Batista

Tenho certeza de que as primeiras músicas de carnaval que me fizeram a cabeça foram cantadas por Marlene e Emilinha Borba. Esta última era extremamente popular com sua Chiquita Bacana e, na minha infância eu gostava da ideia de um “tomara que chova três dias sem parar”. Aliás, bem propícia para esse ano, quando estamos na eminência cantar com muita verdade que  “a minha grande mágoa é lá em casa não ter água e eu preciso me lavar…”. Já Marlene, era a melhor. A mais bonita e a grande intérprete com seu “Apito no samba, “Lata d’água” e tantos outros. Mas, há sempre um mas… A primeira paixão musical de carnaval veio com Dalva de Oliveira, uma das maiores cantoras deste país. Depois de “Máscara Negra  (Zé Kéti/Hildebrando Matos), o carnaval, marchinhas e marchas-rancho entraram definitivamente na minha vida. Há quem resista a esses versos?

Tanto riso

Oh, quanta alegria

Mais de mil palhaços no salão

Arlequim está chorando pelo amor da Colombina

No meio da multidão…

Se estiver difícil ouvir “bagunceiras” e outras bobagens, tente isso: Ao clicar nos títulos das canções abrirá um link para ouvir a música no Youtube. Há alguns vídeos com cenas interessantes. Divirtam-se!

E bom final de semana!

Até!

.

Miss Suéter, a garota solitária que tem lábios de mel

85 anos de Angela Maria

Angela 8607

Fascínio tenho eu por falsas louras

Ai, a negra lingerie

Com sardas, sobrancelha feita a lápis

E perfume da Coty…

Neste dia 13 de maio uma grande estrela que não foi miss suéter nem garota solitária, completa 85 anos. Lábios de mel, provavelmente ela tem; a garganta é de ouro. Ela não foi “miss”, mas foi rainha. É rainha. A Rainha do Rádio, Angela Maria.

…Fica comigo

Velha amiga e companheira

Vou cantá-la a vida inteira

Pra lembrar do que passou.

Angela Maira nasceu em Macaé, RJ, em 13 de maio de 1928. Com mais de 60 anos de carreira, é reconhecida pelo Guinness Book como recordista mundial de gravações de disco, 115. Foi rainha do rádio em 1954 e forma com Elis Regina e Dalva de Oliveira o trio das maiores cantoras brasileiras, com domínio vocal e uma capacidade de cantar que extrapola o comum. Afinação, potência e extensão são qualidades ímpares dessas mulheres.

Números e títulos não criam ídolos; músicas sim! E sucessos e canções que permanecem na memória de um país é o que conta. E isso, músicas de sucesso que permeiam a lembrança popular, Angela Maria tem aos montes.

Meu amor quando me beija

Vejo o mundo revirar

Vejo o céu aqui na terra

E a terra no ar…

Dominando toda a década de 1950 e emplacando êxitos nas décadas posteriores, Angela Maria esteve e está presente na vida de milhões de brasileiros, na manifestação do gosto musical de diferentes gerações. Angela Maria continua cantando como cantava quando meu tio e padrinho de batismo era fã da cantora. Tinha os discos e revistas sobre ela. Foi em criança que eu conheci e guardei algumas das canções preferidas do meu padrinho Nino.

Hoje não te quero mais

Eu preciso de paz

Já cansei de sofrer

Vives na rua jogado

És um fósforo queimado

Atirado no chão…

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Apelidada SAPOTI pelo então presidente Getúlio Vargas, Angela é a maior expressão do samba-canção, e dela se aproximaram cantoras como Maysa e Nora Ney, entre muitas outras que nunca obtiveram tanta popularidade como ela. A Sapoti também é lembrada por um comportamento impecável, uma elegância profissional excepcional. Não se tem notícias de pinimbas históricas envolvendo a cantora; o que ficou são os registros de uma carreira brilhante.

Tem certos dias em que eu penso em minha gente

E sinto assim todo o meu peito se apertar

Porque parece que acontece de repente

Como desejo de eu viver sem me notar…

Angela Maria já disse que quer ser lembrada por “Gente Humilde”, cujos versos estão acima. Todavia, muita gente lembra-se dela por “Babalu”, “Vida de Bailarina”, “Cinderela”, “Tango Pra Teresa” ou pela graciosa “Garota solitária”:

Esta noite eu chorei tanto

Sozinha sem um bem

Por amor todo mundo chora

Um amor todo mundo tem

Eu, porém, vivo sozinha

Muito triste sem ninguém…

Uma canção interpretada originalmente por ANGELA MARIA é sempre lembrada, no dia das mães. Aquela canção que diz “ela é a dona de tudo, ela é a rainha do lar” e fala do filho que (santo deus!) lembra “o avental todo sujo de ovo” pra rimar no final que gostaria de “começar tudo, tudo de novo”. As mães, aquelas que valem mais “que o céu, a terra e o mar” gostam. Na última semana a música foi lembrada em um seriado da Rede Globo, Louco por elas.

Lúcida e atuante, Angela Maria apresentou-se recentemente no Rio de Janeiro, em noite de gala, com um repertório baseado em grandes sucessos de uma carreira fonográfica iniciada em 1951 e que, em 2012 teve os principais sucessos registrados em DVD, lançado pela gravadora Lua Music, denominado Estrela da Canção Popular.

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As canções de Angela Maria estão ai. As emissoras de rádio tocam quase nada e raramente ela aparece em TV. Aliás, ela prefere churrascarias, restaurantes populares, onde pode sentir melhor a presença do público. Por aqui quero prestar uma homenagem sincera para essa extraordinária mulher. Cantora de lábios de mel, garota não muito solitária, mas sempre a minha miss suéter.

Guardarei para sempre

Seu retrato de miss com cetro e coroa

Com a dedicatória

Que ela, em letra miúda, insistiu em fazer

“-Pra que os olhos relembrem

Quando o teu coração infiel esquecer…”

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Até!

.

Notas Musicais:

Todas as canções citadas são do repertório de ANGELA MARIA e estão identificadas na ordem em que aparecem no texto.

Miss Suéter – João Bosco e Aldir Blanc

Balada Triste – Dalton Vogeler e Esdras P. da Silva

Lábios de Mel – Waldir Rocha

Fósforo Queimado – Paulo Menezes, Milton Legey e Roberto Lamego

Gente Humilde – Garoto, Vinícius de Moraes, Chico Buarque

Babalu – Margarita Lecuona

Vida de Bailarina – Cholocate e Américo Seixas

Cinderela – Adelino Moreira

Tango Pra Teresa – Jair Amorim e Evaldo Gouveia

Garota solitária – Adelino Moreira

Mamãe – Herivelto Martins e David Nasser

Miss Suéter – João Bosco e Aldir Blanc

As rainhas do ziriguidum e do borogodó

Dalva, Linda, Dircinha, Emilinha e Marlene. As rainhas do rádio.
Dalva, Linda, Dircinha, Emilinha e Marlene. As rainhas do rádio.

Tem um monte de gente que procura justificar a própria ignorância com a expressão “não é do meu tempo”. De quebra o preconceito embutido, como se o tempo presente fosse a maior das maravilhas… Cada época tem a sua beleza e hoje estou interessado em grandes mulheres, para um carnaval do balacobaco. Com muito ziriguidum!

Hoje eu não quero sofrer

Hoje eu não quero chorar

Deixei a tristeza lá fora

Mandei a saudade esperar

Hoje eu não quero sofrer

Quem quiser que sofra em meu lugar…

Balacobaco só sabe o que é quem tem borogodó. E só quem tem borogodó é capaz de dar um ziriguidum. Tudo esclarecido um carnaval com “it” pode começar com versos acima, cantados por LINDA BATISTA. A primeira grande Rainha do Rádio.

O Brasil tem uma queda pela monarquia, adora eleger rainhas da primavera, do carnaval, do rock, do rebolado… Na chamada era de ouro do rádio elegia-se uma rainha por ano.

LINDA BATISTA foi Rainha do Rádio mantendo o título por onze anos (1937/1948) e, contratada da toda poderosa Rádio Nacional colecionou casacos de peles e carros de luxo. Rainha é rainha! E como essas histórias de monarquia são hereditárias, LINDA transferiu a coroa para a irmã caçula, DIRCINHA BATISTA.

Lá vai o meu trolinho

Vai rodando de mansinho

Pela estrada além

Vai levando pro seu ninho

Meu amor, o meu carinho

Que eu não troco por ninguém…

As irmãs Batista eram do balacobaco. Amadas até por Getúlio Vargas, ficaram meio esquecidas na transição do rádio para a televisão. Já na época havia também o “culto ao novo”. Veio com a Bossa Nova e, posteriormente, com a Jovem Guarda; um fenômeno  que colocou em plano secundário outros grandes astros do rádio como, por exemplo, MARLENE.

Lata d’água na cabeça

Lá vai Maria

Lá vai Maria

Sobe o morro e não se cansa

Pela mão leva a criança

Lá vai Maria…

MARLENE, entre todas as rainhas do rádio, foi a que teve a carreira mais interessante, após a tal fase de ouro. Como atriz protagonizou novelas e peças teatrais. No disco “A Ópera do Malandro” temos dois registros dessa cantora incrível; uma filha de italianos (nascida aqui no “meu” Bexiga!) que canta sambas com o maior borogodó!

MARLENE foi estrela de um dos primeiros programas de carnaval que assisti pela televisão. O nome do programa era “Big Show Royal” e a cantora aparecia com um biquíni deixando evidente o quanto ela era capaz de um ziriguidum. Lembro que minha mãe não gostava; “- Essa mulher é muito escandalosa!”, reclamava. A cantora tinha um jeito de garota levada, mas levada mesmo era EMILINHA BORBA.

Se a canoa não virar

Olê, olé, olá

Eu chego lá

Rema, rema, rema remador

Quero ver depressa o meu amor…

EMILINHA BORBA reinou por 27 anos na Rádio Nacional. Foi campeã em correspondência por 19 anos e capa de 350 revistas. Isso é coisa de rainha! Vencedora de inúmeros carnavais, seus sucessos continuam por todos os bailes do país. “Chiquita Bacana”, “Tomara que Chova”, “Vai com Jeito” e, entre muitos outros, até uma “Mulata Yê, Yê, Yê”…

Mulata Bossa Nova

Caiu no hully gully

E só dá ela

Ye, ye, ye…

Na Passarela!

As cantoras do rádio brigavam feio pelo título de “Rainha”. O voto era popular e as “cédulas eleitorais” vendidas junto com a Revista do Rádio. Em 1949 a Companhia Antártica Paulista resolveu patrocinar MARLENE, dando a grana para a compra de votos. A cantora paulista conseguiu mais de 500 mil votos e sua vitória deu início a uma “guerra histérica” entre seus fãs e os de EMILINHA BORBA. Virou lenda!

Tivemos muitas “rainhas do rádio”. ÂNGELA MARIA, CARMÉLIA ALVES e DÓRIS MONTEIRO estão entre elas. Nenhuma, entretanto, foi grande como DALVA DE OLIVEIRA. Essa “rainha do rádio” foi também a “rainha da voz” e é, por muitos, considerada a maior cantora do Brasil. Nosso país é ou não é chegadão nessa tal monarquia?

Tanto riso, oh, quanta alegria!

Mais de mil palhaços no salão

Arlequim está chorando pelo amor da Colombina

No meio da multidão…

rainhasdoradio2

DALVA DE OLIVEIRA faz com que eu recorde meu pai. Eu era criança e adorava WANDERLÉA com suas pernas (Isso é borogodó!), a cabeleira loira e a dança, ingenuamente sensual (Mas, cheia de ziriguidum!).  Sei lá o que eu estava fazendo; deixei de lado e atendi ao chamado de papai para, no programa FLÁVIO CAVALCANTE, assistir uma apresentação de DALVA: “- Vem cá; veja o que é uma grande cantora!”

Naquele programa ela cantou “Kalu” e, com ÂNGELA MARIA, “Ave Maria no Morro”. As duas grandes cantoras, cheias de borogodó, mandaram ver na melodia e letra de HERIVELTO MARTINS. Quando chegou o momento do maior agudo, ANGELA afastou-se do microfone, dizendo para DALVA: “- Agora é com você!”. E lá foi aquela mulher, magrinha, frágil, soltando seus “agudos fulminantes”, para lembrar a expressão certeira de HERMÍNIO BELLO DE CARVALHO.

Nossas rainhas, se não estão na memória de muita gente, permanecem nas canções, nas marchinhas. Imaginem o tamanho do balacobaco com todas elas no mesmo palco? Dá até pra imaginar plumas (dizer penas, pra rainhas, não dá!) voando pra todo lado. Por outro lado, penso que DALVA DE OLIVEIRA mandaria seu melhor agudo, pra que tudo terminasse numa boa:

Bandeira branca, amor

Não posso mais

Pela saudade que me invade

Eu peço paz

Saudade mal de amor, de amor

Saudade dor que dói demais

Vem meu amor, bandeira branca,

Eu peço paz.

 .

Até mais!

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Notas:

Os versos acima são, respectivamente:

O Primeiro Clarim – Rutinaldo e Klécius Caldas, 1970 – LINDA BATISTA.
Upa, Upa!(Meu Trolinho) Ary Barroso, 1940 – DIRCINHA BATISTA.
Lata D’água – Luiz Antonio e Jota Junior –1952 – MARLENE.
Chiquita Bacana (João de Barro e Alberto Ribeiro, 1949), Tomara que Chova (Paquito e Romeu Gentil, 1951) “Vai com Jeito”(João de Barro, 1957) e “Mulata Yê, Yê, Yê” (João Roberto Kelly, 1965) – EMILINHA BORBA.
Máscara Negra – Pereira Matos e Zé Kéti, 1967 – DALVA DE OLIVEIRA.
Bandeira Branca – Laércio Alves e Max Nunes, 1970 – DALVA DE OLIVEIRA.

. Publicado originalmente no Papolog em 14/02/2009.