Xote, maracatu e… histórias no matolão

Trouxe tudo esse Luiz Gonzaga. O nordeste inteiro; de tão completo foi além do regional, tornando brasileiro o forró. Veio dentro do “matolão”. A “malota” era um saco e ele diz ter vindo de Bodocó!

Só trazia a coragem e a cara
Viajando num pau-de-arara
Eu penei, mas aqui cheguei…

Essa canção, Pau de Arara, Luiz Gonzaga compôs com Guio de Moraes, em 1952. Já era o Lua, apelido que ganhou pela cara redonda e simpática, e já havia criado um dos maiores clássicos brasileiros, “Asa Branca”, em 1947, em parceria com Humberto Teixeira. Também já era fato ter nascido em Exu, Pernambuco. Bodocó deve ser terra do letrista, Guio de Moraes.

São muitas peripécias até Luiz Gonzaga atingir a fama e ser respeitado como o Rei do Baião. Alguns aspectos, por exemplo, confirmam a existência de gente burra desde sempre: durante muito tempo Gonzaga foi impedido de cantar e só gravou discos instrumentais. Foram 30 discos pela Victor e, já sendo citado como maior sanfoneiro brasileiro, não conseguia colocar a própria voz em suas canções.

Outra história na mesma linha: Luiz Gonzaga tem passagem por Minas Gerais. Para ser mais preciso foi na cidade de Ouro Fino. Alguém do exército reprovou Lua em um concurso para músico, pois o candidato não conhecia a escala musical. Minha mãe, que não desculpa fácil, dirá ao ler isto: “- Um mineiro besta!”. Sem querer justificar o conterrâneo devo reiterar que há um monte de metido a sabichão que impede gente talentosa com alguma picuinha. Temos instrumentistas maravilhosos por aí e um monte de idiotas que torcem o nariz porque esses instrumentistas não sabem o que é um pentagrama, uma clave disso ou daquilo (O tal sabichão costuma não tocar nadica de nada!).

Tem o lado melhorzinho… O Exército, em Minas Gerais, pode orgulhar-se de ter tido um soldado-corneteiro, chamado Luiz Gonzaga, depois criador do Baião. Também lá em Minas aprende a tocar sanfona de 120 baixos, toca em festas nas horas vagas e, certamente, apreende o espírito da toada mineira. Sem querer forçar a barra pra minha terra, mas “Asa Branca” é uma toada. Assim que foi gravada: uma toada interpretada por um músico pernambucano, que passou a apresentar-se com chapéu de couro, lembrando o cangaceiro Lampião.

Muitas histórias de Gonzaga. Sempre que possível serão lembradas por aqui. Principalmente neste ano do centenário do nosso Rei do Baião, nascido em 13 de dezembro de 1912. Por enquanto, vamos lembrando fatos e divulgando lançamentos que prestam homenagem a Gonzaga, como o disco do Falamansa, “As Sanfonas do Rei”.

O CD em homenagem a Gonzaga

Oitavo disco do Falamansa, o CD “As Sanfonas do Rei” reúne grandes sucessos, além de lembrar outras canções, não menos belas, mas de fases mais obscuras do compositor, nas décadas de 1970 e de 1980, quando a música brasileira já enfrentava as leis mercadológicas de multinacionais que tomaram conta dos programadores musicais em nossas emissoras.

O Falamansa resgata, por exemplo, Xote Ecológico, onde Luiz Gonzaga mostra-se antenado com questões atuais, ao cantar as mazelas provocadas pela poluição. A música é dada como de 1989, ano em que Gonzaga faleceu. Além do repertório, o álbum conta com participações destacadas de Dominguinhos, Elba Ramalho e Janaína Pereira. Vale conhecer, lembrar e, com a banda, reverenciar o mestre Luiz Gonzaga.

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Bom final de semana!

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Jorge Amado ou Luiz Gonzaga?

Imaginem Jorge Amado e Luiz Gonzaga no sambódromo carioca. Junto com eles um imenso show de morenas vindas das praias de Salvador, ou dos belos recantos de Ilhéus, embaladas na avenida pela lembrança do baião pernambucano, misturando forró e samba. Eita! Pernambuco e Bahia, romance e forró! Grandes demais para virem juntos, Jorge Amado e Luiz Gonzaga serão homenageados pelos sambistas cariocas, em escolas distintas.

Luiz Gonzaga nasceu em Exu, Pernambuco, em 13 de dezembro de 1912. Jorge Amado nasceu em Itabuna, Bahia, em 10 de agosto de 1912. Este será um ano de grandes festas e homenagens no centenário desses dois homens, que são motivo de orgulho para todos nós. A escola de samba Unidos da Tijuca virá com “O dia em que toda a realeza desembarcou na avenida para coroar o rei Luiz do Sertão”. Já a Imperatriz Leopoldinense apresentará o enredo “Jorge, Amado Jorge”. Páreo duro para qualquer coração. Como escolher?

Quando criança, muito criança, mamãe cantava enquanto cuidava de mim:

Tava na peneira, eu tava peneirando

Eu tava no namoro, eu tava namorando… 

Lá nos rincões de Minas fui embalado com canções de Luiz Gonzaga. Depois, já adolescente, a literatura entrou definitivamente em minha vida com “Os Capitães da Areia”. Fiquei, desde então, apaixonado pela Bahia, com seus orixás poderosos e sua gente morena. Através da literatura de Jorge Amado sonhei ser escritor.

No próximo desfile das escolas de samba teremos a história desses dois ídolos contadas pelo carnaval do Rio de Janeiro.  Os compositores do samba da Unidos da Tijuca são: Vadinho, Josemar Manfredine, Jorge Callado e Silas Augusto. Certamente terão o samba de enredo comparado com as inesquecíveis criações de Luiz Gonzaga. Já os compositores da Imperatriz Leopoldinense, Jeferson Lima, Ribamar, Alexandre D’Mendes, Cristovão Luiz e Tuninho Professor serão julgados pela capacidade em sintetizar a magia de Jorge Amado nos versos do samba da escola. Um páreo duro, difícil.

O pavilhão da Unidos da Tijuca

O samba, a bateria, as alegorias, as baianas, as passistas; muitos e variados elementos para narrar a trajetória vitoriosa de Jorge Amado e Luiz Gonzaga. Provavelmente serão décimos que decidirão a escola vencedora. E se a dificuldade fosse escolher apenas entre Jorge Amado e Luiz Gonzaga… O carnaval carioca ainda terá Portinari, pela Mocidade Independente de Padre Miguel, e Romero Brito será lembrado pelo G.R.E.S. Renascer de Jacarepaguá, só para ficar nas personalidades que serão homenageadas pelas escolas. Tem mais, muito mais… Vamos torcer para que este seja um grande e inesquecível carnaval.

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Até!

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