Há que se ter um lado. Vejo a trajetória de Evo Morales, o dirigente boliviano que acaba de sofrer um golpe. À história ouso ressaltar o tom da pele, a espessura do cabelo desse URU-AIMARÁ e de vários outros componentes de seu governo que colocou cultivadores de coca no poder; e penso na gente da América do Sul. Nos raros verdadeiros sul-americanos que chegaram a dirigir sua própria terra. A voz de Mercedes Sosa invade a memória e o coração. Versos que norteiam meu destino. (clique nos primeiros versos para ouvir as canções).
Por la cintura cósmica del sur
Piso en la región
Más vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de América en mi piel
Y anda en mi sangre un río
Que libera en mi voz
Su caudal.
A caminhada, linda, é cheia de dor e sofrimento. Sobretudo é trilha de luta, guerra, resistência. Fomos e somos celeiro da Europa. Produzimos prata, ouro, borracha, madeira, todos os minérios de Minas para a ganância de europeus e, agora, de seus comparsas norte americanos. E por isso morremos. E por muito mais precisamos lutar.
que la guerra no me sea indiferente
es un monstruo grande y pisa fuerte
toda la pobre inocencia de la gente
Por aqui estávamos comemorando as reviravoltas jurídicas revalidando a Constituição. Vozes de vingança esqueceram o Direito enquanto outras enalteceram a justiça. A saída de Lula da prisão é só um capítulo de uma luta que vai longe. Pouco após a fala do ex-presidente enaltecer a Bolívia veio a notícia infelizmente já esperada.
Pero no cambia mi amor
por mas lejos que me encuentre
ni el recuerdo ni el dolor
de mi pueblo y de mi gente
Há que se ter um lado. O meu é dos que precisam de escola, hospital, justos salários, aposentadoria com dignidade. O meu lado é dos que dividem, não o daqueles que acumulam em cima da exploração alheia. O meu lado é o mesmo daqueles de onde vim: dos que lutam por uma casa, sonham com dentes saudáveis e, além daquilo que é direito humano, o meu lado é daqueles que ousam ser quem são, que exigem e exercem o dom sagrado de falar, amar e lutar.
Y encontraras el camino
Como ayer yo lo encontre
Es el tiempo del cobre,
Mestizo, grito y fusil
Si no se abren las puertas
El pueblo las ha de abrir
Dias difíceis os que vivemos. Não são diferentes de outros, quando nos calaram à força, nos torturaram, nos mataram. E resistimos. E voltamos a lutar, a caminhar. Seguir em frente.
Quanto a mim, deixo-me guiar pela voz de Mercedes Sosa, pelos desejos da minha gente. Sou romântico, sou poeta e, sempre, um batalhador. Não me calarão!
No te entregues corazón libre, no te entregues.
No te entregues corazón libre, no te entregues.
Y recuerda corazón, la infancia sin fronteras,
el tacto de la vida corazón, carne de primaveras.
…
Se equivocan corazón, con frágiles cadenas,
más viento que raíces corazón, destrózalas y vuela.
Até mais!
Notas:
As canções e seus respectivos autores:
1 – Canción com todos – Armando Tejada Gómez (letra) y César Isella (música).
2 – Solo le pido a Dios – Leon Gieco
3 – Todo cambia – Julio Numhauser
4 – Canción para mi América – Daniel Viglietti
5 – Corazón libre – Rafael Amor
Maravilhoso!!!!! Estamos do mesmo lado.
Calar jamais! Lindo texto, bj