Artista visual, escritora, jornalista, professora e curadora, Katian Canton estará no próximo domingo, 14 de março, 18h00 no Trem das Lives. Fernando Brengel vai conversar sobre a pluralidade dessa profissional multimídia, digna representante contemporânea de todas as mulheres homenageadas nesse mês de março. Abaixo, texto do Brengel para o encontro com Katia Canton no Trem das Lives.
Katia Canton não é de ficar parada. Jornalista pela ECA-USP, estudou arquitetura, literatura e civilização francesas e dança. Em 1984 arrumou as malas e foi a Paris como aluna do aclamado coreógrafo Peter Goss. Mas isso foi só o começo.
Após esse período, residiu oito anos em Nova York, atuando como repórter. Temporada em que aproveitou para fazer mestrado e doutorado na New York University. Como bolsista, ficou 18 meses no MoMA – Museum of Modern Art, dedicando-se a projetos de arte e narrativa, até que as saudades do Brasil falaram mais alto.
De volta, ingressou como docente na USP, ocupou o cargo de vice-diretora do MAC, Museu de Arte Contemporânea, e ministrou o curso de Estética e História da Arte. Respire, tem mais.
Artista visual e curadora, realizou exposições aqui e lá fora. E ainda arranjou tempo para escrever livros de arte e mais de 50 títulos voltados ao público infanto-juvenil, o que lhe rendeu 3 Prêmios Jabuti.Atualmente,
Katia Canton encara desafios entre o Museu da Mulher, a psicanálise e outras atividades que ela contará para a gente.
O Instituto Inhotim, em Brumadinho – MG, combina arte contemporânea, arquitetura e botânica. São 110 hectares de um espaço totalmente manipulado por mãos humanas. São centenas de obras de arte distribuídas por todo o espaço e outro tanto expostas em galerias construídas especificamente para tal fim. Além de toda infraestrutura que um local desse tipo exige há, ainda, seis jardins temáticos entre os quais se destaca o Jardim de Todos os Sentidos: são três canteiros em forma de mandala onde estão plantas aromáticas, medicinais e de efeitos tóxicos.
Os jardins temáticos são pequenos destaques em um espaço exuberante. Dele pode-se dizer que é um imenso jardim. Por todo Inhotim há caminhos abertos entre as plantas e outros, calçados serpenteando árvores, arbustos e flores. Muros de contenção bem cuidados e água farta, em fontes e lagos. Árvores frondosas, folhagens, grama… Inhotim é local para meditação silenciosa, pura contemplação.
Entre o muito que há para ser visto deixo algumas imagens registradas em rápida passagem por Inhotim; valem, sobretudo, como exemplos das possibilidades botânicas do local.
Inhotim reúne botânica, arquitetura e arte contemporânea
Quem primeiro me falou sobre Inhotim? Será que li em alguma revista, jornal? Fica lá em Minas Gerais; “um grande museu a céu aberto” foi a expressão mais frequente e, obviamente, gerando possibilidades visionárias partindo-se do que entendemos por museu, por obras expostas em espaços abertos, públicos ou privados. Depois vieram outras informações: o local, imenso, tem a arte contemporânea como prioridade e jardins inspirados em ideias de Burle Marx.
Inhotim está no município de Brumadinho, a sessenta quilômetros de Belo Horizonte. A cidade é banhada pelo Rio Paraopeba, cujo vale serpenteia pela Serra do Rola Moça. Sim, a mesma Rola Moça imortalizada no poema de Mário de Andrade. Serra e rio são responsáveis pela bruma que deu origem ao nome do local. Tanto a cidade quanto Inhotim, volta e meia, estão envoltas em neblina suave. No verão, constatado, chove muito.
Detalhe da galeria Adriana Varejão
Ficou no tempo o motivo de não ter ido a Inhotim na primeira tentativa; na segunda, foram chuvas fortes por toda Minas Gerais, danificando as estradas e causando caos temporário. Neste janeiro foi possível visitar o Instituto Inhotim. Houve chuva no primeiro dia; um mero detalhe que contribuiu para deixar o local mais bonito.
Inhotim concretiza em um único espaço três áreas absolutamente distintas e totalmente entrelaçadas: Botânica (floresta e jardim), arquitetura e arte contemporânea ocupando uma área de 110 hectares. A beleza exuberante explode ao primeiro contato e a primeira constatação é que o tempo destinado à visitação do local deve ser grande.
Flores e folhagens, árvores de pequeno e grande porte, gramíneas e parasitas formam o entorno de obras, galerias e demais construções do Instituto. Brilhantes sob a chuva, as plantas exalam perfumes distintos, suaves e, sem chuva permitem a visão de pássaros, borboletas, entre outros, que colaboram para a beleza do lugar. Caminhando pelo meio da floresta ou percorrendo vias pavimentadas (a distância pode ser suavizada utilizando-se carros elétricos que transportam visitantes entre os principais pontos do local) chega-se a pavilhões cuja arquitetura harmoniza com o ambiente.
É possível caminhar livremente por todo o espaço ou, então, seguir o mapa fornecido pela instituição e percorrer, no mínimo, três eixos distintos: O eixo laranja é tão grande quanto o eixo rosa. No amarelo concentram-se serviços locais como restaurantes, lojas e outros. Tudo com uma atenciosa recepção dos funcionários que só faz valorizar a tradicional hospitalidade mineira.
Da série Portret ale Medeii, 1979, de Geta Bratescu
Nos próximos posts volto ao tema. Para falar de Tunga, Adriana Varejão, Cildo Meireles, Doug Aitken, Hélio Oiticica… E até do significado da palavra Inhotim. Por enquanto, quero terminar este texto homenageando Bernardo de Mello Paz, o idealizador de Inhotim. Um mineiro nascido em Belo Horizonte que transformou o próprio sonho em realidade. Minas Gerais, já reconhecida pela arte colonial de suas cidades históricas, pela literatura de Guimarães Rosa, a poesia de Drummond de Andrade ou pela música de Milton Nascimento, entrou, com Inhotim, para o seleto grupo dos grandes centros mundiais da arte contemporânea.
O ato de escrever é atividade mais ou menos árdua. Pensar, arquitetar e organizar as idéias. Ordená-las em frases, parágrafos. Rever o que foi escrito, revisar, cortar tudo o que é desnecessário. Pronto. Tornado público, o texto irá ou não estabelecer um diálogo com o leitor, o receptor. E para não cessar a comunicação, vem o recomeço: Pensar, arquitetar e, sobretudo, GOSTAR de escrever.
Volto a redigir em um blog neste primeiro de setembro de 2011, dia em que TARSILA DO AMARAL, a grande pintora do modernismo brasileira, é lembrada até pelo Google. Bom sinal. Pois é parte dessa nova proposta ir além do que escrevi em blog anterior, onde priorizei a música e vez em quando abordei outras formas de arte.
Neste blog assumo nova empreitada, com a música sempre presente. Para excluir qualquer possibilidade de dúvida quanto a isso escolhi o verso de CHICO BUARQUE, da música “ASSENTAMENTO”, ao lado do meu nome. Um primeiro norte para essa caminhada. Também escreverei sobre outro assunto, área de atuação pessoal: Teatro. ARTES PLÁSTICAS, MÚSICA, TEATRO e um pouco mais, que entrará em uma categoria que denominei COTIDIANO.
E escolhi, homenageando a aniversariante TARSILA, uma reprodução do quadro “A Lua”. Uma sutil referência ao ato noturno de escrever. Desde adolescente, lá em UBERABA, cidade mineira onde nasci, quando o ato de escrever tornou-se hábito. Foi no silêncio da noite, o dia remoído, a vida tornada texto.
Tarsila nasceu em 01/09/1886.
Seja bem-vindo, caro leitor! Por gentileza, sempre que possível, troque uma idéia, deixe um comentário. Escrever é sempre para alguém, mesmo que este seja o próprio escritor. Prefiro o outro, VOCE, como interlocutor; então, se o tempo permitir, não me deixe a impressão de falar sozinho.