A Menina Que Queria Ser Bandeirante

Ronan Vaz, Lilia Pitta, Marcelo Ribas e José Luiz Filho em foto de Thaneressa Lima (Divulgação)
Ronan Vaz, Lilia Pitta, Marcelo Ribas e José Luiz Filho em foto de Thaneressa Lima (Divulgação)

“A Menina Que Queria Ser Bandeirante” é a quinta história do projeto “Arte na Comunidade 2” e foi apresentada nas escolas, individualmente, por cada um dos atores do projeto. Para encerrar o projeto, nas quatro cidades, ocorreu uma mostra teatral com montagens feitas por artistas locais, grupos regionais e da capital, Belo Horizonte. Como anfitriões, os contadores do “Arte na Comunidade 2” subiram ao palco e, juntos, contaram para toda a comunidade as HISTÓRIAS DO PONTAL DE MINAS. Nesta, reviveram as histórias contadas por cada um, mas com a participação dos quatro atores.  As imagens que ilustram este post são deste momento, quando nossos contadores apresentam a quinta história, d’A Menina Que Queria Ser Bandeirante.

Havendo interesse em reproduzir o texto ou interpretá-lo, pedimos a gentileza da citação da origem. Organizado pela Kavantan & Associados, o projeto Arte na Comunidade 2 foi patrocinado pela Alupar e Cemig, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e contou com o apoio das prefeituras de Ituiutaba, Canápolis, Monte Alegre de Minas e Prata.

Vamos à história:

A Menina Que Queria Ser Bandeirante

Original de Valdo Resende

(VOLTA A MÚSICA INICAL AO TERMINAR A PRIMEIRA HISTÓRIA. O CONTADOR MEXE NOS LIVROS, POR ALGUNS SEGUNDOS E, EM SEGUIDA, RETIRA E ORDENA OS QUATRO OBJETOS IDENTIFICADORES DE CADA CIDADE SOBRE A MALA/BIBLIOTECA. NOMINA O OBJETO E REFERE A CIDADE, SEMPRE EM ORDEM ALFABÉTICA).

A mala-biblioteca e os demais adereços utilizados em cena.
A mala-biblioteca e os demais adereços utilizados em cena.

Canápolis! O abacaxi é, para milhares de pessoas, um delicioso símbolo da simpática cidade. Ituiutaba! Cidade tão pródiga, tão rica, que poderia ser lembrada por produzir arroz, cana de açúcar, leite. Escolhemos o leite, porque toda cidade tem um pouco de nossa mãe. Monte Alegre! Há farinha de mandioca em diferentes regiões, outros países… Em Monte Alegre de Minas ela é mais gostosa. Feita com o requinte dos quitutes que colocam Minas em destaque na culinária brasileira. Prata! A mais antiga cidade do pontal de Minas. Mãe de outros dezesseis municípios e, ainda assim, com a maior extensão territorial na região. A gente olha para esses achados arqueológicos e pensa em Minas, lembra o Triangulo Mineiro muito antes de o Brasil nascer.

Claudia, uma menina que nasceu por aqui há muitos anos, gostava de imaginar como eram as coisas, antes que os portugueses viessem para a região, antes que o progresso chegasse modificando e melhorando quase tudo. Com tanta cidade bonita por aqui, fica difícil imaginar o Triangulo como uma grande floresta habitada por índios caiapós, bororós. Mas era assim! Uma imensa floresta dominando o serrado e escondendo ouro, pedras preciosas e muitas outras riquezas.

bandeirante em canápolis

A menina Claudia, loirinha, olhos claros, não tinha nenhum aspecto aventureiro. Era mais para mocinha de contos de fadas. Todavia, desde que ouviu falar sobre os bandeirantes, soube que seria um entre eles. A professora contou que as Entradas e Bandeiras eram como grandes cidades em movimento. Homens, mulheres, crianças, escravos e índios amigos, caminhando juntos com a missão de desbravar a terra e encontrar riquezas. A menina ficou imaginando como seria estar na comitiva de Fernão Dias Paes Leme, buscando esmeraldas. O bandeirante Fernão Dias saiu de São Paulo, rumo a Guaratinguetá e rumou para o centro de Minas Gerais. Achou turmalinas e pensou que fossem esmeraldas. “- Um grande herói!” Claudia disse em alto e bom som que seria uma bandeirante!

Os colegas da menina começaram a rir, a debochar. Que ideia! Uma menina bandeirante! Que doida! Ela ignorou, pensando no ato que fez de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera. Bartolomeu Bueno da Silva passou por aqui, pelo Triangulo Mineiro, que na época já era conhecido como Sertão da Farinha Podre. Ele foi para Goiás, buscando ouro. Lá encontrou os bravos guerreiros Caiapós, que não entregariam seu território e suas riquezas sem luta. Foi então que ele ateou fogo em um pouco de aguardente, dizendo que era água, e que atearia fogo em todas as águas do território dos Caiapós. Os índios foram ludibriados e, crédulos, chamaram Bueno da Silva de diabo velho, na língua deles, o Anhanguera. A loirinha Claudia delirava com as histórias. Os amigos debochavam.  Que ideia! Uma menina bandeirante! Que doida! Ela dava de ombros, interessada em saber da história de sua terra, do nosso querido pontal de Minas.

bandeirante 7

Os primeiros habitantes de Minas Gerais foram os índios. Depois vieram os portugueses, mas antes desses, muito antes de chegarem com suas entradas e bandeiras, foram os africanos que habitaram várias regiões do estado. É! Escravos africanos que lutando por liberdade fugiram do homem branco e organizaram-se em quilombos. Um dos mais resistentes quilombos que a história guarda é a do Quilombo do Ambrósio, que existiu onde hoje é a cidade de Ibiá, próxima de Araxá.

Aliás, Araxá está entre os primeiros arraiais surgidos no Triangulo Mineiro. Depois veio Uberaba. Depois, o Prata. Antigo, antigo mesmo, é o Desemboque, que hoje é distrito de Sacramento. Desemboque era o nome que se dava ao Triangulo Mineiro, o grande espaço de terra entre o Rio Grande e o Rio Paranaíba. Depois é que chamaram essa região de Sertão da Farinha Podre. Claudia guardava cada detalhe dessa bela história na sua cabecinha de menina.

Desemboque era um centro por onde passavam as bandeiras, rumo ao chapadão mineiro e às terras de Goiás. Outra picada se fez por São Paulo, mas isso foi depois. Nessa primeiras bandeiras que alguns homens, rumando para o interior desconhecido, deixaram pendurados em árvores no mesmo município de Sacramento, alguns sacos de farinha para que, ao retornarem, houvesse alimento para todos. Quando voltaram, a farinha estava estragada.  Começaram a chamar o território de Sertão da Farinha Podre e… Como se diz hoje em dia… Pegou!

A menina começou a esparramar para as amigas, para a família, que seria bandeirante. Que iria desbravar o Triangulo, Minas, o Brasil. O pai da menina não gostava daquilo. Que ideia! Uma menina bandeirante! Que doida! E as lutas, as guerras, ela tinha noção de como havia sido? Que os caiapós, dóceis em um momento, entraram em guerra logo depois, defendendo com garra seu território? Que outro bandeirante, aliando-se aos índios Bororós, arregimentou 500 guerreiros e só assim conseguiram derrotar os Caiapós, em triste carnificina? Ser bandeirante. Que ideia! Uma menina bandeirante! Que doida! Isso não é coisa de menina!

bandeirante 4

Claudia pesquisou muito. Como nessa história não havia mulheres? Foi estudando (PEGA UM LIVRO, COMO SE LESSE) que ela descobriu algumas grandes mulheres. Uma tal Ana de Oliveira, natural de Vila Nova, atualmente Sergipe, participou da formação de duas bandeiras. Duas! E foi perto do Pontal, no interior de Goiás, que uma mulher bandeirante é lembrada como heroína: Maria Diaz Ferraz do Amaral é chamada de Heroína de Capivari, por lutar ao lado dos homens num confronto com os Caiapós. A menina Claudia delirava entusiasmada: “-Veja, papai! Só aqui temos duas grandes mulheres bandeirantes!” Que ideia! Uma menina bandeirante! Que doida!

O pai foi pedir ajuda na escola. Mesmo sabendo que as bandeiras são coisa do passado não gostava nada da ideia de ter uma filha bandeirante. Pediu ajuda e ambos, pai e orientadora educacional, resolveram falar com a menina, para fazê-la mudar de rumo. (COMO SE FOSSE O PAI, O CONTADOR MOSTRA-SE IRRITADO) Que ideia! Uma menina bandeirante! Que doida!

A menina passou uns dias estudando, mergulhada nos livros. Quando parecia que havia esquecido os bandeirantes, a história da região, ela vinha com novidade: “- Papai, você sabia que foi um médico francês, Dr. Raymond Enric des Gennetes, residente em Uberaba, sabendo que a região estava entre dois imensos rios, o Rio Grande e o Rio Paranaíba e que esses sugeriam um triangulo agudo, propôs o triangulo para denominar a região?” O pai, já amuado por ter certeza que ela não mudaria de assunto, resmungou: “-Melhor Triangulo Mineiro que Sertão da Farinha Podre”. E ele voltou a falar com a orientadora. Tinham que fazer alguma coisa. Que ideia! Uma menina bandeirante! Que doida!

Bandeirante 6

Acontece que foi a menina Claudia quem marcou uma reunião com o pai, a orientadora, a professora, e todos os colegas. Ela já estava cansada de ser chamada de doida! Eles então acharam que ela havia pirado de vez. Marcar reunião? Que ideia! Que doida!

No dia marcado, a sala de aula toda lá, querendo saber. O pai querendo entender o que iria acontecer. E a menina Claudia, pedindo a palavra, começou a falar: “- Vocês todos sabem que entradas foram expedições mandadas pelo governo português e que bandeiras foram iniciativas privadas, certo? Entradas e bandeiras tinham objetivos similares.” A criançada começou a murmurar.  Que ideia! Que doida! Agora virou professora. A menina Claudia respondeu; enérgica: “-Professora não, bandeirante!”. O pai colocou a mão na cabeça. Pobre menina! Ela continuou: “-Muitas bandeiras surgiram para aprisionar índios ou escravos africanos que haviam fugido de seus donos, não é mesmo? Outras surgiram movidas pelo desejo de encontrar metais e pedras preciosas. Em todas elas, havia sempre alguém com o desejo de encontrar remédios, plantas medicinais. Eu chamo essa pessoa de herborista! Eu vou ser bandeirante herborista!”

A classe calou-se. Os adultos também emudeceram enquanto a menina explicou que sabia que havia passado o tempo das bandeiras que formaram nossa região. Tinha também certeza que não há, por ali, índios e ou escravos em luta, mas um povo que precisa viver junto e em harmonia. Não só na região; em toda Minas Gerais, em todo o Brasil, há muito por descobrir sobre ervas medicinais. Nossas florestas grandiosas carecem de exploradores, de heróis bandeirantes que busquem alternativas de alimentos, de remédios em meio ao cerrado, ao chapadão, enfim, em todo o território brasileiro.

bandeirante 5

(O CONTADOR MUDA DE TOM, SOLENE, PARA ENCERRAR A HISTÓRIA) O tempo passou; a doutora Claudia tornou-se bandeirante respeitada, herborista de fama! Foi com ela que aprendi que os índios tupi-guarani chamavam pitanga de pyrang. E que essa frutinha colabora na prevenção do câncer. Ela também ensinou que os escravos africanos trouxeram a carqueja, bom para a digestão, para o fígado. Na escola, a doutora Claudia aprendeu a curar com agrião, guaco, alecrim, eucalipto, erva-cidreira, arnica… e continua, por aí, pesquisando nossa mata, na beira dos rios, buscando aprender a ajudar os outros através das nossas plantas. Uma bandeirante moderna! (CONCLUI COM ORGULHO E SATISFAÇÃO:) Que ideia! Uma menina bandeirante! Que doida!

GUARDA OS LIVROS, FECHA A MALA E SAI DE CENA.

O ataque dos Titanossauros

Quarto dos cinco textos do projeto Arte na Comunidade 2 publicados neste blog, “O ataque dos Titanossauros” faz referências aos sítios arqueológicos do município do Prata, em Minas Gerais. A intérprete da história foi Lilia Pitta e as imagens são de THANERESSA LIMA e de arquivo pessoal. Havendo interesse em reproduzir o texto ou interpretá-lo, peço a gentileza da citação da origem.

Organizado pela Kavantan & Associados, o projeto Arte na Comunidade 2 foi patrocinado pela Alupar e Cemig, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e contou com o apoio das prefeituras de Ituiutaba, Canápolis, Monte Alegre de Minas e Prata.

O Ataque dos Titanossauros

Original de Valdo Resende

 (O CONTADOR ENTRA EMPURRANDO SUA MALA-BIBLIOTECA. ENQUANTO PREPARA O AMBIENTE PARA CONTAR SUAS HISTÓRIAS, ABRE A MALA PARA SI, PROCURANDO OCULTAR O INTERIOR DA MESMA. RETIRA UM BANQUINHO ANTES DE COMEÇAR A FALAR)

LILIA 1
Lilia Pitta em foto de Thaneressa Lima (Divulgação)

– Um banco! Tenham sempre um banquinho na bagagem. Eu que já andei por meio mundo já sei que o mundo não vai terminar em barranco. É… Já ouviram essa? Que todo preguiçoso gostaria que o mundo acabasse em barranco para poder viver sentado? Eu não sou preguiçoso. Acontece que eu fico cansado. Como o mundo não vai acabar em barranco eu optei por carregar um banco! (RETIRA DEMAIS OBJETOS DA MALA, APRESENTANDO-OS AO PÚBLICO)

Senhoras e senhores, meninas e meninos do Prata! Meu nome é Adélia Drummond Sabino De Andrade! Muito Prazer! Estou encantada e feliz com a presença de todos. Tenho orgulho em apresentar a todos vocês o meu maior tesouro: Minha biblioteca! (PEGA UM LIVRO) Não sou dona das riquezas do Egito, mas conheço todos os faraós, sei a função de cada pintura, cada pirâmide, cada templo! (PEGA OUTRO LIVRO) Também domino as vidas de gênios, de reis, de príncipes e rainhas das mil e uma noites. Domino a capacidade de imaginar e por isso vi passando, diante dos meus olhos, um por um dos quarenta ladrões de Ali Babá e sei reconhecer, de longe, um cavaleiro da corte do Rei Artur! (PEGA MAIS UM LIVRO)… Neste livro aqui é que aprendi sobre este simpático bichinho (FOLHEIA O LIVRO, ANTES DE PROSSEGUIR)…

Para todos os presentes nesta linda praça isto é um dinossauro. Simples assim. Mas, não é! Não é mesmo! Não é de jeito nenhum! Saibam que este bichinho, se encontrado por ai, vai medir até 15 metros de comprimento e pode pesar até 20 toneladas. Guardem esse nome: Titanossauro. Meu amigo, Benedito, nunca esqueceu o nome desse grande quadrúpede herbívoro. E eu vou contar a vocês porque meu caro Benedito, o Ditinho, nunca mais esqueceu tudo isso.

LILIA 7
No topo da Serra Seio de Moça, o Morrinho, está a imagem de Nossa Senhora do Carmo (foto arquivo pessoal)

Benedito, o Ditinho, era um garoto que gostava de brincar ali na Praça Juscelino Kubitschek; aqui, no Prata. Um menino levado; como todo menino! Havia horas em que era bonzinho e desde sempre acreditou que Nossa Senhora do Carmo velava por ele. Foi a mãe do Ditinho que ensinou o menino a olhar ali, para o Morrinho, onde está a imagem da santa tomando conta de todo cidadão pratense. Ditinho habituou-se a olhar sempre na direção do Morrinho para… Contatar a santa! Pedia para a aula acabar logo, já que tinha papagaio pra soltar e o vento tava bom. Ditinho não pedia pra santa para ajudá-lo quando caçava passarinho. A mãe dele ralhava e ameaçava uma surra de vara se ele matasse o bichinho. Ditinho não se esquecia da mãe dizendo: “Olha aqui, Benedito! Deixe os passarinhos em paz. Já acabaram com muita mata, mudaram o ambiente com tanta lavoura e você… Você ainda quer matar os coitadinhos? É pecado! São Francisco não gosta. Nossa Senhora há de castigar!”

O menino deixava os passarinhos em paz. Saia com os amigos para buscar um bom pedaço de rio para tomar banho e houve uma época em que os meninos aproveitavam os passeios no campo para procurar pedra polida, pedra lascada. Tudo porque a avó de Ditinho, Dona Dinorá, muito simpática, contara aos meninos que a região tinha sido povoada por índios caiapós, que viveram por aqui muito antes da chegada dos bandeirantes. A avó Dona Dinorá ensinava e alimentava a imaginação dos meninos; a mãe do Ditinho ficava danada quando ele chegava dessas expedições, todo sujo, às vezes rasgado, com uma capanga cheia de pedras planejando mostrar para a professora. Essa vovó Dinorá, pensa a mãe; fazer o que, ralhava com o menino! Não precisava sujar tanta roupa!

“Olha aqui, Benedito! Eu vou fazer você lavar essas roupas imundas! Você acha que vai achar pedra lascada, Benedito! A terra já foi arada tantas vezes! Você fica pensando que é coisa antiga, parece coisa velha, mas é coisa mexida por gente que ainda tá viva!”

O menino não ligava. Sabia que as pedras que guardava eram material para paleontólogo, arqueólogo! Ditinho aprendeu com a avó Dinorá que no Prata haviam muitos dinossauros, que os ossos dos antigos bichos que viveram por aqui já haviam virado pedra.

LILIA 6
Detalhe da Praça Juscelino Kubitschek, em Prata, Minas Gerais. (foto arquivo pessoal)

Um dia a avó de Ditinho, foi fazer um pic-nic com ele e os amiguinhos na Praça Juscelino Kubitschek, bem ao lado daquela escultura de dinossauro e começou a falar nos bichos, especificamente nos Titanossauros; aconteceu que nesse tal dia a imaginação do Ditinho já tinha saído da praça e levado o menino lá pra serra Seio de Moça, o Morrinho. Lá do alto, Ditinho via o cerrado povoado de dinossauros, titanossauros e todos os seus parentes! Imaginação é uma coisa muito boa. Leva a gente longe e nada melhor do que os livros para estimular nossos pensamentos. Mas, naquele dia, os doces e a conversa da avó Dinorá foi tão boa que Ditinho nem percebeu que todos esses animais viveram por aqui há 80 milhões de anos. Viveram, não vivem mais. Na cabeça do menino já havia imagens dos Titanossauros tomando das águas do Rio da Prata, comendo as folhas verdinhas das árvores banhadas pelo rio.

Depois de brincar e sonhar, voltando pra casa, Ditinho olhou na direção do Morrinho e pediu para a santa proteger a cidade. Vai que apareça um Titanossauro, com seus 18 metros de comprimento! 18 metros! Ficou matutando, matutando… Chegando em casa viu que a mãe estava com um vestido verde. O menino implorou para que ela trocasse de roupa. “– Mãe, vai que um dinossauro confunde a senhora com um monte de folhas! É um perigo!” A mãe ficou uma fera! “Olha aqui, Benedito! Vou te mostrar um monte de folhas! Estão no jardim. Você vai capinar o jardim para aprender a não confundir mãe com monte de folhas. Quero aquilo lá limpinho! Vai, Benedito!”.

O menino nem ligou para a bronca da mãe. Limpar jardim não é castigo. Mas quando estava fazendo a tarefa, tomou o maior susto. Viu um calango, enorme, uma lagartixa gigante que, de repente, poderia ser um filhote de dinossauro! O menino olhou para os lados com receio, desconfiado e para garantir a simpatia de uma possível mamãe dinossauro tratou de não matar o calango.

LILIA 3
Lilia Pitta em foto de Thaneressa Lima(Divulgação)

Anoiteceu e naquela noite Ditinho demorou a dormir, pensando nos Titanossauros do Prata. O sono pesou e o menino acabou adormecendo quando, pouco depois, acordou com barulhos estranhos (FAZ OS SONS QUE O GAROTO ESTARIA OUVINDO). Era um bicho tentando abrir a porta… arranhava, arranhava cada vez mais forte. Um terror. Ditinho não quis nem acender a luz, com tanto medo. Os barulhos na porta continuavam e a esses somaram grunhidos, grasnados, um som horroroso. “– Minha nossa senhora do Carmo”, rezava o menino.

De repente, do outro lado da janela, uns uivos, uns gemidos, uma lamentação enlouquecida ( FAZ O BARULHO). Ditinho, assustado com os movimentos na porta ficou mais aterrorizado ainda com mais esses sons que vinham da janela. Então aconteceu que o barulho do outro lado da janela aumentou ao mesmo tempo em que a porta, sendo forçada pelos arranhões pesados ameaçou ceder. Antes que o monstro entrasse no quarto ditinho entregou os pontos, aos berros: “- Mamãe! Socorro! Socorro Mamãe!” A mulher entrou no quarto e o menino pulou no pescoço dela, abraçando-a e buscando proteção. Tem um dinossauro ai, tem um dinossauro ai! Repetia aos soluços. Estava arranhando a porta. E tem umas coisas lá fora. E a mãe, entendendo tudo, falou carinhosamente.

“Olha aqui, Benedito! Os dinossauros morreram; não existem mais. A natureza é assim, vai se transformando e com ela o homem evolui. Os homens também transformam o mundo. As mudanças ocorrem, há perdas e ganhos, mas nessa caminhada o que prevalece é o bem do homem. Sumiram os grandes dinossauros, mas aprendemos a plantar grandes lavouras que nos alimentam e também aprendemos a construir barragens em rios; assim temos luz. Você precisa ler mais, estudar mais. Quanto aos barulhos, lá fora, são gemidos dos gatinhos, namorando. Eles namoram assim. E veja ai, o dinossauro nos seus pés!”

Ditinho, ainda com medo, encolheu-se, mas já todo sem graça. O cachorrinho, de nome Sheik, lambia alegremente os pés do menino, abanando o rabo alegre, já esquecido de ter sido deixado fora do quarto. Foi a única vez na história do Prata em que um cachorro foi confundido com um dinossauro. Naquela noite, a mãe continuou no quarto contando as histórias dos Titanossauros do Prata, que viveram há 40 milhões de anos. Eram as mesmas histórias da avó, Dona Dinorá; mas, o menino, ah, o menino ouvindo a voz doce da mãe, dormiu tranquilo. Boa noite, Benedito!

LILIA 2
Lilia Pitta em foto de Thaneressa Lima (divulgação).

 

(O CONTADOR AGRADECE E, FECHANDO SUA MALA, SAI DE CENA).

O Inventor de Histórias

Terceiro dos cinco textos do projeto Arte na Comunidade 2 que estou publicando neste blog, “O Inventor de Histórias” faz referências e singela homenagem a Monte Alegre de Minas. O intérprete da história foi MARCELO RIBAS e as imagens são de THANERESSA LIMA e do meu arquivo pessoal.

Havendo interesse em reproduzir o texto ou interpretá-lo, peço a gentileza da citação da origem.

Organizado pela Kavantan & Associados, o projeto Arte na Comunidade 2 foi patrocinado pela Alupar e Cemig, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e contou com o apoio das prefeituras de Ituiutaba, Canápolis, Monte Alegre de Minas e Prata.

O Inventor de Histórias

Original de Valdo Resende

MÚSICA SUAVE. O CONTADOR ENTRA EMPURRANDO SUA MALA-BIBLIOTECA MANUSEANDO UMA MATRACA ENQUANTO PREPARA O AMBIENTE PARA CONTAR SUAS HISTÓRIAS. ABRE A MALA PARA SI, PROCURANDO OCULTAR O INTERIOR DA MESMA. TOCA A MATRACA E PARA, ABRUPTAMENTE, TIRANDO DA CAIXA UM “COLAR” COM DIFERENTES NARIZES.

 

Marcelo Ribas em foto de Thaneressa Lima (divulgação)
Marcelo Ribas e sua coleção de narizes em foto de Thaneressa Lima (divulgação)

– Ah, olá! Todos estão bem? Olhem o que achei hoje nos meus guardados. Parte da minha pequena coleção de narizes. Eu coleciono Narizes! Esse aqui, por exemplo, é de Cyrano de Bergerac, um cara muito feio, mas muito feio mesmo! Escondia-se da moça que amava, com vergonha do nariz, mas conquistou a moça com poesia. Poesia! (pega outro nariz, de palhaço) Este seria um simples nariz de palhaço, não tivesse pertencido ao Arrelia, o melhor palhaço de todos os tempos. E este (pegando um terceiro, enorme) é o de Pinóquio. O boneco que virou menino, de quem todos sabem a história. Esse nariz bem que poderia ter sido de Alfredo, um garoto meu amigo, que conheci quando estive não faz muito tempo, em Monte Alegre de Minas.

(VOLTA A MÚSICA)

Senhoras e senhores, meninas e meninos de Monte Alegre! (PARA DE TOCAR A MATRACA E FAZ MESURAS, ENQUANTO PROSSEGUE A AUTOAPRESENTAÇÃO) Meu nome é Murilo Rosa Dourado! Obrigado pela simpática acolhida! Estou feliz com a atenção e o carinho de todos. Com grande prazer quero apresentar a vocês a verdadeira fortuna de um ser humano: uma biblioteca! (PEGA UM LIVRO DE AVENTURAS) Com Júlio Verne percorri as Vinte Mil Léguas Submarinas e após descansar com Monteiro Lobato (MOSTRA O SEGUNDO LIVRO) no Sítio do Pica-pau Amarelo voltei para minhas queridas viagens, dando a volta ao mundo em oitenta dias. Conheço todos os grandes heróis (SEMPRE MOSTRANDO LIVROS): Ulysses, Robin Wood, Batman e Macunaíma! E é, claro, nosso pequeno Alfredo. Aquele que poderia ter recebido o nariz de Pinóquio, mas não por mentir, por inventar histórias!

Detalhe da Praça Nicanor Parreira. Arquivo pessoal.
Detalhe da Praça Nicanor Parreira. Arquivo pessoal.

Imaginem o menino Alfredo, no coreto da Praça Nicanor Parreira, encarando toda a cidade. Veio de casa já vestido de índio e foi contando esse fato: (IMITANDO O MENINO, CONTA RAPIDAMENTE) “- Sou um Índio Tupi, irmão de Mani, a menina que tinha a pele mais branca de toda a tribo. Mani era uma menina feliz, mas ficou doente. O pajé não curou, nenhum ritual curou e, para tristeza de todos, Mani veio a falecer. Meus pais resolveram enterrar minha irmãzinha dentro da oca; passado alguns dias, a cova sendo regada a lágrimas, nasceu uma planta. A raiz da planta era marrom por fora e branquinha, muito branquinha por dentro, como Mani. Os índios da nossa tribo passaram a usar a raiz para fazer farinha. A raiz branquinha é a nossa mandioca, uma junção de Mani – minha irmãzinha – com oca, a nossa casa.”

O pessoal ficou olhando Alfredo e, lógico, duvidaram do menino, dizendo-se irmão de Mani “- Isso é mentira! Que mentiroso” é o que murmuravam. E o menino, com toda convicção do mundo respondeu: “- Eu afirmo que é verdade!”. O mestre de cerimônias, que estava conduzindo a apresentação, percebendo que Alfredo estava contando uma lenda como se fosse história dele, resolveu ver até onde o menino chegaria, perguntando: “- Pois então, senhor Índio Tupi, irmão de Mani; e agora, hoje, onde o senhor mora?” Alfredo, não titubeou! “- Eu moro no poço sem fundo!”

A biblioteca ambulante. Marcelo Ribas em foto de Thaneressa Lima. (divulgação)
A biblioteca ambulante. Marcelo Ribas em foto de Thaneressa Lima. (divulgação)

A praça caiu na gargalhada com a mentira do menino, que assegurou a todos: “- Eu afirmo que é verdade!”. Como que alguém pode morar em um poço onde nunca foi encontrado o fundo? Que mentira! E Alfredo, ali, sempre com convicção: “- Eu afirmo que é verdade!”. O mestre de cerimônias exigiu: – Você pode nos explicar como é isso, Sr. Alfredo?” E o menino: “- Alfredo, não, homem branco. Sou Quati, irmão de Mani.” Quati é um bichinho, parente do guaxinim, que tem um narigão! Quati! Como alguém pode se chamar Quati? “- Quati afirma que é verdade!”. Pois o Alfredo, digo, Quati, continuou sua história:

Detalhe do monumento em homenagem aos soldados que lutaram na Guerra do Paraguai. Foto arquivo pessoal.
Detalhe do museu em homenagem aos soldados que lutaram na Guerra do Paraguai. Foto arquivo pessoal.

“Há muito tempo vieram parar nessas terras muitos soldados. Vinham da guerra e estavam muito doentes. Era a bexiga. Mais tenebrosa que arma de guerra, a doença matou dezenas de soldados”. E o mestre, alimentando a história: “- Então, Quati viu os soldados da Retirada da Laguna, durante a guerra do Paraguai quando passaram por aqui?”. Alguém do público não se aguentou, falando baixinho, “- Que mentira” e antes de responder ao mestre, Quati, olhando para o dito cujo: “- Quati afirma que é verdade! Vi todos eles. Um por um e não peguei a doença porque sou protegido de Tupã. Mas muita gente da tribo foi infestada por doença de branco. Não podíamos ficar por aqui. Passou o tempo, acabou a guerra, e o homem branco foi tomando posse da terra, transformando mata em lavoura. A caça ficou escassa. O povo de Quati teve que buscar proteção, moradia em outro lugar”. A plateia era puro riso e burburinho. Que mentira! Aquilo era uma festa do folclore e não um festival de mentira. E Alfredo, mantendo a fé:  “- Quati afirma que é verdade!”.

O cemitério onde enterraram soldados vitimados pela varíola. Parte do monumento em memória à Retirada de Laguna. Foto arquivo pessoal.
O cemitério onde enterraram soldados vitimados pela varíola. Parte do monumento em memória à Retirada da Laguna. Foto arquivo pessoal.

“- Meu caro Quati, disse o apresentador da festa, como a tribo se protege da invasão do homem branco? Não seria melhor conviver? Onde seus irmãos foram morar?” E o menino: “- Estamos na floresta, que o homem branco pensa ser amaldiçoada! Somos nós que iluminamos a mata, para fazer que o homem branco pense em fantasmas, almas penadas. Assim ficam longe da floresta que nos resta e assim nos deixam em paz”.  Um menino gaiato, amigo de Alfredo, não se conteve: “- Escuta aqui, Quati, vocês usam lanterna ou luz elétrica na floresta?” E Quati, sério: “- Usamos tochas, pequeno bacuri. Apenas tochas!”.

Aos poucos, a plateia foi rendendo-se à história de Quati, quer dizer, de Alfredo, ou é de Quati? Bom, a história de Quati contada por Alfredo, reunindo algumas das mais gostosas histórias de Monte Alegre em uma única história. Do poço sem fundo, das luzes na floresta assombrada… e até histórias reais, como a passagem dos soldados na Guerra do Paraguai. Uma boa história, a gente sabe, tem que ter lógica. Não pode ser assim, sem pé nem cabeça. Tem que ter começo, meio, fim. E foi buscando toda a lógica da história de Quati, que uma pergunta se fez necessária: “Quati, onde fica o poço sem fundo? Ninguém mais diz onde ele está!” O menino, em tom de confidência, contou: “- Fica no meio, bem no meio da floresta amaldiçoada”. E em tom ameaçador: “E não adianta procurar que ninguém achará esse poço. Só pode ver quem é da família de Quati. E para evitar que alguém descubra, nunca entramos pelo poço, mas por outras entradas que há na região.”

Marcelo Ribas em foto de Thaneressa Lima (divulgação)
Marcelo Ribas em foto de Thaneressa Lima (divulgação)

Como? Então há outras entradas para o poço sem fundo? “- Quati afirma que é verdade!”. Segundo narrou Quati, essas entradas ficam em uma das cachoeiras do município. Pode ser a Cachoeira do Rio Piedade, a Esperança, ou a cachoeira da Usina Velha no Rio Babilônia. Por trás da queda d’água fica a entrada que conduz ao acampamento da família de Quati.

 

Acontece que revelando o segredo, Quati colocava a família em apuros. É claro que todo mundo iria tentar encontrar os índios que iluminam a floresta nas noites escuras, sem lua. Muita gente iria atrás desse poço, desses índios, saber como é que vivem lá, distantes de todos. Houve até quem propôs irem todos imediatamente. “- Nunca!” Gritou Quati, ameaçador! “-Nosso segredo está garantido e ninguém, nunca, encontrará o poço, nem chegará perto das luzes da floresta! Nem mesmo as almas penadas que vagam por essa cidade. Ninguém! Adeus! Vocês nunca mais encontrarão Quati!” E Quati, jogando uma bomba de fumaça, desapareceu do palco na frente de todos.

Quati saiu do coreto e nunca mais voltou. Quem voltou, rapidamente, já sem as roupas de indiozinho foi o Alfredo. Imenso aplauso ecoou por toda a praça Nicanor Parreira. Sem dúvida aquela era a melhor história contada na praça. Alfredo era justo merecedor do grande prêmio para contadores de histórias. Alguém, entre brincalhão e invejoso, não se aguentou: “Como esse Alfredo conta mentira! Merecia um nariz de Pinóquio!” E é claro, que Alfredo respondeu: “- Eu afirmo que é verdade!”.

 

Marcelo Ribas em foto de Thaneressa Lima (divulgação)
Marcelo Ribas em foto de Thaneressa Lima (divulgação)

(O CONTADOR TOCA A MATRACA E ENCERRA SUA APRESENTAÇÃO COM UM AGRADECIMENTO. VOLTA A MEXER NOS LIVROS, ANTES DE CONTINUAR SEU TRABALHO).

A Batalha do Conhecimento

“A batalha do conhecimento” é o segundo dos cinco textos do projeto Arte na Comunidade 2 que estou publicando neste blog. A segunda cidade, aqui o critério é alfabético, é Ituiutaba. “A batalha do conhecimento” foi interpretado por RONAN VAZ. As imagens são de THANERESSA LIMA e do meu arquivo pessoal.

Havendo interesse em reproduzir o texto ou interpretá-lo, peço a gentileza da citação da origem.

Organizado pela Kavantan & Associados, o projeto Arte na Comunidade 2 foi patrocinado pela Alupar e Cemig, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e contou com o apoio das prefeituras de Ituiutaba, Canápolis, Monte Alegre de Minas e Prata.

A Batalha do Conhecimento

Original de  Valdo Resende

O CONTADOR ENTRA EMPURRANDO SUA MALA-BIBLIOTECA. DESTA SAI O SOM ALEGRE DE BATIDAS DE TAMBORES. TOCA UM “TAMBOR DE CONGADA” ENQUANTO PREPARA O AMBIENTE PARA CONTAR SUAS HISTÓRIAS. BATE NO TAMBOR E DIZ, APRESENTANDO UMA BANDEIRA DE CONGADA, COM A IMAGEM DOS DOIS SANTOS.

ITUIUTABA 1
(Ronan Vaz em foto de Thaneressa Lima – Divulgação)

– Salve São Benedito! Salve! Nossa Senhora do Rosário que Abençoe a todos nós! (PEGA UM BANQUINHO E SENTANDO-SE NO MESMO, PROSSEGUE) Não custa nada pedir proteção aos santos. Nada mesmo! E a gente nunca sabe o que vai acontecer logo ali, não é mesmo? Há muitas formas de pedir proteção e cada pessoa pede para quem acha que deve. Mas que ninguém nunca deixe de contar com a proteção do alto!

ITUIUTABA 2
(Ronan Vaz em foto de Thaneressa Lima – Divulgação)

(BENZE-SE E ACOMODA A BANDEIRA)

Senhoras e senhores, meninas e meninos de Ituiutaba! (TOCA O TAMBOR E FAZ MESURAS, ENQUANTO FAZ A AUTOAPRESENTAÇÃO) Meu nome é Autran Guimarães Cardoso! Muito Prazer! Estou agradecido pela carinhosa recepção. Quero, prioritariamente, apresentar a todos vocês o melhor lugar do mundo: Minha biblioteca! (PEGA UM LIVRO DE HISTÓRIA) Sou descendente direto de Chico Rei e guardo toda a história dos nossos antepassados que vieram do Congo! (PEGA OUTRO LIVRO) Conheço e posso contar a história de nossas tribos; suas lendas, seus costumes…  Construo com minha imaginação aquilo que está só nas entrelinhas da história e por isso naveguei com o capitão Gancho e seus piratas, lutei ao lado de Robin Wood e descobri os mistérios das escolas de Harry Potter! (PEGA MAIS UM LIVRO)… Neste livro aqui aprendo coisas, sobre quase tudo! Até sobre… Leite!

(APONTA PARA O LITRO DE LEITE; FOLHEIA O LIVRO, ANTES DE PROSSEGUIR)

ITUIUTABA 5
(Ronan Vaz em foto de Thaneressa Lima – Divulgação)

Para os nossos queridos professores o leite é um líquido branco, opaco, segregado pelas glândulas mamárias da fêmea dos mamíferos!(FAZ EXPRESSÕES DE ESTRANHAMENTO E PROSSEGUE). Para a grande maioria o leite é o líquido mágico que se transforma em… (BATE O TAMBOR) Pudim de leite! Chocolate ao leite! Doce de leite! Iogurte e Queijo! Ah! Muitos queijos! Prato, brie, camembert, muçarela, provolone, gorgonzola, roquefort, mascarpone, ricota, gruyére, parmesão e o mais querido, o mais amado, o mais gostoso: o queijo mineiro!

Aprendi tudo sobre queijos com um menino de Ituiutaba, o Camilo! Camilo! Um menino esperto, inteligente! Nunca teve uma vaquinha, mas sabia de leite porque colocou na cabeça que ia saber tudo de Ituiutaba. Se o leite é historicamente um dos principais produtos da cidade, Camilo sabe tudo sobre leite e seus derivados. E sabe também sobre arroz, sobre cana! Cana de açúcar! Cana de cadeia, não sei se sabe; cana de cachaça, acho que não, não sei. O certo é que Camilo sabia tudo de Ituiutaba e foi dele que ganhei esse tambor de congada, feito especialmente para celebrar a festa na cidade (BRINCA DE DANÇAR A CONGADA). Camilo é apaixonado pela cidade onde nasceu.

Camilo estudava na Escola Estadual João Pinheiro quando a professora, Dona Marília, inventou de fazer uma batalha dentro da sala. Uma batalha de conhecimento! A sala foi dividida em cinco grupos que deveriam estudar tudo sobre a cidade: geografia, história, folclore, economia, enfim, tudo! Em dia marcado pela professora os alunos passariam por uma batalha oral. Quando uma equipe não soubesse, aquele que acertasse ganharia os pontos. E o melhor, a equipe vencedora iria ganhar um monte de prêmios: Doces, livros, brinquedos e o prêmio maior: um final de semana inteirinho hospedados na fazenda Haras Barreiro, curtindo as belezas do maravilhoso museu da família Drummond.

Ninguém duvidava que Camilo fosse peça fundamental para a vitória de sua equipe. O menino sabia tudo e certamente sairiam vencedores, exceto por um problema. Um problema! Um único e seriíssimo problema (O ATOR DIRÁ GAGUEJANDO TODA A PRÓXIMA FRASE). Ca-mi-lo  e-ra  ga-go. To-tal-men-te  ga-go.  Ga-go!

Essa era uma grande preocupação do grupo de Camilo. A professora colocou como regra o tempo de 15 segundos para cada resposta. Imagine só! 15 segundos para Camilo responder, por exemplo, o que aconteceu de triste para a cidade em novembro de 1938? Marquem o tempo! (FINGE SER O MENINO E GAGUEJANDO, RESPONDE:) – No di-a 31 de ou-tu-bro de 1-9-3-8 um  vi-o-len-to  in-cên-dio  des-troi a Ma-triz de São Jo-sé!

A Matriz de São José, restaurada, é um dos pontos turísticos da cidade
A Matriz de São José, restaurada, é um dos pontos turísticos da cidade

O mais preocupado e apreensivo era o próprio Camilo. Tinha vergonha de gaguejar. Alguns colegas riam, outros pediam que respondesse depressa; o que o deixava mais gago ainda. Em casa, deixou de comer e começou a dormir mal. Quanto mais se aproximava o dia da batalha, mais o menino se angustiava. Com muito custo Dona Tereza, a mamãe do Camilo, conseguiu que ele falasse o que estava acontecendo. Muito custo mesmo! Gaguejando, Camilo levou mais de uma hora pra contar tudo! (IMITA O MENINO). – Va-mos ter u-ma ba-ta-lha de co-nhe-ci-men-to na es-co-la e eu es-tou com medo de falar na frente dos meninos! E chorou copiosamente no colo da mãe.

Dona Tereza, a mãe, foi falar com Dona Marília, a professora. (IMITANDO A MÃE) “Escuta aqui, Dona Marília, meu filhinho Camilo está sofrendo muito com receio de falar na frente da sala. Falar, não! De gaguejar!” A professora, antenada com tudo que há de bom nesse mundo, respondeu: “Não posso excluir o Camilo, minha senhora. A participação de todos é um fator preponderante na nossa escola…”

Aquele lero-lero não convenceu a mãe do menino, preocupada em proteger o garoto. E o dia da batalha chegando. Camilo, mesmo com medo de ga-gue-jar na fren-te dos co-le-gas, estudava mais e mais. Aprendia mais sobre os Rios Grande e Paranaíba, sobre os ribeirões São Lourenço e São Vicente e gostava especialmente de ler sobre os índios caiapós, tupis-guaranis, aratus… Estudou tudo do rio Tejuco! Seu potencial hidrelétrico e as possibilidades de melhorias na transformação regional. De vez em quando se imaginava na frente dos colegas. Na cabeça do menino a professora perguntava e a resposta vinha, fácil, fluente! (IMITANDO PROFESSORA E ALUNO). “- Camilo, quais são nossos municípios limítrofes?” e o menino: “- Gurinhatã, Ipiaçú, Capinópolis, Canápolis, Santa Vitória, Monte Alegre de Minas, Prata e (GAGUEJANDO) Cam-pi-na Ver-de (CHORA NO FINAL, COMO SE FOSSE O GAROTO)”.

(O ATOR BATE O TAMBOR DA CONGADA, RETOMANDO A CENA)

Chegou o grande dia! O dia da grande batalha do conhecimento. Quem sabe mais sobre Ituiutaba? Antes de sair de casa, Camilo tremia como se a batalha fosse de espadas, bombas atômicas; Dona Tereza, concordando com as atitudes da professora, sabia que o filho precisava de estímulo e antes que o menino saísse de casa, lembrou-lhe: (IMITA A MÃE) “- Meu filho, Winston Churchill, o grande estadista inglês gaguejava, assim como o cientista Charles Darwin! Isaac Newton gaguejava também! Vai lá e mostre o que você sabe. Gaguejando ou não!”

ITUIUTABA 4
(Ronan Vaz em foto de Thaneressa Lima – Divulgação)

A batalha foi emocionante. A sala de Dona Marília virou um grande campo onde o conhecimento era a principal arma. O grupo de Camilo foi derrotando os demais por um estratagema simples: quando a professora fazia uma pergunta para outro grupo, Camilo gaguejava, quer dizer, respondia para os colegas de sua equipe. Assim, os adversários não sabendo a resposta, era a equipe de Camilo a primeira a levantar a mão e a responder corretamente!.

Acontece que a professora exigiu, pelo regulamento, um rodízio dos alunos respondentes. Assim, na última pergunta, não teve como. Camilo teria que dar a resposta perante a sala ou sua equipe perderia. Grande tensão! Grande expectativa! Camilo tremia, ameaçava cair no choro quando dona Tereza lascou a pergunta: – Camilo, qual o significado de ITUIUTABA? Quinze segundos! Silêncio mortal e o nosso querido gaguinho não pestanejou:

(IMITANDO O GAROTO)

“-I, I, I, I, I rio. Tuiu, tuiu, tuiu, tu-iu… tijuco. Ta-ba, ta-ba, ta-ba, al-deia, ci-da-de.” A sala permaneceu muda e Camilo, vitorioso, respirou fundo e repetiu: (SEM GAGUEJAR): “ –  I – TUIU-TABA. Cidade do Rio Tejuco!” (O ATOR FAZ GRANDE COMEMORAÇÃO). Camilo é o maior! Camilo é o maior, Camilo é o maior!

Naquele dia, Dona Marília ensinou a maior lição que toda e qualquer pessoa deve saber: não há limite para o conhecimento. Não há limites para quem estuda e aplica aquilo que sabe, independendo de quais características a natureza deu ao indivíduo.

ITUIUTABA 3
(Ronan Vaz em foto de Thaneressa Lima – Divulgação)

(O CONTADOR ENCERRA SUA APRESENTAÇÃO COM UM AGRADECIMENTO. FECHA A SUA MALA BIBLIOTECA E SAI DE CENA).

Monte Alegre de Minas e Canápolis Recebem Mostra Teatral do Projeto Arte na Comunidade 2

CONHEÇA A PROGRAMAÇÃO DE ENCERRAMENTO DO PROJETO ARTE NA COMUNIDADE 2:

prata 1
Ronan Vaz e Marcelo Ribas em “Histórias do Pontal de Minas”, foto by Thaneressa Lima

MONTE ALEGRE DE MINAS

Conheça as atrações do dia 5 de setembro sexta, às 18h00, na Praça Nicanor Parreira, em Monte Alegre de Minas.

Apresentação da Banda Municipal Maestro Victal Reis, sob a regência do Maestro Leonardo Reis, e da dupla Zé Bicho de Pé e Diva Bela.

Espetáculos
A peça “Histórias do Pontal de Minas”, de Valdo Resende, foi criada exclusivamente para compor o projeto Arte na comunidade 2. É o próprio autor quem dirige os atores José Luiz Filho, Marcelo Ribas e Ronan Vaz e a atriz Lilia Pitta.
“Balaio Popular”, do Grupontapé de Uberlândia, mostra as tradições populares e a religiosidade com enfoque no universo mineiro.

CANÁPOLIS

Em Canápolis, dia 7, domingo, às 16h00, na Praça 14 de Julho, uma tarde divertida, cheia de arte e histórias. Conheça a programação:

Apresentações de artistas locais: 
Roda de Capoeira
Banda Municipal José Alexandre da Silva
Dança: “Minha 1º Valsa” e “A Boneca Encantada” – 2º colocada no 14º DANÇARAXÁ (Araxá/ MG), com os alunos da Oficina de Ballet da Casa de Cultura

Espetáculos
A peça “Histórias do Pontal de Minas”, de Valdo Resende,  criada exclusivamente para compor o projeto Arte na comunidade 2. É o próprio autor quem dirige os atores José Luiz Filho, Marcelo Ribas, Ronan Vaz e Lilia Pitta.
Já “A História da Menina que Falava Muito e…” descobrimos com Falância – uma menina de nove anos como outra qualquer, com seus sonhos, vontades e uma energia típica dessa faixa etária e que não gosta de estudar – a importância da leitura e da busca pelo conhecimento.

Organizado pela Kavantan & Associados, o projeto Arte na Comunidade 2 é patrocinado pela Alupar e Cemig, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e conta com o apoio das Prefeituras de Canápolis, Monte Alegre, Ituiutaba e de Prata. Para mais informações, acesse a página no Facebook http://facebook.com/artenacomunidade e fique por dentro de toda a programação.

 

Aguardamos todos vocês!

“Arte na Comunidade 2” em Ituiutaba

Neste sábado, dia 30, às 19 horas, na Praça Getúlio Vargas, em Ituiutaba, teremos a Mostra Teatral que é parte da programação do projeto ARTE NA COMUNIDADE 2. Além das escolas participantes do projeto, serão apresentadas duas outras peças:

Slide2
Lilia Pitta e Ronan Vaz, Histórias do Pontal de Minas.

– “Histórias do Pontal de Minas”, de Valdo Resende, criada exclusivamente para o projeto Arte na comunidade 2. Fatos reais e fictícios das cidades participantes do projeto estão nas aventuras vividas pelas crianças da região, contadas e interpretadas pelos atores José Luiz Filho, Marcelo Ribas, Ronan Vaz e Lilia Pitta. É o próprio autor quem dirige a montagem.

– “Mágico de Oz”, musical com o Grupo Ciranda de Cena de Uberlândia, Minas Gerais,  resgata valores como a amizade, os ideais da família e a valorização da cultura popular. A trama conta a história de Dorothy, que vivia feliz com seus tios até ser levada por um furacão a outro mundo. Na tentativa de voltar para casa ela sai à procura do grande OZ, o único que poderá lhe ajudar. Nesta busca, Dorothy encontrará muitos perigos e desafios.

José Luiz Filho e Marcelo Ribas, Histórias do Pontal de Minas
José Luiz Filho e Marcelo Ribas, Histórias do Pontal de Minas

Após as apresentações haverá sorteio de prêmios para o público presente. Organizado pela Kavantan & Associados, o projeto Arte na Comunidade 2 é patrocinado pela Alupar e Cemig, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e conta com o apoio das prefeituras de Ituiutaba, Canápolis, Monte Alegre de Minas e Prata. Para mais informações, acesse a página do projeto no Facebook e fique por dentro de toda a programação.

Ficaremos honrados com a presença de toda a população de Ituiutaba e região. Compareçam!

.