
O marmanjo chegou todo pimpão perante minha amiga e, apresentando-se, anunciou a profissão:
– Trabalho no ramo da construção civil!
A moça depois descobriu que o indivíduo era servente de pedreiro. Alfabetizado, chegado a usar luvas para evitar calos e ainda, nas horas vagas, era cantor de um grupo de pagode; ou seria solista de sexteto rítmico do genuíno ritmo afro-brasileiro?
Depois do surgimento do marketing inventaram de mudar o nome de antigas profissões. Parece produto velho em nova embalagem, mas que tem dado certo, disso não há dúvidas. O exemplo de conhecimento e aceitação ampla é a morte da costureira pelo surgimento da estilista. A impressão que passa é que os profissionais sentem-se menores quando dito costureiros, mas ficam cheio das poses dizendo-se estilistas. Na real, com o avanço da produção industrial de vestuário ter um costureiro é luxo de poucos. E o indivíduo enche-se de idéias e vira estilista.
Como é que professor quer ganhar melhores salários se ainda se autodenomina professor? Penso que a classe deveria seguir o exemplo de algumas cozinheiras que, agora, atendem por culinaristas. Toda pessoa que não tem hábito de cascar batatas, tipo Ana Maria Braga, se diz culinarista. Esta do exemplo tem algumas auxiliares, um papagaio e um fone de ouvido para seguir a montagem de algo sempre já pronto…
Professor tipo culinarista não é bom negócio. É falso demais! Lembra o autor de livro que usou uma coisa chamada ghost writer. Indivíduos com alfabetização precária usam o tal ghost writer e não duvido que em breve o cidadão de livro escrito por outro entre para a Academia Brasileira de Letras. Ambos, o falso autor e o ghost writer, ganham dinheiro; já o salário do professor continua o mesmo…
As instituições de ensino já adotaram nomes diferenciados para arregimentar novos consumidores. Tipo gestão para a velha e sempre boa administração. Saca a diferença entre gestão de negócios e administração de negócios? Tudo a mesma coisa, mas o que parece certo é que dá uma grana bem maior chamar mestrado, da mesma administração, de MBA.
Quando professor brasileiro aprender a se valorizar fará como certos maquiadores, conhecidos em meios específicos como visagistas. E inventar uma boa lorota para justificar a mudança de nome. Se o visagismo é a arte de criar uma imagem pessoal personalizada (?) o maquiador é só mesmo o que coloca cremes e pós no rosto de alguém…
A maior dificuldade, penso, é encontrar um novo nome para o profissional de ensino (tem gente que usa essa expressão, fugindo de proclamar-se professor). Andam usando, por aí, a palavra coaching e sobre esse, copiei que “o coaching oferece ao cliente uma orientação nas esferas particular e profissional, com o objetivo de prepará-lo para colher frutos objetivos e assertivos tanto no campo trabalhista quanto na vida pessoal.” Obviamente que esse treinamento não implica aula, porque se for aula, diminui o preço. De qualquer forma, eu não diria que exerço a função de coaching; não gosto do som da palavra que remete a anfíbios.
O que todo professor deve recusar é ser chamado tio. Com veemência! Essa foi uma grande cilada social. Tornaram os mestres parentes de todo mundo e para parente, é cultural, paga-se pouco. O cara já tem tudo e o que ele faz pode ser feito por qualquer um; então, para que bons salários?
Por mais que um professor saiba, falta aprender a valorizar financeiramente o próprio trabalho. A mudança de nome pode ser a solução para uma sociedade que só pensa mediante a suposição de algo novo sendo consumido. Vejam bem, o tal trabalhador do ramo dá construção civil já é passado. Serventes, pedreiros, no mercado de hoje são denominados instaladores de alvenaria. Merece ou não um salário melhor aquele que instala alvenaria?
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Até mais!
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Nota:
As imagens deste post são detalhes de obras originais de René Magritte.