
A Igreja Católica comemora os quinhentos anos da Capela Sistina, que foi aberta ao público no dia 1 de Novembro de 1512. O trabalho de Michelangelo foi encomendado pelo Papa Júlio II. Entre as histórias que envolvem esse momento histórico, consta que Michelangelo não queria pintar a capela, pois preferia a escultura à pintura. Mas o Papa Júlio II não era do tipo de sujeito para ser contrariado. Dois indivíduos de gênio forte; com certeza foi um relacionamento tenso.
Seria fantástico visitar a Capela Sistina no meio da madrugada, ou nas primeiras horas da manhã, antes da entrada dos visitantes. É um local para ser contemplado, demoradamente contemplado, o que é muito difícil pela grande quantidade de turistas; afirma-se cerca de 10 mil diariamente, dobrando para 20 mil em dias de pico.
Estivemos lá, minha irmã e eu, e sinto-me bastante privilegiado por isso. Foi durante um curso de arte e chegamos à Capela Sistina após conhecer a escultura de Moisés, do próprio Michelangelo, que seria parte do conjunto escultórico para o túmulo do Papa Júlio II; também já havíamos passado pelo Capitólio e, na Basílica de São Pedro, havíamos parado para observar atentamente a Pietá. A Capela Sistina é um “golpe de misericórdia” em alguém que tente não sucumbir ao gênio de Michelangelo.

No Museu do Vaticano recordo uma aula extensa, com uma professora que havia trabalhado na restauração do altar mor. Arte e história com uma riqueza de detalhes minuciosos, impressionantes. Tivemos como ilustração da aula dois imensos painéis reproduzindo o teto e o altar, e ainda outro, com as paredes laterais com cenas da vida de Moisés de um lado e, do outro, cenas da vida de Jesus Cristo. A aula foi concluída com a visita e ainda uma conclusão, para dúvidas finais.
Antes de entrar na Capela, passamos pelos quartos, pintados por Rafael Sanzio. Conta-se que os quartos papais foram destinados ao trabalho de Rafael, já que a Capela Sistina, originalmente criada para as orações privadas do Papa, havia sido destinada ao rival Michelangelo. Não vimos parte desses quartos, pois estavam em restauração, assim como parte da parede esquerda da Capela Sistina, que também estava sendo restaurada. Todavia, foi possível admirar a Escola de Atenas, na Stanza della Segnatura.
Nada é muito calmo e tranquilo durante a visita, apesar do clima respeitoso dentro da Capela. Padres com suas batinas negras, pesadas, organizam o ambiente, apressando todo mundo para que mais pessoas possam ter o prazer de conhecer o local. Pedem silêncio e “tocam a boiada” com eficiência e é por isso que os milhares de turistas que passam por Roma têm a oportunidade de contemplar o local. O tempo é escasso para observar os 1.100 metros quadrados do teto. Sem contar que ainda há as paredes laterais e o altar mor que merecem igual observação.
Neste momento o foco está no teto, com a comemoração dos quinhentos anos; logo será a vez de comemorar o aniversário do altar mor. Este foi pintado entre os anos de 1536 e 1541, duas décadas após a pintura do teto. O altar mor é estilisticamente muito diferente do teto e já anuncia as características iniciais do Barroco. Assim, o teto da Capela Sistina é o ápice do Renascimento e o altar mor, com a obra denominada “O Juízo Final”, com sua intensa expressividade, abre o espaço terreno tanto para o céu quanto para o inferno. Michelangelo é o grande mestre.

A Capela Sistina é apenas um detalhe do imenso complexo que é o Museu do Vaticano. Há roteiros diferenciados para visitar o local que, além das obras nos espaços internos, conta com um maravilhoso jardim também cheio de obras de arte. Todo esse imenso patrimônio foi amealhado durante dois milênios, contribuindo para as especulações e críticas sobre os tesouros da igreja católica.
Eu sou grato a quem soube preservar tão valioso patrimônio histórico e artístico. As obras de arte estão lá, para conhecimento e deleite de todos, independendo de religião. Por uma longa trajetória histórica estão sob a guarda da Igreja. Na França e Inglaterra, por exemplo, estão em instituições mantidas por governantes laicos. Tanto a Igreja quanto o Estado são eficientes na manutenção do patrimônio histórico e artístico universal. Ainda mais, souberam transformar esse patrimônio em fonte de divisas, atraindo turistas de todo do planeta.
Henrique VIII, ao romper com a Igreja Católica, favoreceu rumos muito diferentes para a arte na Inglaterra renascentista (lá, tivemos Shakespeare!). Da mesma forma, a posterior ação de Napoleão III, na França, ao criar o “Salão dos Excluídos” contribuiu para que o público parisiense tivesse conhecimento da primeira geração do Impressionismo. Religiosos ou leigos, os seres humanos garantem a sobrevivência de grandes trabalhos artísticos e essa é uma atitude para ser respeitada e imitada.

Espero que, nos próximos dias, ocorram muitas reportagens sobre a Capela Sistina por todas as emissoras de televisão, em jornais, revistas, internet. Minha singela contribuição é esta que, espero, desperte um pouquinho da curiosidade das pessoas para essa maravilha da criação de Michelangelo.
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Bom final de semana!
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Ouvi hj em algum jornal por ai que querem proibir visitação a Capela alegando que seria a melhor maneira de conserva-la do tempo e ai imagino não seria um absurdo privar o resto do mundo que ainda sonha visitá-la de tamanha beleza e riqueza de detalhes….. Ah….o mundo moderno onde acham que por fotos vê-se e sente-se tudo.
QUERO VOLTAR.
Também tive o privilégio de ficar embasbacada diante de tão impressionante obra… Relembrar a experiência por intermédio de seus sempre ótimos textos, é outro privilégio!