O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.
(Guilherme de Almeida)
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
Primeiro haicai de dezembro.
Até mais!
O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.
(Guilherme de Almeida)
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Primeiro haicai de dezembro.
Até mais!
Com o término do Arte na Comunidade 2 passo a publicar neste blog os cinco textos que fizeram parte do projeto. Será um por semana, às sextas-feiras. O objetivo é registrar e tornar as histórias acessíveis aos interessados, principalmente aos habitantes das cidades envolvidas.
A primeira cidade, aqui o critério é alfabético, é Canápolis. “O Enigma” foi o monólogo interpretado por JOSÉ LUIZ FILHO. As imagens são de THANERESSA LIMA e do meu arquivo pessoal.
Havendo interesse em reproduzir o texto ou interpretá-lo, peço a gentileza da citação da origem.
Organizado pela Kavantan & Associados, o projeto Arte na Comunidade 2 foi patrocinado pela Alupar e Cemig, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e contou com o apoio das prefeituras de Ituiutaba, Canápolis, Monte Alegre de Minas e Prata.
O Enigma
(Original de VALDO RESENDE)
(MÚSICA. O CONTADOR ENTRA EMPURRANDO SUA MALA-BIBLIOTECA. ANÚNCIA SUA CHEGADA COM O SOM DE UM APITO. PREPARA O AMBIENTE PARA CONTAR SUAS HISTÓRIAS. ABRE A MALA PARA SI, PROCURANDO OCULTAR O INTERIOR DA MESMA. TOCA E PARA, ABRUPTAMENTE, TIRANDO UM COPO COM GARAPA)
– Um brinde! Um brinde com a mais deliciosa garapa da estrela do pontal! (CONTINUA, COM VERSOS DO HINO DE CANÁPOLIS) “Tu és nobre, tu és grande / Município bem amado / És destaque do triângulo /Por ter sempre brilhado”. E quem não gostar de garapa faça o brinde com um refrescante suco de abacaxi! Canápolis merece todos os brindes! “Estrela nova do pontal / És exemplo de grandeza /És cidade de solo forte /Que produz fartura e riqueza.”
Senhoras e senhores, meninas e meninos de Canápolis! (FAZ MESURAS, ENQUANTO PROSSEGUE A AUTOAPRESENTAÇÃO) Meu nome é Lúcio Sabino Palmério Prado! Muito Obrigado pela atenção! Estou honrado e emocionado com a presença de todos. Com alegria apresento a verdadeira fonte de grandes prazeres: Minha biblioteca!
(PEGA UM LIVRO DE MONTEIRO LOBATO)
Não tenho o talento da Tia Anastácia, mas posso manipular todas as receitas que celebrizaram a grande quituteira. Doces, salgados, cozidos, assados, fritos… Carnes, massas, peixes! É para enlouquecer qualquer paladar! (Pega Outro Livro) Conheço a vida dos grandes caçadores, dos maiores exploradores. Vi todas as cruzadas e caminhei com cada bandeirante! Sei nominar navios, identificar aviões, automóveis! (PEGA DOIS OUTROS LIVROS) Aqui aprendi tudo sobre o Brasil e neste descobri os mistérios desta deliciosa e cheirosa fruta, o abacaxi.
(Folheia O Livro, Antes De Prosseguir)
Para doceiras e confeiteiros o abacaxi é matéria prima para sucos, sobremesas, batidas. Simples assim. Já para os cientistas é uma planta monocotiledônea, da classe liliopsida, da ordem poales, da família das bromeliáceas… Ufa! Para milhares de pessoas o abacaxi lembra esta simpática e formosa Canápolis.
(FAZ SOTAQUE NORDESTINO E IMITA UMA CRIANÇA)
“- Como é isto, meu caro? Uma cidade chamada Canápolis não devia ter um monumento à cana e não ao abacaxi?”. Hein? Quem foi? Como? Ah! Então, quem fez esta pergunta foi Dorival, um menino que veio da Bahia para morar em Canápolis. Nossa querida Canápolis é, quando comparada a Salvador, Capital da Bahia, um bebezinho. Mas já tem história e sua gente cultiva abacaxis, também cria gado de corte e muito o mais! A cidade vai se transformando, vai se ajustando às novas realidades que o progresso trás. Justamente por ser uma cidade nova e profundamente amistosa e acolhedora é que Canápolis recebeu, há pouco tempo, várias crianças de outras partes do Brasil, cujos pais vieram trabalhar no município. Como esse Dorival.
(FAZ UMA PEQUENA PAUSA. COMEÇA “O ENIGMA”)
Dorival e vários meninos não nascidos em Canápolis estavam participando das costumeiras atividades promovidas pela Casa de Cultura da cidade. Os agentes culturais queriam que os meninos ficassem bem, felizes e participando da vida e da história da cidade. Todo mundo sabe que mineiro é hospitaleiro e Canápolis não nega essa característica: recebe, acolhe e torna seu aquele que vem de fora.
Os agentes da casa de cultura resolveram brincar e propor um enigma para os jovens participantes. Um enigma é um mistério escondido em versos, imagens, mapas, objetos. Um enigma é um adivinha! Prestem atenção:
“Uma só casa
Nela, três senhores
Uma grande luz!
Sem refletores.
O pequeno começo
De grandes louvores!”
Foi um grande alvoroço. Meninos de Canápolis, meninos da Bahia, meninas do Ceará, de Pernambuco, Santa Catarina, Alagoas… Todos tentando adivinhar o enigma. Terezinha, neta de Dona Benedita, respeitada benzedeira, palpitou apressada: (IMITANDO UMA MENINA) “– Monitora, os três senhores são o Pai, o Filho e o Espírito Santo!”. A monitora, que prefere ser chamada de agente cultural, refletiu e respondeu. “- Pai, filho e o espírito santo são um só, que os católicos denominam santíssima trindade. Além disso, Terezinha, essa trindade não explica todo o enigma.”
Era uma sexta-feira e foi sugerido que todos viessem para a Casa de Cultura, pela manhã. Formariam grupos, caminhariam pela cidade junto com os agentes e tentariam decifrar o tal enigma. Prometeram presentes para o vencedor e após uma noite de rápidas pesquisas, todos compareceram para o passeio revelador. Tinham livros e lanches nas mochilas, que ninguém sobrevive sem comida! Decidiram começar por uma rápida pesquisa na biblioteca municipal Carlos Drummond de Andrade. Foi lá que se deu o seguinte fato:
Juscelino, um canapolense que adora competir, lascou para todos: “- Carlos Drummond de Andrade, maior poeta do Brasil”. Dorival, nosso querido baianinho retrucou: “- Maior poeta é Antônio Frederico de Castro Alves”. Octavio, que nasceu no Pernambuco, não ficou por baixo. “- Maior que Manuel Bandeira? Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho?” Genésio, um menino que nasceu paulista entrou de gaiato na história. “- Pois os melhores poetas são paulistas!” Dorival exigiu: “- Pois diga pelo menos um!” Genésio enrolou, enrolou e foi ficando vermelho feito um peru. Uma simpática agente acudiu o menino. “- Guilherme de Almeida, Mário de Andrade e outros; muitos outros! Mas vamos em frente, que o enigma, que é bom, até aqui ninguém respondeu.”
Os meninos desceram pela praça, passando pela construção do Teatro Municipal e ali pararam, pois Terezinha, a menina interessada em acertar o enigma sugeriu que a resposta fosse o teatro. Os meninos riram quando Juscelino lembrou que o teatro, em construção, não tem refletor, não tem luz nenhuma. Continuaram caminho, chegando ao prédio moderno que abriga a prefeitura e a câmara municipal da cidade. Genésio, o paulista que não lembrou os nomes dos poetas, resolveu limpar a barra e gritou: “- Professora, Dona Maria Ignez, os três senhores são o prefeito, o presidente da câmara e o povo.” Dorival, não perdoou, “- O povo só tem a praça e olhe lá!” Juscelino completou: “- São duas casas, a prefeitura e a câmara”. Octavio deu o golpe final: “- Genésio, em boca calada não entra mosquito! E vamos em frente que não é aqui que acharemos a resposta”. Dona Maria Ignez convidou todo mundo de volta para a casa de cultura, pois lá, certamente, encontrariam a resposta.
Os meninos, antes de entrarem na Casa de Cultura, pararam na igreja Matriz de São Sebastião e Nossa Senhora de Fátima. Como é linda essa igreja! Orgulho da cidade! Suas linhas curvas, uma construção arrojada, moderna! No auditório da Casa de Cultura estava ensaiando a Banda Municipal José Alexandre da Silva, sob a regência do Maestro Leonardo Augusto Reis. Um primor de banda, grande patrimônio imaterial da cidade. A criançada ficou bisbilhotando os instrumentos, fazendo perguntas e o pessoal, simpático, serviu um refresco geladinho para os meninos. Terezinha, a menina que queria adivinhar, resolveu lembrar o enigma:
“Uma só casa
Nela, três senhores
Uma grande luz!
Sem refletores.
O pequeno começo
De grandes louvores!”
A classe já estava quase desanimando. Juscelino brincava: “- Minha gente, lá em casa tem três senhores meu avô, meu pai e minha mãe. Só minha mãe é quem manda!” Depois resolveram tomar lanche no coreto da Praça 14 de Julho. Os agentes culturais, enquanto os meninos comiam, fizeram uma revisão do passeio daquela manhã e do que poderia responder ao enigma. A resposta não está nos livros, mas na reflexão que se faz após as leituras. Eles continuavam as explicações quando um garotinho, também baiano, mas que ainda não tinha entrado nesta história resolveu interromper a conversa. (COM SOTAQUE BEM CARREGADO) “– Olhem aqui, prestem atenção! Estava aqui matutando, matutando…!”.
Ninguém segurou o riso. Baiano, é bom que se saiba, assunta. Assunta! Então quando o moreno porreta matutô… Pois bem, o menino, parou o riso de todo mundo com um “oxi”! E emendou: “- Rumbora seus tabaréu! Olha aqui, prestem atenção, meu nome é Gaspar! E painho e mãinha são vizinhos do Vovô Totóca!” Quando o menino lembrou o Sr. Antonio Ferreira dos Santos, os agentes já sabiam que o menino estava certo. E Gaspar desfechou a história:
“- Uma só casa e nela três senhores: A igreja dos três reis magos. Uma grande luz! A estrela do oriente. Sem refletores. Porque o menino nasceu na pobreza. O pequeno começo De grandes louvores! Porque marca o nascimento de Cristo e a salvação dos homens.”
Toda a turma emudeceu e Gaspar não titubeou: “Rumbora me aplaudi que mereço!”. Como não obedecer? Foi então que os agentes lembraram a Igreja dos Reis Magos construída pelo Vovô Totóca, o Sr. Antonio Ferreira dos Santos, e os outros prédios que contam a vida de Canápolis. E assim termina essa história, que lembra a união e a amizade entre todas as crianças de Canápolis.
(O CONTADOR ENCERRA SUA APRESENTAÇÃO COM UM AGRADECIMENTO. FECHA A SUA MALA BIBLIOTECA E SAI DE CENA).
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Nota: O Hino do Município de Canápolis, citado no texto, tem letra de Elias Mateus e melodia de Luciana Bezerra Carrilo.