O livro “O vai e vem da memória” é uma coleção de crônicas e contos escritos por Valdo Resende sobre sua querida cidade natal, Uberaba, durante vários anos de vai-e-vens entre esta e São Paulo, onde fixou residência.
Os textos foram organizados sem ordem cronológica, hierarquias de importância ou grupos temáticos; assim como a memória, os textos fluem livremente e estabelecem entre si conexões, prováveis ou não.
O mesmo mecanismo da memória se manifesta, também, com fragmentos do texto que dá nome ao livro distribuídos como um quebra-cabeça ao longo de toda a obra, e diversas fotos que hora lembram textos passados, hora antecipam leituras posteriores. Vai e vem dos textos, das fotos… E da memória.
O leitor de Uberaba certamente vai se reconhecer nestas páginas, escritas de longe e de perto da cidade. O de São Paulo, talvez maior símbolo da (i)migração no Brasil – Paulicéia desvairada -, vai se identificar com tantas histórias sobre uma cidade que será sempre sua, ainda que o tempo transforme e afaste ambos. E os leitores do mundo terão um livro particular, porém universal – pois nada mais universal que a memória.
Serviço
O vai e vem da memória – Valdo Resende Elipse, Arte e Afins Ltda. 312 páginas – R$ 65,00 Lançamento: 27 de novembro/2021 – 16h00 Barroco Arte Café – Rua João Pinheiro, 213 – Uberaba – MG
O vírus assombra o planeta,
Assusta, deixando-nos no devido lugar.
Somos frágeis, indefesos,
Meros mortais.
O vírus avança lá,
Recua acolá,
aparece por aqui
O bicho-papão da infância
Volta em forma de realidade.
O medo antecede o vírus
O terror televisionado
Anônimos infectados
Anônimos mortos.
E as bolsas caem!
Feito ratos astutos
Feito baratas treinadas
Investidores preparam o bote
Recuam para melhor lucrar com a morte.
O vírus, tragédia anunciada
Pede serenidade perante o cadafalso
Resignação.
Medo mesmo, vem dos obtusos
Dos contaminados disfarçados
Dos propagadores irresponsáveis.
Medo maior dos donos das coisas
Das bolsas retraídas
Dos investimentos suspensos.
Para que água tratada?
Para que esgoto na periferia?
A hora é de investir em laboratórios
Distribuidores, vendedores de vacinas.
Medo dessa gente
Que lucra com o câncer
Com os tratamentos sofisticados
O dinheiro retraído para o próximo bote
O vírus, silencioso
Não discrimina ricos
O que é vantagem para o pobre.
A vacina, se vier,
Quando vier
Terá que ser para todos.
Neusa de Souza, Roberto Arduin, Conrado Sardinha, Rogério Barsan e Isadora Petrin. Foto: João Caldas
Gente de teatro é meio louca, dizem. Vai ver têm razão, já que é preciso uma boa dose de insanidade para estrear uma peça infantil anticonsumo no Dia da Criança. Faz um ano que Ramiro iniciou sua trajetória por palcos da capital paulista tendo realizado temporadas também em Maringá, no Paraná e em Campina Grande, na Paraíba. Faz um ano que estreamos oficialmente no bairro Sapopemba, no dia da criança, em um projeto de educação financeira visando ensinar crianças e seus responsáveis a administrar o suado dinheirinho que entra com dificuldade e sai feito água no ralo.
Ramiro, o garoto que criei, quer o mundo em forma de brinquedos. E a peça gira em torno do fato de que a vida não é bem assim. Um ano depois e Ramiro continua nos palcos paulistanos. Certamente transformado via uma mudança aqui, um corte ali, sem contar o próprio amadurecimento de cada ator no domínio do ofício que burila e descobre nuances em personagens e cenas. Mas é dia de aniversário de Ramiro, o menino quer presentes – o que leva a personagem a ter identificação com o público infantil – e as demais personagens vão brincar e tentar ensinar ao garoto a necessidade de economizar, investir, planejar…
Pensar que o Dia da Criança surgiu por vontade de um político, por volta de 1920, me faz pensar em apelação ordinária, em busca de votos via sentimentalismo barato. A data adquiriu sua sina consumista pela ação de duas empresas, uma indústria de brinquedos e outra com forte linha de produtos infantis. Vamos vender muito em todos os 12 de outubro e deixar para novembro, dia 20 para ser preciso, a reflexão sobre a Declaração Universal dos Direitos da Criança, data que lembra o dia em que a Unicef proclamou os tais direitos infantis.
Ramiro tem direitos e alguns deveres também. O mais difícil provavelmente é aprender a conter a ambição em ter tudo, redescobrir o lado bom de brinquedos simples, valorizar as relações de amizade e parentesco. As reações são diversas e normalmente a plateia infantil se mostra inquieta. Coloque-se no lugar de quem quer o máximo do que o mercado oferece e assiste um trabalho que prega contenção de gastos… Trabalho difícil, mas que nosso pessoal vem defendendo com raça e brilho.
Neusa de Souza, Roberto Arduin e Rogério Barsan trazem o lúdico para a cena, jogando com elementos simples que transformam ambientes e situações. Suas personagens conduzem a ação e são responsáveis pelo desenvolvimento da peça. Isadora Petrim faz afetivo contraponto ao primo, brincando de ser a prima mais amadurecida, companheira no crescimento do primo. Conrado Sardinha é o garoto Ramiro, fazendo este de tal maneira que encanta e ganha a cumplicidade da plateia.
Nossa Produtora Sonia Kavantan nos propiciou a música de Flávio Monteiro, os cenários de Djair Guilherme, os figurinos e adereços de Márcio Araújo, as fotos de João Caldas, a identidade visual criada por Fernando Moser com ilustrações de Octavio Cariello, a assistência de Milka Master e Lilian Takara. Companheiros do elenco em toda a jornada, Tiago Barizon administra, William Gutierrez opera som e André Persant faz a luz, criada por Ricardo Bueno. Realização da Kavantan Projetos e Eventos Culturais, com patrocínio da VISA e da Lei de Incentivo à Cultura.
Hoje não há bolo de aniversário, nem salgadinhos, docinhos, refrigerantes. Há meu carinho, imenso, por toda essa gente que vem trabalhando nessa montagem. E muita gratidão. A mensagem de “Um Presente Para Ramiro” é uma minúscula gota na contramão do consumo desejado pelo mundo capitalista. Mas somos gente de teatro e por isso insistimos. E não desistiremos nunca!
Flávio Monteiro, o compositor de Um Presente Para Ramiro, nos convida para o evento que será na EMESP, Escola de Música do Estado de São Paulo – Tom Jobim:
“No dia 4 de setembro, às 18h30, acontece a mesa redonda Tecnologia e Poética: A Poiesis da Música Acusmática no Auditório Zequinha de Abreu. Na ocasião, os compositores Flávio Monteiro, Gabriel Duarte, Gabriel Müller, Gabriel Xavier, Pedro Yugo Sano Mani e Wellington Gonçalves, farão uma explanação histórica sobre os primórdios da música acusmática, como também uma discussão sobre os ecos e sua produção nos dias de hoje, abordando as problemáticas relacionadas ao material sonoro, processos composicionais, tecnologia e escuta.
Ao final da mesa redonda, os compositores vão apresentar obras acusmáticas, que serão difundidas por alto falantes estrategicamente posicionados no auditório, de modo que a escuta do público possa perceber a trajetória que o som ocupa no espaço.
Mesa Redonda- 18:30 Concerto- 19:30
A EMESP fica no Largo General Osório, 147 – Luz, São Paulo – SP.
Um Presente Para Ramiro, a peça que segue em cartaz percorrendo diversos centros culturais paulistanos, tem música de Flávio Monteiro. É o terceiro projeto em que faço parceria com esse jovem compositor de São Bernardo do Campo. São dele as trilhas do Arte na Comunidade 3, na Baixada Santista e do Arte na Comunidade 4, no Vale do Paraíba. Em todos esses trabalhos Flávio assina também a direção musical.
Clique no link abaixo para ouvir a canção de abertura de Um Presente Para Ramiro.
Da esquerda para a direita, Roberto Arduin, Neusa de Souza, Rogério Barsan, Conrado Sardinha e Isadora Petrin. A foto é de João Caldas.
Já certo de contar com o parceiro tenho escrito meus textos pensando e propondo letras que permeiam o enredo, ilustram cenas, contam outras e acrescentam elementos ao universo abordado. No caso de Um Presente Para Ramiro fizemos questão de resgatar alguns brinquedos simples, antigos e acessíveis economicamente. Gente de todas as idades curtem bilboquê, ioiô, boneco acrobata e tantos outros brinquedos que, no palco, são apresentados a Ramiro através da música, link que segue:
Isadora Petrin, Roberto Arduin e Conrado Sardinha. Foto João Caldas
Ao idealizar a peça veio a personagem Miguel, o avô de Ramiro. Pessoalmente tenho ojeriza quando vejo colocarem a figura dos avós como aqueles que mimam os netos, desconsiderando a grande importância desses na vida de toda pessoa. Avós educam e amorosamente transferem conhecimento advindo da experiência e maturidade que o tempo propicia. O avô Miguel, chamado de Mestre Abuelo pelos netos, é criativo, carinhoso e brincalhão, sem deixar de lado a coparticipação na educação dos netos. Com Ramiro e com a neta Valentina, Miguel faz viagens de faz de conta, propiciando conhecimento e estimulando a imaginação das crianças. A música de Flávio Monteiro conta a fórmula dessa brincadeira.
Meu processo de trabalho com o Flávio Monteiro é simples. Eu escrevo o texto, proponho letras e, destas ele põe versos, tira versos, troca palavras… tudo em nome de uma tal de prosódia. De vez em quando rola uns impasses, mas em nome do equilíbrio entre letra e frase musical e pensando no bem maior que é a montagem entramos em acordo.
Rogério Barsan e Neusa de Souza. Foto João Caldas
Em Um Presente Para Ramiro alertamos para os sonhos de nossos pais. Muitas vezes, interessados em realizar nossos desejos nos esquecemos que pai e mãe são seres humanos com vontades, sonhos e projetos. Os pais de Ramiro contam sonhos através de canções, links abaixo.
A trilha completa de Um Presente Para Ramiro, com as canções acima e outras, os temas instrumentais, estão neste link:
Flávio Monteiro. Foto do arquivo da produção.
Interpretadas pelos atores que participam da montagem, a trilha sonora da peça conta com a participação dos seguintes músicos:
Daniel Maier – teclado
Fernando Brandt – contrabaixo acústico e elétrico
Flávio Monteiro – violão, guitarra e piano
Joachim Emidio – bateria
Gravação e edição de som – Cristofer Rezende e Xico Leite
Patrocinado pela Visa, “Um Presente Para Ramiro” é uma realização da Kavantan, Projetos e Eventos Culturais, Ministério da Cultura e Governo Federal.
Neusa de Souza, Roberto Arduin, Conrado Sardinha, Rogério Barsan e Isadora Petrin. Foto: João Caldas
Dia 12 próximo vamos estrear UM PRESENTE PARA RAMIRO em Sapopemba. São Paulo é uma cidade imensa e, por exemplo, só estive uma única vez em Jaçanã, nunca estive no bairro Cangaíba e o Grajaú continua sendo, na minha cabeça, citação de canção interpretada por Carmen Miranda. Não conheço o Sapopemba e lá vou eu, certamente “com a roupa encharcada, a alma repleta de chão”.
Eu estava com 26 anos quando Milton Nascimento gravou Nos Bailes da Vida, a belíssima canção feita em parceria com Fernando Brant. Tateando profissionalmente eu tinha um imenso desejo: seguir firme no propósito de que “todo artista tem de ir aonde o povo está”. Havia começado assim, lá em Uberaba, com o grupo da Paróquia de Nossa Senhora das Graças, quando comecei a fazer teatro. Meu primeiro palco foram mesas encostadas umas nas outras e, tempos depois, percorríamos os bairros da cidade no Circo do Povo. Depois vim para Santo André, no ABC, e o destino quis que meu primeiro trabalho fosse em palco e plateia improvisados na Vila Luzita.
Minha trajetória teatral tem estreias incomuns se considerarmos a carreira de autores e diretores nacionais. Sapopemba entra no capítulo em que já se encontram outras localidades.
Castanhal, no Pará, fica a 68 quilômetros da capital, Belém. E foi lá a estreia de VAI QUE É BOM, O CASAMENTO DO PARÁ COM O MARANHÃO, peça que fez extensa temporada em cidades dos dois estados do título.
Prata, no Pontal do Triângulo Mineiro, foi a cidade que recebeu a estreia de “O ATAQUE DOS TITANOSSAUROS”, abrindo a série de estreias do Arte Na Comunidade 2, com textos que escrevi, dirigindo montagens também em Canápolis, Ituiutaba e Monte Alegre de Minas.
Do litoral guardo com carinho um local aparentemente inusitado, a Casa de Frontaria Azulejada, onde estreamos “NENÊ CAMBUQUIRA, UM MINEIRO EM SANTOS” e depois fomos para praças públicas e escolas dos municípios de Praia Grande, Guarujá, São Vicente, Cubatão e, claro, a própria Santos. Em cada cidade uma estreia, um espetáculo diferente.
Pará, Maranhão, Minas Gerais, Baixada Santista, Vale do Paraíba… Sempre com Sonia Kavantan! Em projetos como o Arte na Comunidade há uma viagem preliminar, onde fazemos reconhecimento básico dos locais onde poderão ocorrer nossas apresentações. Com Sonia já estive em uma pequena cidade onde, sem restaurante, viajamos 50 quilômetros para um simples almoço. De outra feita, recordo a estradinha entre a linha de trem e o Rio Paraíba, uma ponte sobre o rio e, no outro lado, um salão onde encerraríamos o nosso trabalho na região. As estreias, no Vale do Paraíba, ocorreram em salas de aula das cidades de Cruzeiro, Lavrinhas e Queluz.
São muitos os teatros na região central da cidade e na Bela Vista, onde moro, há quantidade suficiente para que alguns entusiastas a chamem de Broadway Paulistana. Tendo já me apresentado na vizinhança, nunca estreei no Bixiga. Sabe-se lá o que nos reserva o futuro, por enquanto nosso destino é a Fábrica de Cultura de Sapopemba (R. Augustin Luberti, 300 – Fazenda da Juta, São Paulo – SP).
Sonia Kavantan, ao que tudo indica, não pensa em parar e muito menos eu. Para onde iremos da próxima vez? Deixa a resposta para depois. Toda nossa energia agora vai para Sapopemba! Para lá irão Rogério Barsan e Conrado Sardinha, com quem já dividimos outras praças e palcos e, também, Roberto Arduin, Neusa de Souza e Isadora Petrin, novos companheiros de jornada. Em Sapopemba cantaremos canções de Flávio Monteiro, que começou conosco trabalhando uma canção de Milton Nascimento, esse Milton que não me sai da cabeça à cada Sapopemba da minha vida: “Se foi assim, assim será, cantando me desfaço e não me canso de viver, nem de cantar”.
Até mais!
SERVIÇO:
“Um Presente Para Ramiro” será apresentado na Fábrica de Cultura Sapopemba, dia 12 de outubro, às 16h30. ““Ramiro, ao completar 12 anos, aprende , com a ajuda da família, que para realizar os desejos e necessidades é necessário organização e planejamento. Com muito humor e com ajuda da imaginação e da tecnologia o garoto viaja no tempo e tem um aniversário bem diferente”. Classificação livre. Entrada Franca. 290 ingressos serão distribuidos gratuitamente uma hora antes do evento. Patrocinado pela Visa, “Um Presente Para Ramiro” é uma realização da Kavantan, Projetos e Eventos Culturais, Ministério da Cultura e Governo Federal.
Volta e meia me perguntam o motivo de estar sem escrever neste blog. – Muito trabalho, respondo. – Graças a Deus! Agora está na hora de vir aqui e contar que temos novo trabalho teatral em fase final de montagem.
“Um Presente Pra Ramiro” é mais um capítulo da minha história ao lado de Sonia Kavantan, nossa produtora; reitera minha parceria com Flávio Monteiro que assina a direção musical, e entre artistas, técnicos e demais profissionais, promove reencontros e encontros muito especiais.
Lá de longe, sem nunca termos nos distanciado, volto a ter a participação de Octavio Cariello na minha carreira teatral. De longe também, quando só nos falávamos via redes sociais, veio Flávio Amado, agora nosso assistente de direção, assim como lá da universidade, de um tempo em que foi minha aluna, veio o reencontro com a atriz Neusa de Souza.
De edições anteriores do Arte na Comunidade vieram os atores Conrado Sardinha e Rogério Barsan para contracenarem, em “Um Presente Para Ramiro”, ao lado de Roberto Arduin e Isadora Petrin, atores com os quais trabalho pela primeira vez. Somando experiência de vários trabalhos, da equipe da Kavantan, Projetos e Eventos Culturais, estão presentes Lilian Takara, Milka Beatriz e Thiago Barizon.
Até aqui a equipe com a qual trabalho diariamente. Nos falamos cotidianamente e convivemos algumas horas pessoalmente, outras tantas virtualmente. Há outros profissionais envolvidos que apresentarei brevemente. Neste primeiro momento optei pelos velhos parceiros e pela turma de todo dia, de horas intensas vivenciadas na sala de ensaio. Temos pensado e vivido “Um Presente Para Ramiro” com intensidade, com a ansiedade que um trabalho de porte exige e com a alegria e o prazer de estar em algo que amamos fazer.
Há muito por contar e é o que farei em próximos posts; acompanhe por aqui todos os detalhes e a programação da montagem.
Patrocinado pela Visa, “Um Presente Para Ramiro” é uma realização da Kavantan, Projetos e Eventos Culturais, Ministério da Cultura e Governo Federal.