Aniversário, quando eu era bem criança, era sinônimo de sequilhos. Vovó e mamãe preparavam várias coisas, tudo com as próprias mãos; não sei o motivo, recordo apenas os sequilhos de polvilho quentinhos, gostosos. Desmanchavam-se na boca com uma leve pressão da língua no palato, o céu da boca que reconhece todas as delícias.
Éramos tantos! Meus irmãos, primos, vizinhos… Brincávamos no quintal enquanto as mulheres reinavam na cozinha. Vovó dirigia tudo calmamente, decididamente. Era a mais velha entre as irmãs e tinha o respeito de toda a família, assumindo-se matriarca. Não tenho nenhuma lembrança de alteração de minha avó. Provavelmente ela gritou com alguém, falou um pouco mais alto, mais tensa; não registrei e se o fiz foi temporário, pois de algo assim não tenho a menor lembrança.
Busco no tempo e nas lembranças a voz de minha avó. Penso nela rezando para Nossa Senhora de Fátima ou diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida; guardo com nitidez o semblante alegre, a voz em palmas cantando parabéns para os filhos e os netos, mas a voz… Era calma, leve e mesmo não tendo ficado registro do timbre sei que era tranquila, calma, e doce, como sequilhos.
Vovó era de gêmeos. Fazia aniversário no dia 5 de Junho. Provavelmente ainda comemoraria sem alarde, sem barulho. Gostava de gente ao redor de si, de champagne, de música. Ficaria quietinha, olhando as pessoas falando, ouvindo-as e só de vez em quando, muito de vez em quando é que diria alguma coisa. E se dissesse, seria bem baixinho.
Reverencio minha avó neste dia 5 de junho. Pelo aniversário que, ainda agora, é sinônimo de sequilhos; desde aqueles, já tão distantes, que tornaram minha infância melhor. Sobretudo, reverencio minha avó pelo silêncio, pela serenidade e resignação mesmo nas maiores turbulências. Nesse mundo tão barulhento, tão industrializado, só evidencia em mim o tamanho da falta que ela nos faz.
Até mais!
Valdo, linda homenagem!