
Final de semana, aproveito um momento livre para comprar o objeto necessário. Na grande loja, enquanto espero pela disponibilidade de um vendedor, aproveito para observar alguns eletrodomésticos desejados. A vendedora aproxima-se; pergunto pelas condições de pagamento: – Caso o senhor tenha o cartão da própria loja pode pagar em até 18 prestações, sem acréscimo.
Sem saber que faço questão da distinção entre “necessário” e “desejado” a moça envia uma “atacante” na tentativa de que eu capitule, levando o tal cartão. A nova vendedora é sorridente, com olhos brilhantes e começa a desfiar as vantagens do cartão, evitando exatamente o que me interessa e que pode influir na minha decisão: – Qual a taxa de utilização, senhorita?
Quando percebeu que não conseguiria convencer-me a moça apelou: – O senhor precisa me ajudar. Respondo, sem titubear: – O Senhor ajuda a todos nós… Ela jogou a toalha e a primeira, só porque parei próximo de uma gôndola com programas antivírus, resolveu vender-me um programa 100% seguro. Pergunto se é o mesmo usado por Dilma Rousseff; caímos na gargalhada e ela permite que eu prossiga meu caminho.
Já com a compra efetuada enfrento uma fila para concretizar o pagamento. Um senhor, terceira idade, resolve descontar horas de silêncio em interminável papo com a senhora atrás dele. O problema é que ele está na boca do caixa e ignora os pedidos da funcionária para que coloque senha e termine a operação. A moça pede uma, duas, três vezes… O senhorzinho ignora solenemente enquanto conversa com a outra que, delicada, não indica ao mesmo que a caixa o aguarda. Tenho ímpetos assassinos.
Após pagar descubro que só consigo, no tal caixa, um comprovante que não dá direito a garantia. Para isso preciso da nota fiscal, em outro espaço, outra fila. A jogada me parece clara; ao evitar nova fila muitas pessoas saem sem o comprovante fiscal, o que favorece sonegação por parte da loja, e caso tenham problemas com o objeto comprado que reclamem ao bispo.
Segunda fila e obtenho a nota fiscal. Dia chuvoso, encaro a terceira fila aguardando que embrulhem e assim, projetam um pouco mais o objeto. Desta ouço o cidadão, tipo “autoridade”, querendo furar a fila para obter nota fiscal. Quando a atendente indica o final da fila, ele pede que chamem o gerente. A tal atendente enrola e vendo que a empacotadeira havia saído, resolve fazer o meu pacote. Percebo no ato que ela quer ganhar tempo para que o “autoridade” espere o máximo possível. Entro no jogo.
A empacotadeira improvisada, alegando que era a minha vez de ser atendido veio, calmamente e fez um horrendo pacote enquanto trocávamos sorrisos cúmplices, desdenhando do cidadão que mesmo com a vinda de uma gerente, só foi atendido depois que a fila terminou. Certamente saí da loja com o pior pacote de toda a minha vida, mas feliz com a compra mais a alegria da pequena vingança.
Voltei para casa pensando em Ademilde e na cantora de chorinhos que foi lembrada quando soube o nome da primeira vendedora. Também da segunda moça que tinha um nome cheio de consoantes, típica vítima da numerologia: Thayanny. Frances, a moça do caixa, estava calma, mesmo com a pressão de indicar uma nova fila a rabugentos como eu; e a moça da nota, a empacotadeira improvisada, minha querida cúmplice… Não guardei o nome.
Tento não ficar perturbado com o esquecimento do nome, mas sinto-me em dívida com a moça que, com graça e sutileza deu uma senhora lição ao sujeitinho. Permitiu-me aprender um pouco mais sobre relações comerciais e propiciou-me diversão em sessão de pacotes, sem qualquer acréscimo de preço, juros ou correção monetária.
Boa semana para todos.
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Não podia começar a semana sem ler esse belíssimo relato .
Ótima semana tambem Valdo
Adorei! Boa semana pra você também! Beijoooos
A vendedora, além de tudo, poderia ter ficado surpresa, tal qual Calvin em mais esta inesquecível tira:
http://www.gocomics.com/calvinandhobbes/2013/07/19