Fragmentos: o vai e vem da memória

Detalhe da exposição no Barroco Arte Café

O que nos vem à mente quando recordamos algum fato, alguma pessoa? Certamente não é o todo. Há imagens “padrão” que identificam e nos levam para o Egito (Pirâmides) ou Salvador (Elevador Lacerda), ou qualquer outro lugar do planeta. Diante da lembrança de um ser humano, afirmam por aí, o mais difícil é recordar a voz. Parece que a voz é a primeira coisa que esquecemos das pessoas que se vão.

Uma cidade inteira, como São Paulo, possui infinitos pontos para se memorizar e, parece, conforme a época um ou outro assume preponderância. Quando cheguei por aqui o Viaduto do Chá mantinha sua importância, mas eu me orientava e dominava a cidade pelo “alto”. Se o Pico do Jaraguá me avisava que estava chegando, as torres da Paulista, o Edifício Itália e a torre do Banespa orientava meu ir e vir, descobrindo a metrópole.

Desejei, desde a primeira ideia, ilustrar meu livro com fotos de Uberaba. E, sem dúvida, me incomodava a “paisagem” enquanto composição tradicional que, apesar de reavivar a memória carregava em si um distanciamento, uma falta de foco. Busquei sanar minhas inquietações com visões bem particulares da cidade, com ângulos precisos, que deveriam revelar, estimular e, sobretudo, reativar a memória. E usei, sem medo de ser feliz, de imagens antigas, obtidas em momentos únicos, precisos, sem me preocupar com “altas definições”.

Um conjunto significativo das imagens publicadas no livro está exposto no Barroco Arte Café. São 20. Aquelas que, representativas, atingiriam o leitor de toda e qualquer idade.

Quando terminamos o livro, aí já entrando o trabalho de edição e diagramação de Flávio Monteiro, as discussões e debates orientando nossas decisões e algumas premissas foram adotadas.

Temos um único grupo de crianças, de muito longe no tempo, e apenas um cidadão atual parcialmente mostrado nas fotos. No mais, a cidade é quase deserta, devendo ser preenchida por quem a vê, pelas recordações e vivências do leitor. O preto e branco leva a que o receptor veja no tom que queira, com quietude esmaecida pelos anos ou com as cores da festa, do momento vivido.

Algumas “sutilezas” estão evidentes. O descaso para com prédios históricos, o desmatamento desnecessário, um arame farpado aqui, uma grade ali e, por aí vai. É o receptor que, disposto ou não, passará por cada detalhe detendo-se ou não diante do detalhe da imagem.

A exposição “Fragmentos: O vai e vem da memória” ficará no Barroco Arte Café até o dia 22 de dezembro. Os livros também podem ser adquiridos no local. Quem não pode ir até a cidade mineira pode ter uma ideia da exposição no velho casarão ocupado pelo espaço cultural. Para aquisição de livros e quadros (Sim, estão à venda) converse com o pessoal do local. São simpáticos e atenciosos.

Até mais!

Quase todos e + memórias

Um registro visual da maioria dos presentes nos eventos de lançamento de “O vai e vem da memória”. Até onde me recordo estão quase todos. Lamentavelmente faltam, além de alguns amigos, o pessoal do Barroco Arte Café, em Uberaba, e o pessoal do Portella Bar, aqui em São Paulo.

Foi uma novidade, na minha carreira e na de alguns amigos, fazer lançamento de livro em locais que não livraria. Deu tudo certo e foi muito bom. Em Uberaba desfrutamos do conforto de um antigo casarão com pé-direito alto e janelas, muitas janelas. Aqui em São Paulo ficamos prioritariamente no passeio, o que facilitou o distanciamento nesses tempos tão difíceis.

Agradeço profundamente aos colaboradores de última hora – Agostinho Ermes, Adryana Gabriela e Andréia Rezende, em Uberaba; e Neusa de Souza, aqui em Sampa -, e também aos parceiros neste trabalho: Sonia Kavantan, João Eurípedes Sabino, Simone Gonzalez, Fernando Brengel e um, especialíssimo, ao meu companheiro Flávio Monteiro.

O lançamento, em Uberaba, só foi possível com o apoio de Walcenis, minha irmã, e Carmen Veludo, fundamentais para que a logística pensada se tornasse realidade. Na terrinha, tivemos o apoio de Kiko Pessoa, do Barroco Arte Café, e aqui em São Paulo, Sérgio “Bahia”, no Portella, ambos nos acolhendo e facilitando-nos as ações pensadas.

A0s meus familiares, amigos, colegas, ex-alunos, conhecidos, meu muitíssimo obrigado. Um monte de coisas para mais memórias!

Agora é seguir em frente. A exposição, em Uberaba, permanece até dia 22. Os livros já estão disponíveis para venda neste blog e, em breve, anunciaremos os eventos previstos para prosseguimento deste trabalho.

Muito obrigado!

Valdo Resende / Dezembro de 2021

Livro transita entre Uberaba e São Paulo

Link do original: Jornal de Uberaba – Cultura

Meu agradecimento ao Luiz Hozumi, do Jornal de Uberaba, autor da publicação acima.

O Vai e Vem da Memória, de Valdo Resende, é convite para uma viagem de descobertas: se corajoso o suficiente para embarcar, o leitor se surpreende e se transforma.

Por Simone Gonzalez

“Esse ir e vir também alude aos trens nos trilhos da Mogiana”

Em As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, o imperador mongol Kublai Khan exige que o aventureiro Marco Polo descreva as diversas cidades pelas quais ele supostamente teria passado. Visto que negar algo a Kublai Khan provavelmente lhe custaria a vida, Marco Polo esmera-se em narrativas que criam cidades, alimentando o imaginário do imperador. Em As Mil e Uma Noites, Sherazade também teve de fazer o mesmo: contar histórias de reinos distantes para envolver o rei em suas narrativas e preservar a própria sobrevivência.

Valdo Resende, autor de O Vai e Vem da Memória, não compõe sua obra subjugado aos desígnios de um tirano, mas por meio dela certamente imortaliza a sua história e a da cidade de Uberaba, em Minas Gerais. O livro apresenta uma tessitura de contos que compõem, aos poucos e sensivelmente, a história de uma vida: a vida de um brasileiro migrante, contexto que nos é tão familiar, mas sobre o qual raramente refletimos. A obra nos traz, portanto, a oportunidade de reflexão e de reencontro com nossas origens.

Valdo Resende toma o leitor pela mão e a viagem pela cidade de Uberaba começa. Sem compromisso temporal, somos envolvidos pelas memórias do autor que acabam se misturando com nossas próprias narrativas.

A acuidade descritiva de Valdo ressalta a delicadeza do seu olhar para cada detalhe: de um poste de luz ao igualmente iluminado olhar da professora de infância; da intimidade dos quintais à popularidade nacional dos compositores e artistas uberabenses; do prato de família, à gastronomia e festas internacionalmente apreciadas.

O vai e vem não diz respeito apenas à memória de Valdo Resende. Esse ir e vir também alude aos trens nos trilhos da Mogiana, ao circo que chegava e partia da cidade, às idas e vindas dos turistas em busca das palavras de esperança de Chico Xavier. São movimentos que embalam o leitor por meio de uma linguagem peculiarmente bairrista, extraordinariamente universal. É a habilidade de expressão do autor que propicia uma relação afetiva do leitor com os espaços e personagens de Uberaba e com os laços e nós das cidades que remontam nossas próprias histórias e memórias, pois quase todo brasileiro é migrante e tem, em terras alhures, rastros de seu sangue.

A obra de Valdo Resende é, pois, uma celebração à vida de quem não teme caminhar porque faz de seus percursos e memórias a construção de sua identidade.

Serviço:

O vai e vem da memória – Valdo Resende
ISBN 978-65-00-00287-4
Elipse – 312 páginas – R$ 65,00

Evento de lançamentos:
27 de novembro/2021 – 16h00 às 18h00
Barroco Arte Café – Rua João Pinheiro, 213
Uberaba – MG

04 de dezembro/2021 – 15h00 às 18h00
Portella Bar
Rua Professor Sebastião Soares de Faria, 61 –
Bela Vista – São Paulo – SP

A memória somos nós

Por Fernando Brengel

Lembro perfeitamente do dia em que, montado no meu possante carrinho de rolimã, saí em último e cheguei em primeiro.

Mal senti o sabor da vitória. Um capote cinematográfico no final da ladeira em que tirávamos o racha me levou a conhecer um balde de Merthiolate e uma dor terrível. Posso senti-la como se fosse hoje.

Quem não guarda na memória fatos como esse, sensações, odores, sons, alegrias, medos? Quem não busca dentro de si aprendizados, experiências?

A memória somos nós. É a única companheira que não nos larga nesse e, como creio, no plano para o qual, um dia, partiremos.

A memória não mente. Não julga. Quem se esconde dela, muitas vezes, somos nós, temendo facear atitudes inconfessáveis, gestos desnecessários, práticas condenáveis.

Na mão contrária, lançamos mão de suas benesses quando buscamos as lembranças de momentos felizes, de experiências prazerosas, daquilo que nos destaca. Enfim, de tantos momentos positivos construídos, vivenciados.

Não conheço Uberaba, não tenho a menor ideia da sua configuração. Exceto por fotos, nunca senti a sensação de pisar no mineiro solo de suas ruas, praças, avenidas. Isso até ler o “Vai e vem da memória” de Valdo Resende.

Mais que Uberaba, conheci um pouco do seu Bino, pai do Valdo, da dona Laura, sua mãe. Uma mulher decidida, que se fosse necessário espantava a bala, como o fez, um meliante que tentou invadir a sua casa. Uma das partes mais engraçadas do livro.

Entre fatos hilários, como o da dona Laura, passagens doloridas, conquistas e sonhos, o autor tece pensamentos que nos levam a fazer um balanço da nossa própria existência.

Uma viagem pela terra natal, a família, os amigos e as paixões, que serve como combustível para refletirmos a respeito de nossas trajetórias.

A obra, bem escrita, digna de um autor que nos brinda com o terceiro livro, fora os vários textos assinados para teatro, é de leitura ininterrupta. Daqueles volumes que a gente começa e só larga no ponto final.

Valdo abriu definitivamente o coração em o “Vai e vem da memória”. Acertou as contas consigo e retratou, sem abusar das tintas, o que o tornou o ser humano que é. Tocou, de acordo com a sua régua, em temas repletos de humanidade. Escolheu a prosa para mostrar a poesia do tempo. Um tempo repleto de ensinamentos, emoções e vida. Um bela e produtiva vida.

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Serviço:
O VAI E VEM DA MEMÓRIA – Valdo Resende
Elipse, Arte e Afins Ltda.
312 páginas – R$ 65,00

EVENTOS DE LANÇAMENTO:

UBERABA – MG 27/11/2021 – 16h00 ÀS 18h00
BARROCO ARTE CAFÉ – Rua João Pinheiro, 213

SÃO PAULO SP – 04/12/2021 – 15h00 ÀS 18h00
PORTELLA BAR – R. Professor Sebastião Soares de Faria, 61 – Bela Vista.

Uma senhora rua, no Bixiga!

Nossa rua, esse movimentado “sanduíche de vento”

Quem diria! Vou lançar meu livro “O vai e vem da memória” na rua onde nasci, em Uberaba, e na rua onde moro, no Bixiga. Este é conhecido oficialmente como Bela Vista, um antigo bairro da capital, São Paulo. É representativo e impossível não mexer com minhas emoções. Neste momento olho para a janela e vejo toda a minha rua. Toda! Um pequeno quarteirão, com um edifício de cada lado fazendo o popular sanduíche de vento.

Começando na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, onde os dois citados edifícios fazem esquina, a Rua Professor Sebastião Soares de Faria termina na confluência das Ruas Monsenhor Passaláqua e Artur Prado. Uma rua pequena, mas intensa! Sinta o lance, caro leitor: Nesse pequenino quarteirão estão 4 bares, 3 restaurantes, 2 cafés, 1 armarinho, 1 doceria e 1 cabeleireiro. E entre os moradores, “euzinho”!

Da janela do quarto, ou da sala, já vi incontáveis situações ao longo desses vinte e tantos anos. Ensimesmado olhei para o céu, tentando recuperar o céu azul de Uberaba, e pelas mesmas janelas observei o nada, já que o pensamento estava povoado de memórias. Como diriam meus avós, conversa não enche barriga, daí, ao bater a fome é descer e escolher uma bela variedade de sandubas, comida japonesa, árabe ou… nordestina!

“O vai e vem da memória” é o livro de um migrante que, em São Paulo, recorda a própria origem enquanto caminha no espaço e no tempo dentro da grande cidade. O autor mora em frente ao bar especializado em comidas do nordeste. Pronto! Um encontro de migrantes com o povo de São Paulo no lançamento de um livro. O bar é o Portella!

Fundado em 1969, o Portella bar é referência em boa comida: petiscos que estão entre os melhores da capital, torresmo, baião de dois, feijoada aos sábados e, dessas coisas que só acontecem em São Paulo: popularmente, aqui na rua, a gente diz que o Portella é restaurante baiano. Neste, sempre que há jogos do Atlético Mineiro, uma grande quantidade de torcedores do clube exerce o ofício de torcer com a mesma paixão daqueles que estão dentro dos estádios. Independendo do resultado dos jogos, o bom humor é garantido pela boa comida e bebida gelada.

E assim, somarei dois momentos especiais na minha trajetória. Primeiro, em Uberaba, quando o livro será lançado no Barroco Arte Café, que fica na Rua João Pinheiro, por onde entrei no planeta. Depois, volto para casa, para o Bixiga, minha Bela Vista. Em dado momento, descer, atravessar a rua e receber os amigos no Portella para o lançamento do livro na “minha rua”. É ou não é um privilégio raro!?

Espero dividir esses momentos com todos os familiares, amigos e conhecidos. Vejam as datas:

Nos encontraremos!

Nada mais universal que a memória


Por Flávio Monteiro

O livro “O vai e vem da memória” é uma coleção de crônicas e contos escritos por Valdo Resende sobre sua querida cidade natal, Uberaba, durante vários anos de vai-e-vens entre esta e São Paulo, onde fixou residência.

Os textos foram organizados sem ordem cronológica, hierarquias de importância ou grupos temáticos; assim como a memória, os textos fluem livremente e estabelecem entre si conexões, prováveis ou não.

O mesmo mecanismo da memória se manifesta, também, com fragmentos do texto que dá nome ao livro distribuídos como um quebra-cabeça ao longo de toda a obra, e diversas fotos que hora lembram textos passados, hora antecipam leituras posteriores. Vai e vem dos textos, das fotos… E da memória.

O leitor de Uberaba certamente vai se reconhecer nestas páginas, escritas de longe e de perto da cidade. O de São Paulo, talvez maior símbolo da (i)migração no Brasil – Paulicéia desvairada -, vai se identificar com tantas histórias sobre uma cidade que será sempre sua, ainda que o tempo transforme e afaste ambos. E os leitores do mundo terão um livro particular, porém universal – pois nada mais universal que a memória.

Serviço

O vai e vem da memória – Valdo Resende
Elipse, Arte e Afins Ltda.
312 páginas – R$ 65,00
Lançamento: 27 de novembro/2021 – 16h00
Barroco Arte Café – Rua João Pinheiro, 213 – Uberaba – MG