
30 anos sem Clara Nunes! Na próxima terça-feira lembramos aquela que está entre as maiores sambistas brasileiras, mineiríssima Clara das Gerais, falecida em 02 de abril de 1983. Uma morte ingrata para uma jovem com apenas 40 anos de vida, que colhia os frutos de uma carreira de imenso e merecido sucesso.
Algumas faces dessa cantora inesquecível: Quando a gente pensa em forró, quem se lembra de Clara Nunes em “Feira de Mangaio”, “Viola de Penedo”, com a mais pura e esfuziante alegria nordestina? A brasilidade da cantora atravessa regiões e ela manda bem no forró do mestre Sivuca.
“Fumo de rolo, arreio e cangalha
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Bolo de milho, broa e cocada
Eu tenho pra vender, quem quer comprar…”
Se for para lembrar alguém que gravou grandes poetas, aparece o nome de Clara Nunes em canções como “Tu que me deste o teu cuidado” (Manuel Bandeira) e “Ai,quem me dera” (Vinícius de Moraes)? Esta canção do grande mestre tem poucos registros; quem conhece a gravação de Clara Nunes entende a dificuldade em sobrepujar a interpretação da cantora.
“Ah, se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem ser casais…”
Creio que algo irá ser dito sobre os grandes sambas, os sucessos estrondosos. Quero, aqui, enfatizar a cantora de diferentes “Brasis”. Em rodas de capoeira, por exemplo, encontramos invariavelmente muitos marmanjos suados, desafinados, mas com muita ginga. Dá para imaginar, no meio dos caras, a voz límpida e afinada de Clara Nunes em “Fuzuê”?
“Eh, fuzuê
Parede de barro
Não vai me prender…”
Entrando no que há de mais representativo em Minas Gerais, a cantora da terra entrou de sola na obra de Guimarães Rosa, dá para somar a voz de Clara Nunes e um falar todo sertanejo em “Sagarana”?
“… quem quiser que cante outra
Mas à moda dos gerais
Buriti: rei das veredas
Guimarães: buritizais!”
É fácil pensar em Clara Nunes entre as maiores cantoras desse país. Dona de uma enorme extensão vocal, ela soube usar esse potencial com um repertório caracterizado pela grande diversidade. Nos discos de Clara Nunes tem fado e rancho; tem jongo, valsa, bolero e… Samba!
Os sambas cantados por Clara Nunes são antológicos. Para voltar às raízes africanas ela foi além da Bahia; foi para Angola, assumindo contas, pulseiras, turbantes e gingado, muito balanço e força rítmica.
Admiro seu jeito mineiro de ser feminista. Criou seu teatro, para ter e propiciar um lugar de trabalho e gostava de ser independente. Teve um olhar atento para compositoras como d. Ivone lara, assim como realizou gravações memoráveis com Clementina De Jesus, juntas homenageando a Menininha Do Gantois.
Pra registrar preferências, tenho duas paixões na voz de Clara Nunes: “Sabiá” (Tom Jobim e Chico Buarque) e “Basta um dia” (da peça Gota D’Água, Chico Buarque e Ruy Guerra). Todas as outras que me perdoem, mas nessas, só ouço a grande cantora mineira.
30 anos sem Clara Nunes. Ficaram os vários discos e a voz inesquecível que Alcione chama de volta, como ninguém:
“Clara
Abre o pano do passado
Tira a preta do serrado
Põe Rei Congo no Gongá
Anda
Canta o samba verdadeiro
Faz o que mandou o mineiro,
Ó mineira!”
Clara Nunes é para ser lembrada; sempre!
.
Até!
.
Notas Musicais:
Feira de Mangaio – Glorinha Gadelha / Sivuca
Ai, quem me dera! – Vinícius de Moraes
Fuzuê – Romildo S. Bastos/ Toninho
Sagarana – João de Aquino/Paulo César Pinheiro.
Mineira– João Nogueira/Paulo César Pinheiro.
Curtir isso:
Curtir Carregando...