No dia 4 de dezembro vou no mercado levar
Na Baixa do Sapateiro flores pra santa de lá
Bárbara santa guerreira, quero a você exaltar
É Iansã verdadeira! A padroeira de lá…
(Dia 4 de dezembro – Tião Motorista)
Salvador está em festa neste domingo, dia 4 de dezembro. Tudo começa muito cedo; ao amanhecer há queima de fogos, missa e depois vem procissão. Santa Bárbara é celebrada nas igrejas da velha cidade; Iansã nos terreiros de candomblé. Na alma do povo simples Santa Bárbara e Iansã são uma só.
Santa Bárbara é a padroeira dos mercados, Iansã é a senhora dos raios e das tempestades. E na alegria inerente ao povo baiano a festa ganha espaço. Muito caruru, que é oferenda à Orixá, e muito samba de roda, maculelê e capoeira. “Êpahei, minha mãe! É seu dia!”

Foi nesse cenário de fé que Dias Gomes situou a história de Zé-do-Burro, “O Pagador de Promessas”. Zé tinha um burro, Nicolau, que adoeceu. Nicolau tinha “alma de gente”, era o melhor amigo de Zé-do-Burro. Pelo burro Zé prometeu levar uma cruz nas costas até a igreja de Santa Bárbara, no dia dedicado à Santa. A cruz teria o mesmo tamanho da cruz de Cristo. O burro sarou e a promessa deveria ser cumprida. O grande conflito será estabelecido entre o homem simples e o vigário da paróquia. O representante da igreja não permite que Zé-do-Burro pague a promessa, feita no candomblé de Maria de Iansã.

A peça estreou aqui na Bela Vista, no Teatro Brasileiro de Comédia, no dia 29 de Julho de 1960. A interpretação de Leonardo Vilar é marcante e pode ser confirmada ainda hoje, via versão cinematográfica, em filme dirigido por Anselmo Duarte. A peça ganhou muitos prêmios e recebeu montagens em todos os continentes, tornando-se um marco da história do teatro brasileiro. Também o filme, premiado em 1962 com a Palma de Ouro do Festival de Cannes, é destaque na trajetória do cinema brasileiro.

Sobre a peça, o próprio Dias Gomes escreveu: ”O Pagador de Promessas” nasceu, principalmente, dessa consciência que tenho de ser explorado e impotente para fazer uso da liberdade que, em princípio, me é concedida. Da luta que travo com a sociedade, quando desejo fazer valer o meu direito de escolha, para seguir o meu próprio caminho e não aquele que ela me impõe. Do conflito interior em que me debato permanentemente, sabendo que o preço da minha sobrevivência é a prostituição total ou parcial.

A peça “O Pagador de Promessas” pode ser descrita como o embate entre a intolerância, representada pelo padre, e a teimosia, fortalecida pela fé mítica de Zé-do-Burro. Com maestria, Dias Gomes nos coloca ao lado do homem simples em luta contra o grande sistema. Há momentos em que somos meros curiosos perante o drama do homem comum; ele é simplório demais, ingênuo, “burro”. Todavia é movido por algo que mexe com todos nós: foi agraciado pela Santa; o que pode ocorrer se não pagar a promessa? Medo e culpa são sensações vividas, conhecidas por todos nós. E somos brasileiros, qual o problema? Que razão tem o padre para impedir o pobre homem de pagar a tal promessa?

Escrita no final dos anos de 1950, a peça é um claro documento das brutais diferenças entre o homem rural e o homem urbano. Zé enfrenta a cidade e tem, no máximo, a simpatia de alguns para com sua causa. Sobram interesses particulares; revelam-se desejos mesquinhos; a cidade observa curiosa e atenta ao embate entre o padre e o sertanejo simplório. A civilização urbana é prostituida, vendida. Resta ao homem simples viver o drama da fidelidade aos próprios princípios. Nesse mundo, tão bem retratado pelo autor da peça, não há lugar para heróis. O final de Zé-do-Burro é trágico.

Dia 4 de dezembro é dia de Iansã, Bárbara Santa Guerreira! Êpahei! Um domingo de festa com caruru e samba de roda. Iansã, que é aquela que luta pelos seus, possa defender-nos de todo o mal, principalmente do tenebroso sentimento de intolerância que tanto afeta nosso cotidiano, mesmo sem que sejamos “pagadores de promessas”.
Bom final de semana!
muito boa!!! e domingo dia 04 de dezembro, dia de todas as mães!!! vamos comemorar o dia de Iansã!!! tolerância e paciência são o que faltam para as pessoas!!!! abraços!!
É uma das melhores peças brasileiras. Pena que não passem o filme mais vezes.
“… dessa consciência que tenho de ser explorado e impotente para fazer uso da liberdade que, em princípio, me é concedida. Da luta que travo com a sociedade, quando desejo fazer valer o meu direito de escolha, para seguir o meu próprio caminho e não aquele que ela me impõe….”
“ue Santa Bárbara me proteja!
Defenda-nos do Vasco Santa Bárbara. Corinthians tem que ser Campeão. kkkkkkkkkkkkk
Há dia no calendário em que Salvador não esteja em festa?
É ruím que o Palmeiras vai tirar esse campenato do Corínthians, heinnnnnnnnn? Também festaremos mais tarde por mais um ano de reinado.
Textos sempre muito bons, Valdo!
Abração.
Rafael Castello