O autor da proposta de divisão do Pará não conheceu o Estado e os paraenses que eu conheci. Teria evitado uma derrota histórica. Os eleitores negaram em plebiscito neste domingo a criação dos Estados de Carajás e Tapajós. O Pará segue em frente, sem divisões territoriais.

Quem conhece o Pará sabe que esse resultado seria previsível. Estive algumas vezes em Belém, a capital, passei por Castanhal e visitei Santa Maria. Naquele período pesquisei um pouco mais e levantei informações também sobre Breu Branco, Goianésia, Tailândia e Abaetetuba. Ficou evidente em todos esses lugares o amor e o orgulho dos paraenses pela própria terra.

A festa do Círio de Nazaré impressiona e torna o Pará inesquecível. Todo o grande Estado é filho de uma única mãe (Os autores da divisão não consideraram isso?); todo o Paraense tem orgulho de ser nortista, de pertencer à Amazônia. E dizer-se da Amazônia é mais um elemento de união, entre muitos outros.
Quando cheguei ao Pará pela primeira vez achei estranha a preocupação do Governo em buscar patos no vizinho Maranhão. Depois descobri que o verdadeiro paraense não deixa de comer pato no tucupi no dia da procissão do Círio. Iniciando-me nos deliciosos mistérios do Pará experimentei tacacá, vi a chuva chegar e ir embora rapidinho. Sobretudo gostei da gente morena, bonita, com um jeito impecável de falar nossa língua.

A língua une assim como também a amazônia, o amor pela Virgem de Nazaré, o prazer em apreciar o açaí, outra delícia paraense. O que pretendiam com a separação? Aumentar o número de políticos com seus salários astronômicos? Quem realmente se beneficiaria com isto? Há uma diferença brutal entre descentralização do poder e divisão desse mesmo poder, assim como é diferente administração eficaz de aumento da máquina administrativa.
Já quiseram separar o Triangulo Mineiro de Minas Gerais. Tudo resolvido entre os donos do poder, sem qualquer consulta ao povo, como o louvável plebiscito que acaba de impedir a divisão do Pará. Até onde soube, o Triangulo manteve-se Mineiro por conta de certo prefeito que, para não ser processado por irregularidades, votou contra a separação. O que teria dito o povo, o meu povo?
Penso que devemos aprimorar os mecanismos de votação do país já que avançamos tanto em termos de eleições computadorizadas. Escrevo isso pensando em plebiscitos menos caros, feitos via internet. Se nós somos capazes de declarar impostos digitalmente, sem riscos de problemas, porque não podemos opinar sobre outras questões, tão importantes quanto a divisão de um Estado? Pode ser um pensamento utópico; espero que um dia torne-se realidade. O que importa, sobretudo, é que a voz do povo possa ser realmente a voz do povo.
Ouso sonhar que chegaremos a um momento em que, efetivamente, será a vontade da maioria que decidirá algumas questões nacionais. Assim, o “político esperto” pensará duas vezes antes de propor divisões ou soluções duvidosas.
Boa semana para os paraenses, boa semana pra todos nós!
Nota para quem chegou recentemente:
Convidado por Sonia Kavantan participei de uma produção que percorreu parte dos Estados do Pará e do Maranhão.

Um dos objetivos do trabalho era a valorização da cultura dos dois estados e, para que isso fosse possível sobre um palco, idealizei a peça “O Casamento do Pará com o Maranhão”. Sou o autor do texto e a produção foi feita com artistas paraenses, com direção de Emanoel Freitas. Tenho um orgulho danado de ter participado deste trabalho. O início desta história está registrado aqui. As fotos que ilustram o post de hoje são desse período.