O que dizer da ação conjunta do governo e da prefeitura de São Paulo, no último domingo, em ação devastadora na “cracolândia”? Balas, bombas, cassetetes e gritos, empurrões…
Sumiram as palavras e expressões adequadas perante tanta barbárie. E os versos do poeta, falando de escravos, para assinalar outra escravidão:
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Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus?…
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Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são?…
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Existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!…
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Prefeito e Governador alardeiam religião. Rezam pra outro Deus que não esse do verso, esse Deus dos desgraçados.
A TV comenta o fato como triste “lado” da situação. Os moradores da vizinhança reclamam de “zumbis” vagando e colocando-os em perigo. Poucos clamam soluções, poucos choram os infelizes sem teto, sem lar, sem espaço. Só posso entender tanta chuva enquanto lamento do céu.
Existe um povo que a bandeira empresta…
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…
Até mais!
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Os versos acima estão originalmente em O Navio Negreiro, de Castro Alves.