Rock para crianças bem nascidas

Indagaram se eu não escreveria sobre o Rock In Rio. Fui quase intimado a escrever, o que não se faz necessário, já que gosto mais de escrever do que de rock. Cheguei a cogitar de ir ao evento. Minha querida Juliana Ramalho até que mediou a venda de uns ingressos, que alguém ganhou e que estava passando adiante. Fui ver a programação do dia em questão; das vinte e cinco atrações oferecidas teria e tenho real interesse em três: Milton Nascimento, Esperanza  Spalding e a Orquestra Sinfônica de Heliópolis. Para isso eu esbarraria em Nx Zero ou Tulipa Ruiz.  Não cometi pecado recente; não careço de punição. Declinei.

Fui verificar a programação...

Após desistir do tal dia, tentei interesse em algum outro dia e a média foi mantida. Três, às vezes duas, uma vez quatro atrações seriam realmente interessantes. Todavia, nada que eu não possa ver por aqui mesmo. Mas, tem o lance da tribo, da moçada, do ambiente. Bisbilhotei bastante o ambiente.

A “cidade do rock” é bonitinha. Pareceu-me segura. Se eu fosse mais jovem, minha querida mamãe não precisaria ficar preocupada. Não tem barro, assim, poderia ir com minhas roupas de “grife”. Também mamãe não ficaria perturbada, com receio de uma má alimentação: tem praça de comidinhas. E se eu ficasse entediado com Claudia Leitte teria o shopping ou o parque de diversões pra me distrair, aguardando outra “grande” atração. E tranqüilidade maior das mamãezinhas: todas as lojas e em todos os pontos de venda de qualquer coisa aceitarão cartões de crédito. E há caixas eletrônicos! Mamãe pode até mandar mais “algum” caso a criança gaste além da conta.

A Ivete até que é bem bonita! Dia 30.

Os tempos mudaram e as crianças de hoje vão lá chorar amores perdidos enquanto saracoteiam com algum bom som. Eu iria, se fosse de graça e bem pertinho, sem ter que encarar  um monte de “nãos”.

Não pode levar alimentos, tipo sanduba de mortadela (Tem que comprar!). Não pode levar uma boa câmera fotográfica (Investimento perdido!), nem pode levar guarda-chuva! (Santo Deus, quem pensaria em levar guarda-chuva pra um festival de rock?). E também não pode ir de carro particular, só de transporte público (aqui, a coisa não ficou muito clara; bicicleta ou moto, pode?).

Provavelmente terão alguns grandes momentos de rebeldia nesse Rock in Rio; Katy Perry ou Rihanna, Ke$ha ou Shakira, alguma dessas aí fará uma pose ousadíssima. O público, certamente, cantará junto com elas, com a Ivete Sangallo, com o Jota Quest… e tomará cerveja, muita cerveja. Certamente haverá overdose de cervejas. Depois, a criança irá para um banheiro químico expelir a “ceva”, se muito precisará de uma injeção de glicose… Nada que as mamães por aí não estejam acostumadas.

Também prometo não ver pela tv.

Desse Rock in Rio, lamentarei não ver Mutantes + Tom Zé no mesmo palco. E trocaria ingressos de todas as estrelas citadas só pra ver Janelle Monáe. Aguardarei outras oportunidades. Elas virão. A moçada da música do planeta descobriu que aqui no Brasil se ganha muito dinheiro, o povo tem de sobra pra pagar ingressos. Então, dá pra aguardar o festival de verão, o de inverno, o carnaval, o carnaval fora de hora, os festivais de todas as praias e tudo o mais que favorece o consumo que tanto desfalque dá na carteira do pai, mas que é a tranqüilidade da mamãe. Afinal, nas cidades do rock atuais, as crianças estão seguras.