O Google homenageou, neste domingo, 14 de abril, os 117 anos de Alfredo Volpi. Membro do “Grupo Santa Helena”, Volpi é popularmente conhecido como o pintor das bandeirinhas e dos casarios do bairro do Cambuci, bem ao lado do bairro da Aclimação, aqui em São Paulo.
Um edifício já demolido que ficava na Praça da Sé, denominado Santa Helena abrigou entre 1933 e 1940 um grupo peculiar de artistas, todos de origem modesta. Se os Modernistas tinham origem entre jovens de abastadas famílias paulistanas, as gerações seguintes vêm das classes operárias e, frequentemente esses artistas prestavam serviços aos ricos senhores do café.
Volpi foi pintor de paredes; entre seus colegas no Grupo Santo Helena estão um ferroviário (Clóvis Graciano), um açougueiro (Fúlvio Pennacchi), um jogador de futebol (Francisco Rebollo) e outros pintores, como Aldo Bonadei e Mário Zanini, todos oriundos da classe operária. Descendentes de espanhóis e italianos, os pintores do Santa Helena faziam a pintura decorativa dos palacetes paulistanos e gostavam de pintar paisagens, praticando esse gosto nos finais de semana. Alugaram uma sala no Santa Helena, onde pintavam, faziam reuniões e, importante, tinham local para guardar a produção do grupo.
Certamente foram olhados com desdém pelos meninos ricos formados no exterior, preocupados com uma identidade brasileira na arte. Ao pintar a periferia paulistana – que na época, entenda-se, começava na várzea onde hoje há o Parque Dom Pedro, os pintores do Grupo Santa Helena fizeram um trabalho original, às vezes ingênuo, mas sobretudo sincero e autêntico.
Volpi chegou da Itália ainda criança, com menos de dois anos. Trabalhou como carpinteiro, encadernador, entalhador, pintor de paredes. Gente como ele, de famílias de artesãos desempregados na Europa, teve grandes chances na São Paulo onde o café enchia os cofres dos grandes fazendeiros. Eram donos de um conhecimento raro por aqui e foram responsáveis pelos belíssimos casarões da aristocracia paulistana.
O conhecimento de Volpi veio da prática, da freqüência aos ambientes artísticos da cidade. Seu trabalho decorre do gosto em pintar paisagens, primeiramente, para depois expressar outras formas, outras cores. A cor e a forma são componentes vitais para o artista que após pintar paisagens e marinhas, dedicou-se à simplificação dos elementos de sua pintura. Aqui entram os casarões do Cambuci, os temas religiosos e, principalmente as bandeirinhas juninas que ficaram como que marca registrada do artista.
Gosto de saber que Volpi fazia suas próprias telas e que utilizava a têmpera como técnica, misturando os pigmentos com clara de ovo, deixando-os ao sol para secar e para ter certeza que não iriam descorar.

A obra de Volpi esteve presente nos meus primeiros anos como professor e é ele um dos artistas mais citados na minha dissertação de mestrado. O trabalho de Volpi facilita a releitura de jovens estudantes; pela estrutura suave e simples, muitas de suas obras que estimulam a criança, o adolescente na busca de experiências similares, com outros materiais, através de outras formas. É gostoso trabalhar com Volpi como inspiração e muito bom terminar este domingo reverenciando o grande artista.
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Boa semana para todos!
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