Destinos, de Aguilar, na Benedito Calixto

16 telas da série “Qual é o seu destino?”, de José Roberto Aguilar, estão expostas na Pinacoteca Benedito Calixto, em Santos, dentro do projeto Arte na Pinacoteca. A série, em pequenas dimensões (1 m x 1 m), é apresentada em três salas compondo suavemente com o ambiente aconchegante do antigo casarão à beira-mar. O registro de uma performance está na sala menor central e, no salão principal, está a tela (2,10m x3,60m) “Olhai os lírios nos campos”, criando um belo contraste entre a arquitetura Art Nouveau do local e a obra de Aguilar.

Olhais os lírios no campo, de Aguilar, harmonizando com o Art Nouveau da Pinacoteca.

A tela “Olhai os lírios nos campos”, em suas grandes dimensões, nos permite uma imersão e uma relação distinta com a obra. Carecemos da distância que o espaço permite para ver o todo e, simultaneamente, temos a possibilidade da aproximação e visualização dos motivos presentes e da técnica utilizada pelo artista.

Os curadores da mostra Carlos Zibel e Antonio Carlos Cavalcante assim apresentam a obra: “A grande tela ‘Olhai os lírios nos campos’ guarda familiaridade com muitas pinturas anteriores, caracterizadas por uma visibilidade imediata sem recursos pictóricos tradicionais – mesmo em pinturas abstratas como as que Aguilar apresenta nesta oportunidade, tais como sugestão de linha de horizonte, prumo, requadros, formas geométricas ou manchas orgânicas – que, de algum modo, poderiam criar espacialidades ou apoio visual a uma leitura ‘naturalista’ do trabalho”.

Detalhe da exposição Destinos, de José Roberto Aguilar, em Santos, SP.

Sobre as telas da série os curadores escreveram: “Em ‘Qual o seu destino?’ o artista escolheu como suporte os pequenos formatos. Telas que podem ser convenientemente apreciadas a uma curta distância. Perde-se boa parte daquela sensação de envolvimento, mas se aperfeiçoa a percepção relacional. Mesmo que emocionado e envolvido pelas artes dessa pintura sensual, o olhar torna-se mais atento às múltiplas leituras oferecidas pela tela como um todo”.

Pablo Picasso disse, há bastante tempo, que “não existe tampouco arte figurativa e não-figurativa. Todas as coisas nos aparecem soba a forma de figuras”. Entre o ver e o não ver, é uma possibilidade de postura perante o trabalho de Aguilar. Podemos tentar desvendar cada imagem proposta, sabendo que nossa percepção está atrelada ao nosso repertório pessoal. Podemos simplesmente fruir e usufruir das propostas do artista, viajando na técnica, na maneira de colocar empastes, na utilização das cores e na interação entre cores e formas. Deixar que cada imagem se aproxime ou se distancie do nosso destino, encontros possíveis entre os “Destinos” propostos por Aguilar.

A exposição iniciada dia 11 de maio termina no próximo 11 de junho. Portanto, moradores e turistas visitando a cidade não percam a oportunidade de visitar essa mostra, primeira que o artista faz em Santos.

José Roberto Aguilar (1941) é um dos pioneiros da nova figuração no Brasil. Integrou o movimento Kaos, participou da 7ª Bienal (1963) e da Mostra Opinião (1965) no Rio de Janeiro. Viveu no final da década de 1960 até 1975 temporadas em Londres e New York, onde inicia trabalhos como videomaker. Retorna em São Paulo participando da 14ª Bienal e prosseguindo intensa carreira, o que faz dele um dos mais renomados artistas paulistanos.

Serviço: Pinacoteca Benedito Calixto – Av. Bartolomeu de Gusmão, 15 – Santos. Funciona de Terça a domingo, das 9h às 18h.

Palpite

Slide1

Esta data, 13 de dezembro, que anda rondando o blog, e minha página no Facebook, está relacionada com outras datas, de anos bem distantes… 1997 está entre eles. 2002, 1998, 1963… De repente, pensando em 1997, veio “Palpite”, uma boa lembrança. Não se trata de palpite de jogo do bicho e, sim, de uma música suave, bonita, grande sucesso na voz de Vanessa Rangel.

Tô com saudade de você
Debaixo do meu cobertor
E te arrancar suspiros
Fazer amor…

O sucesso é estranho; volta e meia percorre caminhos não convencionais, desmentindo alguns marqueteiros e publicitários que pensam que são deuses. Palpite, a música, teve uma divulgação extra através de novela da Rede Globo tornando-se uma das músicas mais populares de 1997, entrando com a novela também pelo ano de 1998.

Vanessa Rangel tornou-se, desde então, artista marcada por um único grande êxito: de vendas, de execução nos meios. Certo tipo de imprensa, cúmplice da fome capitalista, cobra sucessos, discos na parada, grandes vendagens, como se artista fosse telefone celular: com um novo adereço, um novo modelo por semana. A moça não repetiu o mesmo sucesso do primeiro disco e hoje atua em outra área.

A indústria precisa vender. O artista precisa produzir. Grande cilada contemporânea! Em outra área de criação, por exemplo, na pintura, não seria estúpido cobrar de Pablo Picasso um Guérnica por ano? Um Les Demoiselles d’Avignon por temporada? Nem por isso ele deixa de ser cultuado como um dos maiores artistas do século XX.

Eu sinto a falta de você
Me sinto só
E aí!
Será que você volta?

Penso que um PIXINGUINHA mais um CARINHOSO tá de bom tamanho. Para o ROBERTO CARLOS, junto com ERASMO, a posteridade já foi garantida com DETALHES e para quem tem bons ouvidos basta um COMO NOSSOS PAIS para perceber a grandiosidade da intérprete ELIS REGINA.

E aí! Será que você volta?
Tudo à minha volta
É triste
E aí!

Que artistas tenham outros sucessos, outros êxitos, uma grande carreira, tudo bem; agora, cobrar uma nova A BANDA, uma outra CONSTRUÇÃO ou outra grande criação de CHICO BUARQUE, é estupidez! Ele poderia ter parado lá em RODA VIVA ejá seria um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos.

A pressão sobre um artista é grande, constante. Quando o cara deixa de vender conforme as metas estabelecidas pela indústria é bastante comum ouvir que tal artista está “acabado”.

Tô com saudade de você
Do nosso banho de chuva
Do calor na minha pele
Da língua tua…

A grande produção artística humana passa pela pré-história, Grécia, Egito, Roma, até nossos dias, com nomes e obras que aí estão e permanecerão para a posteridade. É raro, na história humana, um SHAKESPEARE ou um MICHELANGELO. É dessa tal grande arte humana que veio o conceito de “obra prima”; essa sintetiza o que o artista foi, sua estética, seu processo criativo.

Tô com saudade de você
Debaixo do meu cobertor
E te arrancar suspiros
Fazer amor

“Palpite” é uma música popular e como tal está circunscrita no tempo, no espaço. Passa longe de Beethoven, mas permanece na lembrança de muita gente. No meu caso, de vez em quando, voltará por mero acaso ou pelos tais “detalhes” citados na canção de Roberto e Erasmo Carlos. Então continuarei cantarolando VANESSA RANGEL.

Não importa se foi apenas um grande sucesso. Vou respeitar a compositora, a cantora agradável, pelos momentos de prazer que me propiciou e continuará me propiciando com esse eterno e delicioso PALPITE. Quanto ao dia 13, sobre o que vai rolar nesse 13 de dezembro, vou segurar um pouquinho; todavia, que tal um palpite?

Até!

De Chirico chegou!

Obra da fase inicial do artista: Gare Montparnasse, 1914

Na UNESP conheci De Chirico; a Marise e o Giorgio. Nessa ordem; a Marise foi minha colega e desde então minha grande amiga. Ela é De Chirico e sempre estudou o outro, o De Chirico greco-italiano. Minha amiga esteve na Itália, aprofundando-se no assunto sobre o qual dissertou em trabalho de mestrado. Conheci o trabalho do pintor na convivência com Marise. Depois, vi coisas dele em andanças por aí. Agora em São Paulo parte da obra desse artista singular.

De Chirico esteve em vários lugares antes de chegar a Paris, no início do século passado. Cidades da Grécia, Alemanha e da Itália, onde, em Florença, começa seu trabalho característico, que veio a ser denominado Escola Metafísica. “O enigma do Oráculo” e “Enigma de uma tarde de outono” estão entre as obras que dão o impulso inicial da Escola, que se caracteriza por combinar elementos anteriores ao artista com outros, retirados do cotidiano observado por ele. Em Paris expõe a série baseada na estação de Montparnasse (imagem acima), passando a ser reconhecido por seus pares.

Foi na capital francesa que o poeta Apolinário e o pintor Pablo Picasso disseram ser Giorgio de Chirico o pintor mais extraordinário de seu tempo. As praças misteriosas, as personagens estranhas, sugerem repetição e invenção. Um universo peculiar que instiga quem observa e faz do observador participante ativo quando este busca respostas aos “enigmas” propostos pelo artista.

As cidades e as personagens de De Chirico. (Reprodução / divulgação)

O insólito proposto por De Chirico está no Brasil, tendo primeiramente passado por Porto Alegre, na Fundação Iberê Camargo. Está no MASP, em São Paulo, até o dia 20 de maio e depois seguirá para Belo Horizonte, em Minas Gerais, onde será exibida na Casa Fiat, (29 de maio até 29 de julho). São 45 pinturas, 11 esculturas e 66 fotografias, da coleção da Fondazione Giorgio e Isa de Chirico, sediada em Roma.

Denominada “De Chirico: O Sentimento da Arquitetura”, a exposição tem curadoria da arquiteta e crítica italiana Maddalena d’Alfonso. Prioriza a produção dos anos 60 e 70 do artista, falecido em 1978. Paisagens urbanas, cidades que mesclam arquitetura antiga e clássica e as estranhas figuras humanas criadas pelo pintor, que antecedeu o Surrealismo e alimentou este. A Fiat é a patrocinadora do evento que foi beneficiado pela Lei de Incentivo a Cultura, e que pode ser visto por R$ 15,00. Estudantes, professores e aposentados, com comprovantes, pagam R$ 7,00.

Certamente Marise De Chirico escreveria melhor sobre o tema. Fica aqui o convite para que ela escreva e para que todos compareçam ao MASP. Fica também um pedido para que Marise coloque na web as releituras que fez da obra de Giorgio de Chirico, que se constituem em um dos trabalhos de mestrado mais incríveis que tive a oportunidade de conhecer.

Boa semana para todos.

.