Hoje foi um dia em que se falou da intimidade entre amigos, do irmão que escolhemos, de almas gêmeas e outras expressões similares. Tudo lindo, profundo e verdadeiro. Bastou o acordar com o alerta: “- hoje é dia do amigo!” – e, com certeza, pensamos em pessoas queridas e próximas, amadas mesmo se distantes; íntimas em qualquer situação, confiáveis e fieis. Não importa o tempo, o espaço, a dimensão. Pensamos nos amigos e sorrimos. Em tempos de redes sociais, quando contabilizamos milhares de amigos, é bom refletir um pouquinho sobre o significado da amizade na vida da gente!
Amigos sempre foram categorizados. Há os íntimos, para os quais contamos tudo. Há os companheiros que nos dão segurança para ir até ao inferno. Os sábios, para quem sempre pedimos conselho e orientação; os fanfarrões que nos acompanham até o último trago… E por aí vai, o amigo está sempre ao nosso lado dando-nos confiança com um mero olhar, estendendo-nos a mão ante a queda ou simplesmente caminhando conosco.
Amizade é um acontecimento na vida do ser humano. Um grande acontecimento! Pode durar décadas ou dias e mesmo assim ser tão inesquecível quanto aquela relação que caminha conosco desde a infância. Pode acontecer várias ou raras vezes e a única certeza é ter como infeliz aquele que não tem nenhum amigo.
Há pessoas que pensam em amizade no sentido de posse. O “tenho amigos” é mais forte do que o “sou amigo”. Penso que o ser amigo é o que determina a profundidade de uma relação, mesmo que separada por anos a fio, por centenas de quilômetros. É o ser amigo que restabelece a intimidade sem necessidade de fatos que corroborem uma ou outra atitude. Ser e ter se confundem, mas o ter carece de cuidado atento para não gerar ciúme, posse doentia, egoísmo que exige exclusividade. Já o ser amigo me faz retornar às redes sociais.
Na internet, penso, a amizade é acontecimento e fundamentalmente atitude. Atitude sim; essa palavra muito usada ultimamente e raras vezes com o sentido devido, mas que cabe bem no contexto das redes sociais. Agir como amigo, receber com amizade, ter como norma o respeito, a confiança, a camaradagem. Dirão alguns que faltará a intimidade, o conhecimento profundo dos acontecimentos da vida de cada um, a convivência, os hábitos comuns, etc.. Todavia, poderia enumerar muitas situações que conduzem às atitudes amigas sem que seja necessário saber a data de aniversário do sujeito ou fatos da vida do mesmo, ou ainda ter convivido com a figura.
Tantas pessoas passam por nossas vidas. Aquelas com as quais brincamos na infância, os colegas de todas as escolas; os correligionários dos grupos religiosos, os companheiros de trabalho… Poucos permaneceram. Poucos estão alçados à categoria de amigos. Passaram, como o tempo. A oportunidade ocorreu: o quintal, a rua, o pátio da escola, os bancos da igreja, o refeitório do trabalho, os botecos de todos os lugares.
Agora somamos as redes sociais aos espaços tradicionais propícios às amizades. Aceitamos alguém por que é amigo, irmão, colega ou conhecido de alguém. Pode ser também por uma circunstância momentânea: um curso, uma festa, um trabalho, uma viagem… E, certamente, é o tempo, o cultivo adequado e uma infinidade de possíveis circunstâncias que determinarão as relações com esse ser do qual vemos fotos, sabemos preferências, conhecemos algumas opiniões.
Um amigo da rede social não é tal qual aquele que conhecemos nos espaços tradicionais. Com frequência vemos fotos, mas não conhecemos a voz, o som do riso, as reações imediatas sem a intermediação do meio de comunicação. Muito diferente, mas nem por isso mesmo deixa de ser incrível e maravilhoso. Totalmente possível. Tenho amigos do tempo de criança, da escola, do meu primeiro trabalho… Todos com décadas de convivência. Algum dia, alguém escreverá: Há cinquenta anos conheci meu amigo pela internet! Essa amizade já está ocorrendo por aí. Não é bonito isso?
Até mais!