Imagine que em um dia, já perdido no tempo, recebo um telefonema de Goiânia: “- Oi, você vai ser tio!” Alguns anos transcorridos e estou em um carro rumo à UNICAMP acompanhando a mãe e o bebê, agora mocinha, levando esta para residir na cidade universitária. Este pode ser um fato que dimensiona bem minha amizade com Fátima Borges, a mãe. O tal telefonema chegou porque a amizade vinha de longe, muito longe.
Crescemos em Uberaba, no bairro Boa Vista, e nos aproximamos já na infância. Os tempos eram outros, de uma rigidez absurda determinando meninos de um lado, meninas de outro. Fátima Borges, daqui para a frente só Fafá, começou no teatro primeiro que eu, encenando as peças preparadas por uma moça chamada Isabel, a Belinha. Essa é, efetivamente, a lembrança que ficou não como a primeira, mas viva recordação de como tudo começou.
Comecei em teatro por outras vias, com minha irmã Waldênia levando-me ao TEU – Teatro Experimental de Uberaba. Eram momentos muito legais de festivais de música, de teatro, e minha irmã, começando a universidade, frequentava cineclubes, sessões de teatro. Eu acompanhava e ia tomando gosto pela coisa.
Um salto no tempo e estou com Fafá no grupo de jovens da Paróquia de Nossa Senhora das Graças. Vivíamos entre os Padres Somascos: Nicolau, Líbero, Américo, Pedro, Enzo… Italianos que nos ensinaram muitas coisas: Um deles, Líbero, gostava de propor desafios. Um desses foi que o grupo de jovens deveria realizar a quermesse, algo restrito aos mais velhos. Lembro-me ao lado de Fafá, visitando os jornais da cidade para divulgar nosso primeiro grande evento. Desse período, marcante e determinante para nossas vidas, Padre Líbero desafiou-nos a tocar violão acompanhando a missa. Vivíamos brincando de fazer barulho com o instrumento. E lá fomos nós, fazer aulas de violão e, poucos meses após, responder positivamente ao desafio do pároco.
Dei meus primeiros passos em teatro no grupo paroquial. Foi minha irmã Waldênia quem me colocou em contato com um livro de Constantin Stanislavski, o grande diretor teatral russo, criador do melhor método de estudo para atores. A música foi para plano secundário, um componente entre as montagens teatrais que realizei. Para Fafá, a música tornou-se fundamental e ela, já distante do nosso cotidiano, foi cantar na noite de Goiânia. Enquanto minha amiga cantava em bares e eventos, da capital goiana e região, passei a residir em São Paulo e comecei a trabalhar por aqui.
Na minha bagagem para São Paulo, aprendidos com Waldênia, trouxe os versos de Fernando Pessoa, romances de Fernando Sabino e Autran Dourado e outros livros de Stanislavski. Foi uma boa base para enfrentar a vida. Outro tanto de tempo, convidado pela produtora Sonia Kavantan, montei uma peça infanto-juvenil, “A História de Lampião Jr e Maria Bonitinha”, texto de Januária Cristina Alves. Nessa peça voltava a trabalhar com Fafá, chegando de Goiânia para morar em Santo André, no ABC. O teatro da infância, a música na juventude; Fafá interpretou e cantou, lindamente, sob minha direção.
No presente Waldênia ensina-me outras coisas que ela aprendeu sendo mãe, agora avó. Gostaria de ser tranquilo como ela, de manter frieza em situações complicadas e de saber deixar de lado quem não vale nossas preocupações. Ainda aprenderei. Com Fafá a amizade continua, com uma cumplicidade que não tem tamanho e com um afeto cada vez mais sólido. Cada um no seu canto, sempre juntos. Concretamente juntos também no trabalho: Fátima Borges é a revisora do nosso livro “UM PROFISSIONAL PARA 2020”.
Deus me deu três irmãs de sangue que amo muito. Únicas em personalidade, em modo de ser e viver. E também fui abençoado com grandes amizades. Tenho mais de uma dezena de melhores amigas. Melhores sim, todas elas; no mais puro sentido do que seja melhor. Não há escala de importância. Há um imensurável amor. No entanto, tudo tem um começo. Waldênia é a primeira lá de casa, a primogênita. Fafá é a primeira grande amiga na minha vida. As duas são aniversariantes neste 15 de setembro. Duas mulheres, irmãs que a vida me deu. Feliz aniversário, meninas!
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Até mais!
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