Estamos próximos do dia 21 de abril, quando terminará a exposição “Guerra e Paz”. E antes que os dois grandes murais de Candido Portinari deixem São Paulo, cabe um último estímulo para quem ainda não esteve no Memorial da América Latina: uma reflexão sobre o real tamanho das coisas.
Por mais que sejam precisas as imagens são do tamanho do suporte que usamos para vê-las. Grande, médio ou pequeno, é só um suporte: o papelão, o vídeo, a tela do computador… É comum ouvirmos a expressão “imagem perfeita”, mas até mesmo as imagens em 3D perdem em dimensão para a realidade. O exemplo “da hora” pode ser a obra de Portinari, bastante divulgada com esta foto:

Os murais “Guerra e Paz” (14 x 10m) foram pintados entre 1952 e 1956. Foi um presente encomendado pelo governo brasileiro para presentear a sede da ONU, em Nova York. É legal perceber que as medidas – 14 x10m – são meras referências numéricas. Vista a reprodução acima, faria pouca diferença aumentar ou diminuir esses números. Na real, perante uma fotografia sempre carecemos de algo com o qual possamos estabelecer uma relação de escala com o objeto retratado. O padrão que mais nos facilita a compreensão do real tamanho das coisas é o próprio ser humano, já que temos uma idéia bem clara do que seja o tamanho de um adulto.

Pedi ao meu amigo Octavio Cariello que fizesse a foto acima com a intenção mesmo de fixar a verdadeira dimensão do trabalho de Portinari. Como está para o mundo. Como realmente é. E as pessoas todas no ambiente tornam-se pequenas em relação aos dois murais. É bom frisar que certamente, para aqueles que não forem até ao Memorial (O prazo está acabando!) as chances de conhecer de perto essa obra serão bem menores.
De São Paulo a exposição irá para Belo Horizonte (Qual é o real tamanho da Igreja da Pampulha, também esta com pinturas de Portinari?) e depois, para outros lugares. Quando voltar em definitivo para os EUA, se for mantido o esquema anterior, os murais ficarão em área reservada. Nem aquele turista visitante da sede da ONU terá chance de ver, ou rever “Guerra e Paz”. Restarão fotos, vídeos e outros materiais visuais com suas limitações.
Com todo o meu respeito aos grandes fotógrafos – que com um olhar bastante específico oferecem-nos imenso prazer estético – nada supera o contato direto; a experiência de estar em meio ao “trem”. (“Trem” é tudo – coisas, situações e pessoas – reduzidas pelo mineiro nessa simpática expressão. Para um mineiro há “trem bão”, “trem doido”, “trem chato”, “trem esquisito” e, o máximo, é quando escapa uma fala tipo “essa coisa é um trem esquisito, sô”.)
Mineiro que sou, recorro às expressões da minha terra, que me são comuns e, assim, possibilitar ao outro o entendimento do que vai pela minha alma. Só posso recorrer ao “mineirês” para que entendam o que é estar diante, por exemplo, do mar: “- Eita, trem grande, sô!” E foi exatamente o “Eita, trem grande, sô!” que exclamei, bem baixinho, diante da obra de Portinari.

Sei lá o que cada visitante pensa diante da obra do grande pintor. Muito menos o que dirá aquele que ainda não foi. Só sei que é um momento raro, imperdível, para ver “esse baita trem que Portinari pintou”.
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Bom final de semana.
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