Colocar idosos em confinamento é a ideia ignóbil que precisa ser combatida antes que cresça. Feito o vírus que se espalha, traiçoeiro, é a inicial sugestão de isolamento vertical proposta pelo indivíduo que ocupa a presidência. Sem respaldo científico nenhum, mas com interesse em agradar setores da economia, opina-se para o isolamento de pessoas com mais de 60 anos. Isto significa confinar 13% da população brasileira. Dito assim, não esclarece que tal ação isolaria 28 milhões de indivíduos. VINTE E OITO MILHÕES DE INDIVÍDUOS!
O pensamento rasteiro do presidente já encontra eco. Campo de concentração, sugere um tal Marcão do Povo, que deve ter nascido sem pai e mãe. Trancafiar os velhinhos é a solução para Rodrigo Constantino, também sem mencionar se tem ou não filiação. E a ideia pode vir a ser considerada comum, viável, normal, se não for devidamente combatida. Onde estarão os campos de concentração? Como os idosos serão trancafiados? O presidente, acima dos 60, será encaminhado ao confinamento? Junto com ele, os Juízes do Supremo, os Senadores e demais representantes públicos sexagenários? Ou os canalhas, autores dessa monstruosidade, pretendem categorizar quais os “tipos de velhos” que ocuparão o cativeiro?
Não matarás, diz o Mandamento recebido por Moisés. No entanto, o protocolo médico internacional orienta que em caso de ter que escolher entre um idoso e um jovem, o remédio irá para quem tem maior possibilidade de sobrevida. Os perigos desse procedimento ético colaboram na difícil decisão de médicos, mas pode sugerir outras atrocidades para detentores do poder. No caso do Brasil, por exemplo, seriam 28 milhões de doses de vacina a menos, já que “velho pode morrer”. 28 milhões de doses de remédio a menos, 28 milhões de leitos a menos. 28 milhões de beneficiados à menos na conta da Previdência. Basta fechar os velhos em campos já com as valas destinadas aos corpos, ou o crematório permanentemente aceso, já que 28 milhões de corpos ocuparão espaços valiosos para o mercado imobiliário.
O quarto Mandamento determina que devemos honrar pai e mãe. E todos nós, pais e mães acima dos 60, devemos ter errado feio ao transmitir o mandamento que, em si, dispensa preceito religioso. É natural o reconhecimento por aqueles que nos prestaram benefícios. É humano ajudar a caminhar aqueles que necessitam e que, um dia, nos seguraram para os primeiros passos. É natural dar comida para quem nos alimentou com o próprio leite, com a força do próprio trabalho. É bem provável que alguns, com pouca afinidade com pai e mãe, acharão piegas, sentimentais, inúteis as ideias de dever, de troca, de gratidão. Por isso, e por existir gente que pensa em confinar idosos, que o discurso deve ser outro:
– Conclamo todos os sexagenários e acima, meus irmãos, parentes e amigos à luta!
Uma luta que começa por boicotar o SBT – Sistema Brasileiro de Televisão, por permitir que alguém use o canal para sugerir campos de concentração para idosos. Mesmo boicote à Jovem Pan, por ideias similares se difundirem via microfones da emissora. Lembrar na hora de votar do nome de cada político, sexagenário ou não, que aceita a ideia de confinar quem quer que seja, sem que este tenha cometido o mínimo crime.
Aprendi com meus falecidos pais, avós, tios, que deveria trabalhar muito na juventude para ter uma velhice tranquila. Hoje, aos 64 anos, sou oficialmente idoso e vejo a tranquilidade enquanto quimera. Décadas de trabalho não garantem direitos à aposentadoria digna. Aposentados, ainda precisamos de continuar a trabalhar para complementar renda visando obter além do estritamente necessário. Precisamos trabalhar para conseguir pagar um convênio médico, pois, repito, décadas de desconto na folha de pagamento não garantem um tratamento digno na rede pública de saúde. E na pandemia, a solução política é confinar o velho, prendê-lo em casa ou em campo de concentração.
Não vou odiar aqueles que estão mais jovens. Nem tratá-los como inimigos. E por desejar que esses jovens tenham longa e feliz vida é que não admito ser tratado como estorvo. Da luta conclamada acima, podemos lembrar a importância do nosso salário na economia familiar, da nossa experiência e conhecimento volta e meia desperdiçados por preconceitos imbecis. Quem somos nós, pobres velhos, para lutar contra a OMS e seus protocolos em tempos de pandemia. Mas podemos exigir que os governos de todos os países se preparem para a próxima doença, o próximo desastre. Podemos insistir para que todos deem mais voz aos cientistas para que digam aos quatro cantos que o confinamento de quem quer que seja não resolve o problema, mas joga esse para baixo do tapete.
O isolamento continua. É necessário. Todavia, isolamento vertical NÃO!
Até mais!
A imagem acima é reprodução de “o enterro” de Lasar Segall.
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