Em tempos de sambas de enredo longos, complicados, nada melhor do que lembrar as marchas que, entra ano e sai ano, são a alegria dos foliões. Compositores, carnavalescos e dirigentes de escolas de samba deveriam atentar para o carnaval de rua voltando com tudo até em São Paulo. Sempre com alegria e músicas que encantam e alegram a festa.
Um bom carnaval carece de gente bamba e entre os bambas há um compositor dos bons: JOÃO DE BARRO, o BRAGUINHA (CARLOS ALBERTO FERREIRA BRAGA – 1907/2006). Quem nunca cantou uma marchinha carnavalesca de Braguinha?
“Yes, nós temos bananas
Bananas pra dar e vender
Bananas, menina, têm vitamina
Banana engorda e faz crescer…”(1)
Descomplicado. Próximo de tudo o que é popular. Este é BRAGUINHA. Nada de grandes malabarismos temáticos; sem pretensões de sociólogo ou antropólogo. É carnaval, é alegria, uma brincadeira para todo cidadão.
“Ô balancê, balancê
Quero dançar com você
Entra na roda, morena, pra ver
O balancê, balancê…” (2)

A música de BRAGUINHA é marota, essa palavra meio esquecida em tempos difíceis como o nosso. O compositor encanta pela simplicidade, por uma sensualidade suave, brejeira, que permite o galanteio (atitude também meio perdida nas baladas contemporâneas) com a elegância do indivíduo de bem com a vida.
“Lourinha! Lourinha!
Dos olhos claros de cristal
Desta vez em vez da moreninha
Serás a rainha do meu carnaval…” (3)
Nossos carnavalescos (os “donos” dos temas das escolas, cujas sugestões são transformadas em sambas de enredo) adoram situações exóticas, diferentes, levando as nossas escolas a grandes viagens. BRAGUINHA, sempre descomplicado, mas com uma eficiência invejável, levou-nos para a Martinica, imortalizando uma tal Chiquita (4) e transportou-nos para as Touradas em Madri com aventura e muito humor. Sem muito lero-lero.
“… Eu conheci uma espanhola
Natural da Catalunha
Queria que eu tocasse castanhola
Que pegasse touro à unha…” (5)
Poucos e eficientes versos, música inspirada e a alegria está garantida. PIRATA DA PERNA DE PAU (6) e PIRULITO (7) estão entre as composições de BRAGUINHA, ainda presentes nos carnavais atuais, onde o povo canta e dança sem a busca desesperada do primeiro lugar dos integrantes de escolas de samba.
É bom frisar que gosto muito de escola de samba. Quando não estou na arquibancada, nem na “passarela”, fico horas frente à TV vendo os desfiles (e me irritando com as transmissões mal feitas!). Sinto falta de bons sambas-enredos. Hoje em dia, via de regra, os sambas de enredo são cantados apenas por integrantes das escolas e raramente vão além do carnaval. Raras exceções, os sambas das grandes escolas são músicas “consumidas” e logo substituídas pelo tema do próximo ano.
Acredito que um caminho para o carnaval é beber nos grandes mestres. Música simples, com letras brejeiras, alegres, como as de BRAGUINHA e seus parceiros, destaque especial para Alberto Ribeiro e Noel Rosa.
O bom de carnaval é a brincadeira, é cantar e dançar ao som de uma boa música. Que tal pesquisar, lembrar e cantar nossos grandes mestres? João de Barro, o Braguinha, é o autor de Carinhoso (com Pixinguinha), fez a versão de Luzes da Ribalta (Charles Chaplin) totalizando cerca de 400 músicas gravadas. Assim, sem mais, vamos concluindo este post com uma das mais belas músicas do carnaval brasileiro:
A estrela Dalva
No céu desponta
E a lua anda tonta
Com tamanho esplendor… (8)
Até!
Notas :
(1) Yes, nós temos bananas – João de Barro/Alberto Ribeiro (1938. Gravação original de ALMIRANTE).
(2 )Balancê – João de Barro/Alberto Ribeiro (1937. Gravação original de CARMEN MIRANDA, sucesso também no carnaval de 1980 na voz de GAL COSTA).
(3)Linda Lourinha – João de Barro.(1934. Gravação original de SYLVIO CALDAS).
(4) Chiquita Bacana – João de Barro/Alberto Ribeiro (1949. Gravação original de EMILINHA BORBA).
(5) Touradas em Madri – João de Barro (1938. Gravação original de ALMIRANTE).
(6) Pirata da Perna de Pau – João de Barro (1947. Gravação original de NUNO ROLAND).
(7) Pirulito – João de Barro/Alberto Ribeiro (1939. Gravação original de NILTON PAZ e EMILINHA BORBA).
(8) Pastorinhas – João de Barro/Noel Rosa (1938. Gravação original de SYLVIO CALDAS).