Ziriguidum 67

“Um mineiro em Santos”

Quando as coisas andam sem cor e se a sensação é de vida estagnada, o jeito é seguir o conselho da minha dileta Márcia Gomes Lorenzoni: “É preciso dar um ziriguidum na vida!” Para deixar claro, seria algo tipo dar um up, diriam atuais adolescentes, ou sair da caixa como indica o coaching da hora colocando-nos “in” ou “out” em relação a quase tudo. Todavia, ao invés de um “up”, a gente pode carecer mesmo é de ir para os lados e, alerto, um bom ziriguidum pode ocorrer dentro, em cima, embaixo ou fora da caixa.

Li que aos 60 e poucos de idade a gente passa a priorizar arnica e canela de velho aos bons hidratantes. É vero! Aos 65, aposentados por idade, agradecemos não ver luzes brancas no final de túneis com vultos desconhecidos vindo nos buscar. E quando em meio ao período em que sessenta se confunde com “cê senta e fica quieto”, vieram: um acidente, uma demissão e uma pandemia, levando-me, como diria Belchior, a ficar “mais angustiado que o goleiro na hora do gol”.

Bobagem enfrentar o tempo. Ainda mais porque, sendo abstração humana, o tempo ignora relógios, calendários. Ele simplesmente segue em frente e já sabemos nosso destino nessa dimensão. Daí que a gente corre o risco de ser um tal velho, aquele da canção de Chico Buarque:

O velho sem conselhos

De joelhos, de partida

Carrega com certeza

Todo o peso dessa vida…

Eu hein! Na real, penso que a vida só pesa quando olhamos para trás, já que não temos ideia do que teremos pela frente. Assim, o passado é lastro (gosto dos lastros que me norteiam!), mas o tempo que nos virá é o que merece maior atenção, planejamento, cuidado…  Quanto tempo? Não sei. Pode ser uma semana, uma ou mais décadas, ou… Segundos (Nãooooo!)!   Quem quiser que meça, ou tente medir o tempo que lhe reste. Eu vou é viver e, de preferência, com um grande ziriguidum!

Ziriguidum, para alguns, pode ser um corte de cabelo, uns copos de cerveja a mais, uma noite alucinante de sexo, uma tentativa de crime perfeito, uma surra no vizinho chato… Euzinho, que nasci no mesmo dia em que D. Maria Bethânia, curto coisas mais intensas (para lembrar Sonia Braga em Aquarius), e posso até aceitar “uma pedra falsa, um sonho de valsa” desde que seja para viver uma grande paixão por alguém como Gal, cantando Folhetim (Chico, sempre ele!).

Todos as situações dos 60 em diante, citadas acima, levaram-me primeiro ao fundo do poço, intensamente! Fazendo vir à tona o Álvares de Azevedo que carrego desde a infância:

Se eu morresse amanhã, viria ao menos

Fechar meus olhos minha triste irmã…

E, mineiro, comecei a matutar. Recordando Marcinha, só sairia dessa com um bom ziriguidum. Depois de pensar, repensar, planejar, discutir, desistir, insistir, recomeçar, tudo num círculo constante vivenciado ao lado do Flávio Monteiro até que a decisão viesse. O ziriguidum! E euzinho, estagnado e velhinho da Bela Vista, com meu boné italiano e cachecol enrolado no pescoço, passei a cantarolar Raul Seixas:

Ah! Eu é que não me sento

No trono de um apartamento

Com a boca escancarada, cheia de dentes

Esperando a morte chegar…

Os sinais foram dados neste mesmo blog, também nas redes sociais. “Estou em Santos, sou de Santos. Cidade que escolhi como destino”. Concretamente e NÃO definitivo, pois continuarei aberto a outros possíveis ziriguiduns. Aos 67, que chegarão em breve, continuarei contando histórias, certamente com o mar entre os protagonistas. Aliás, Dorival Caymmi não me tem saído da cabeça e dos lábios, murmurando canções pelas praias da cidade:

Andei, por andar andei

E todo caminho deu no mar

Andei, pelo mar andei

Nas águas de Dona Janaína…

Ziriguidum é bom, recomendo a todos, todas e todes. Não importa a idade! Outras faces deste momento que vivo virão por aqui em uma série de textos que, segundo prometi ao Edison Derito, deverá ter por título “Um mineiro em Santos”. Espero continuar com a atenção de quem me leu até aqui!

Até mais!