O deputado federal mais votado do Estado de São Paulo, em 1945, foi o baiano Jorge Amado. O escritor foi eleito pelo Partido Comunista Brasileiro. Dois anos depois o PCB foi declarado clandestino. A vontade dos que colocaram Jorge Amado na Assembléia Constituinte não foi respeitada; em 1948 os mandatos dos deputados do PCB foram extintos; sobrou para o escritor o exílio na Argentina e no Uruguai. Nesta terça-feira a Câmara dos Deputados devolveu simbolicamente o mandato de Jorge Amado e de outros que foram cassados em 1945. Embora tardia, cumpre-se a justiça.
Em “Os Subterrâneos da Liberdade” Jorge Amado aborda fatos desse período de luta contra a ditadura do Estado Novo. “Os ásperos tempos” é o primeiro livro da trilogia, completada por “A agonia da noite” e “A luz no túnel”. O escritor iniciou a obra na Tchecoslováquia, em 1952 e terminou no ano seguinte, no Rio de Janeiro. A primeira edição é de 1954.
A trajetória política de Jorge Amado tem um fato extraordinário. É dele a autoria da lei, ainda em vigor, que nos garante o direito à liberdade de culto religioso. Uma imensa ironia em um país onde se temia os comunistas ateus, como se o fato de ser ateu colocasse em risco a segurança nacional, a estabilidade do Estado…
Tento imaginar Jorge Amado, militante comunista “de carteirinha” sendo questionado sobre fé, religião, Deus. Aqueles que conheciam seus livros sabiam que, antes de ser eleito, Jorge já se definira contador de “histórias da beira do cais da Bahia”. Também que ele já havia afirmado em apresentação do livro “Mar Morto”, de 1936: “O povo de Iemanjá tem muito que contar”. Se Jorge, algum dia, foi ateu, sabia que seu povo era de Todos os Santos, da Rainha do Mar.
Jorge Amado terminou seus dias como Obá no Ilê Axé Opô Afonjá (Corpo de Obá – ministros de Xangô – instituído por Eugênia Anna dos Santos, a fundadora do terreiro freqüentado pelo escritor). O deputado estava esquecido, mas o homem estava lá, ao lado do povo que amava e que imortalizou em seus romances. Agora Jorge Amado tem seu mandato restituído. Mais um fato para a incrível história do menino de Itabuna, que passou a infância em Ilhéus, comunista juramentado, escritor aclamado, ilustre integrante do mais antigo terreiro de candomblé da Bahia.
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Até mais!
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