O tempo, o vento e a Terra

Porto Alegre alagada. Foto: reprodução.

Como não pensar em Porto Alegre neste momento? Esse país imenso, onde coisas tão díspares acontece, é lá para os pampas que o pensamento voa no tempo temendo ventos de tempestade. Seria melhor encontrar Bibiana, o Capitão Rodrigo. Na minha galeria de personagens apaixonantes coloco Ana Terra ao lado da Capitu, de Machado de Assis, e Rosalina, de Autran Dourado. Os tempos de agora são dos Terra, dos Cambará.

“O tempo e o vento” é um dos mais belos títulos da literatura brasileira. A trilogia de Érico Veríssimo me foi apresentada ainda no colégio e, curioso, fui atrás da obra. Uma senhora imersão no Rio Grande do Sul. Na mesma época apareceu um comercial da Varig, da série “Conheça o Brasil”, e um filme bem ruinzinho, baseado no livro: Um certo Capitão Rodrigo. Teve melhor sorte quem viu Tarcísio Meira, anos depois, na pele da personagem.

Nesta semana vi a longa entrevista que Hildegard Angel fez com Maria Tereza Goulart. Uma outra intensa história, essa de gente real, sobre um tempo em que Jango foi personagem central da vida brasileira. De quebra, o papo ainda trouxe Leonel Brizola e fatos dos grandes fazendeiros gaúchos. Um desses fazendeiros, na atualidade, elegeu um prefeito que relegou ao abandono o museu – Memorial Casa João Goulart, contou Maria Tereza.

Titubeante texto que, como o vento, me leva para um lado, para outro, com dificuldade em encarar a calamidade, a destruição. O que incomodou bastante nos jornais foi saber que os prefeitos pedem evacuação de áreas densamente povoadas. Como? A rodoviária alagada, o aeroporto fechado, as estradas submersas, as pontes destruídas. E volta outra literatura, a poesia de Castro Alves que me faz exclamar “Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?”

Um pix mais outros, tomara que sejam milhares, deve resultar em paliativos, socorro nessa hora trágica. E que todas as atenções sejam prioritárias aos que sofrem neste momento. E a palavra trágica veio conscientemente da lembrança de hamartia, para ressaltar que chuvas não são problemas. Problemas são as ações humanas que resultam em consequências terríveis. A natureza não grita mais pelo que fizemos e estamos fazendo; ela está respondendo.

Estamos vendo derreter o A68, esse que por algum tempo foi o maior iceberg do planeta. Sofremos um calor insano e temos sentido as altas temperaturas que nos colocam em antessalas do inferno. E continuamos produzindo lixo, aumentando pastos e para isso desmatando florestas. Assistimos guerras e genocídios que só fazem enriquecer os que produzem armas. E por aí vai.  São as ações humanas alterando a vida no planeta terra.

Que o tempo e o vento, guerras e distrações pop não nos façam esquecer da urgência de salvar nossa casa, a Terra. Antes de todo o planeta, nesses dias a urgência tem nome: Rio Grande do Sul!

Até mais!

Para contribuir:

*Passarim, da trilha de O tempo e o vento composta por Tom Jobim.

Um comentário sobre “O tempo, o vento e a Terra

  1. Anônimo

    Ouvindo e vendo as reportagens me pergunto: por onde começar ia se lá estivesse? Em seguida me volto para Deus implorando Piedade àquele povo todo!

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