Cariello por Cariello ou da unicidade da arte

Artbook41 – divulgação

Quando mergulhamos profundamente em uma determinada forma ou expressão artística percebemos, no mínimo, o que distingue profundamente uma da outra. Essa distinção facilita nova percepção: do quanto a arte é necessária e do quanto as artes no seu conjunto colaboram no entendimento humano. Antes de entrar no trabalho de Octavio Cariello, que me leva a refletir neste texto, quero pontuar três ideias:

Pobre artista de teatro quando não entende, ou não concretiza o teatro enquanto interação com a plateia. O jogo se estabelece e se completa na relação direta, pulsante, quente ou fria, trágica ou cômica. Sem o contato estabelecido com o receptor costuma ocorrer, frequentemente, o exibicionismo ordinário.

Infeliz o músico que não sabe ouvir, o ser, o objeto, o animal, a natureza, o mundo! Quem não ouve não faz do som percebido a matéria prima do ofício, não aprende a explorar suficientemente as possibilidades da voz, do instrumento. Quem não ouve consegue harmonizar?

Não seguirei exemplificando sobre as demais formas artísticas. Penso na hierarquia das artes, uma necessidade tão pobremente humana em colocar algo acima de algo. Penso no obsoleto conservador que insiste em recusar aquilo que não está nos cânones clássicos.  E provoco conscientemente: Seja lá qual for a importância da arquitetura ou da poesia, nem uma nem outra resolveu problemas básicos humanos. Ah, e banco o dialético: seria função da arte melhorar o animalzinho que se diz pensante?

Com o lançamento de Artbook41, Octavio Cariello me levou a pensar na especificidade da arte, na unicidade de cada forma artística:

Imagine-se artista. Poeta, escritor, pintor, ator, dançarino… Tente se ver em diferentes fases da vida, simultaneamente e interagindo com esses “eus” que um dia fomos através de um enredo sólido, coerente, consistente e coeso. Sim, a história é literalmente esta: Um encontro de um indivíduo com outros dois de si mesmo, em idades distintas. Parece simples. Vou voltar a exemplos:

Um arquivo como o da Rede Globo permite a um montador reunir, em enredo minimamente coerente, Gloria Pires conversando consigo própria ao longo do tempo. O resultado costuma ser canhestro, sem unidade, o roteiro manipulado em função da cena que se tem (pode ser Dona Fernanda Montenegro, Francisco Cuoco, ou qualquer um dos atores com longa carreira na emissora).

Em Boyhood, Richard Linklater filmou o crescimento de um grupo de atores durante doze anos. Algo similar também ocorre em outro filme, Irmãs Jamais, de Marco Bellocchio. As experiências mostram as transformações ocorridas na vida das personagens. Soaria um tanto ou quanto artificial imaginar a reação de alguém com 12 anos após constatar algo feito por si mesmo aos 18 de idade. Em termos de cinema seria especulação, ou mesmo algo tipo programar a ação de si no depois.

Octavio Cariello é artista gráfico. E Mestre dos Quadrinhos Brasileiros (título merecido recebido da organização do Troféu Ângelo Agostini). Das 128 páginas que compõem o livro, ele usa apenas quatro para fazer, com maestria, o que gostaríamos de fazer em algum momento de nossas vidas. Um garoto aos quinze anos, um adulto aos 30, um homem caminhando para a maturidade. Três versões do artista que se encontram com sarcasmo, muito humor e uma boa dose de angústia. Cariello por Cariello! Usando sua capacidade artística para realizar algo singular, faz de si e de sua vida algo absolutamente único, específico. E de seu trabalho, um exemplo do que se pode chamar unicidade da arte. Bravos!

“Juninho Perdendo o Rumo” é apenas parte do Artbook41. Um grande álbum composto com trabalhos diversos de Cariello, desde Recife, onde nasceu, aos mais atuais realizados em São Paulo, cidade onde vive. Um exemplo que já dá “pano pra manga” para que se tenha ideia da incrível qualidade dos trabalhos que compõem o livro.

Será no próximo sábado, dia 15, o lançamento do livro na Gibiteca de Santos. Outros detalhes desse encontro estarão disponíveis em breve: aqui e nas redes sociais do local e do próprio artista. Também via redes sociais é possível adquirir o Artbook41, diretamente com Octavio Cariello.

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