Há muito que desejo escrever sobre o Matizes Dumont. Grupo formado por uma família da cidade mineira de Pirapora, o Matizes Dumont provocou uma revolução no universo do bordado. Para a família de criadores o bordado é uma linguagem; assim assumida a atividade artesanal tornou-se arte. Ao alto domínio técnico somou-se pesquisa, muita sensibilidade e criatividade que, atingindo outras esferas de interesse, expressam um modo de ser que é de Minas Gerais e do Brasil.

Meu contato com o grupo Matizes Dumont deu-se através do CD Pirata, de Maria Bethânia. Na capa e encarte do CD, projeto gráfico de Gringo Cardia, destacam-se os bordados da matriarca da família, Antônia Zulma Dumont, das filhas Ângela, Marilu, Martha e Sávia Dumont, sobre desenhos do filho Demóstenes Dumont Vargas Filho. O premiado CD da cantora é ímpar na qualidade gráfica pelas ilustrações dos delicados bordados do Matizes Dumont.

Descobri, posteriormente, que o grupo mineiro já acumulava prêmios muito antes do CD de Bethânia. Vários trabalhos do Matizes Dumont ilustram capas e livros inteiros; alguns foram premiados pelo Jabuti e pela União Brasileira de Escritores. Também descobri uma expressão muito própria dessa família, fazendo-nos conhecer, ou melhor, reconhecer Minas Gerais em motivos religiosos, poeticamente campesinos. A cidade de Pirapora, banhada pelo rio São Francisco, tem o rio, os peixes e os barcos, entre os motivos utilizados pela família de artistas.

É muito bom, em tempos de domínio do virtual, ver a valorização do bordado. Nas últimas décadas, com as mudanças de paradigmas no universo profissional feminino, algumas atividades artesanais foram quase esquecidas. Cresci vendo minha avó fazendo trabalhos incríveis em crochê e presenteei muitas amigas com peças de tricô feitas por minha mãe. Tive uma tia, Olinda, que bordava enxovais infantis e pintava tecidos de toda ordem. Minha irmã, Walcenis mantém a tradição familiar, indo além do artesanato, pensando em arte. Uma amiga, Maria da Penha (veja aqui) segue na mesma trilha da herança ancestral, trabalhando e criando objetos para enfeitar casas e pessoas.

Bordar, fazer tricô ou crochê, costurar… O Matizes Dumont é um notável exemplo de que atividades artesanais podem ir muito além da mera repetição, alcançando a criação de mais alto nível. O artesanato tornou-se raridade nesse mundo de trabalho árduo onde a falta de tempo conduz ao objeto fabricado em larga escala. Algumas pessoas dedicam tempo e investem na criação de objetos para consumo próprio ou de um círculo reduzido.
Criar é gratificante, compensador. O grupo mineiro oferece cursos e oficinas para interessados (visite o site ). Há outras escolas por aí. Há, principalmente, o conhecimento e a experiência de nossas mães, avós, tias, que deve ser praticado para não cair no esquecimento e, seguindo o exemplo do Matizes Dumont, ser reinventado. O mundo, feito com arte, fica muito melhor.
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Até mais!
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Nota:
As fotos dos bordados do Matizes Dumont que ilustram este post são de Arnold Baumgartner e Rui Faquini. Muitas outras estão no site www.matizesbordadosdumont.com e também na página do Facebook: Matizes Dumont
Não sabia que era um bordado na capa do CD! Poxa, que informação ótima.
Parabéns pelo post! 🙂
Me arrepiei quando vi pela primeira vez a capa do disco de Bethania, e continua a acontecer o mesmo até hoje. Escutar a voz de Bethania admirando a arte primorosa da capa não tem preço. Obrigada Srª Dumont. Minhas Reverências.Obrigada Valdo Resende pela matéria.
Oi Valdo. Aqui é Marilu Dumont. Sentimo-nos muito honradas com a sua homenagem. Só vi hoje, setembro de 2015 – alguns anos depois…mas mesmo assim inda é tempo de expressar nossa gratidão. Vai o abraço bordado carinhosamente para você, com águas e flores do cerrado. Em nome do Grupo Matizes Dumont