O lugar de Heloísa Junqueira ou um tiro saindo pela culatra

O evento na Galeria Olido
O evento na Galeria Olido

Foi nesta quinta-feira, às 12h30, na Galeria Olido, aqui em São Paulo, que ocorreu a apresentação inaugural do Coral Livre da Cidade de São Paulo, sob a regência de Heloísa Junqueira. No repertório erudito a emoção veio com Giuseppe Verdi; a ária “Va Pensiero”, coro dos escravos Hebreus da ópera Nabuco foi, na minha modesta opinião, um grande momento.

O Coral Livre também apresentou músicas populares evidenciando outras facetas do próprio coro e da regente, que assinou arranjos para Yesterday (Lennon/McCartney), Ponta de Areia e Canção da América (Milton Nascimento e Fernando Brant), além de Romaria (Renato Teixeira). Nesta última, Heloisa Junqueira surpreende no andamento ágil, imprimindo novidade à canção interpretada com segurança pelo grupo.

Tai uma coisa que nossos avós diriam: O tiro saiu pela culatra! E como saiu! Explicando…

Heloisa Junqueira foi, durante muitos anos, cantora do Coral Lírico da Fundação Theatro Municipal de São Paulo. Participou de inúmeros recitais, óperas e demais atividades da casa. De repente, após anos de dedicação e de um trabalho primoroso, foi afastada de suas funções, junto com outros artistas, sem os devidos direitos de qualquer trabalhador.

Cá pra nós, conheço Heloisa Junqueira dos tempos de universidade, no Instituto de Artes da UNESP, quando ela já se destacava por uma disciplina incomum e um amor imensurável pelo seu ofício. Sempre aguardei que a ela fosse dado maior destaque nos espetáculos do Municipal. Voz segura e marcante, presenciei Heloisa muitas vezes em meio ao grupo ou cantando árias nas óperas montadas pela casa e sempre aguardei vê-la em solos tão grandes quanto o potencial vocal que ninguém nega existir.

Os meandros de bastidores em instituições como o Municipal são bastante complexos. O tempo passou; um primeiro papel não veio e a cantora, mais alguns colegas, foi surpreendida com o afastamento do Municipal, do coral.

Guerreira, Heloisa Junqueira partiu na luta pelos seus direitos. Entre vitórias e revezes de toda grande batalha, o Theatro Municipal acenou com uma solução para a contenda colocando o grupo afastado na criação e orientação de um novo coral. Tai o tiro que, tenho certeza, saiu totalmente pela culatra.

O Coral Livre. Heloísa Junqueira de preto, no centro.
O Coral Livre. Heloísa Junqueira de preto, no centro.

Cantores experientes, profissionais competentíssimos, os “egressos do Lírico e do Paulistano” (está assim no programa do evento) mostraram já no primeiro recital que o Coral Livre da Cidade de São Paulo é uma realidade que veio para ficar, crescer e seguir em frente. Com Heloisa Junqueira como regente!

Fiquei feliz em ver a cantora que, sem nunca pensar em parar no tempo e na profissão, preparou-se e continua estudando para maestrina. O lugar de Heloisa Junqueira é no palco. E aqueles que tentaram calar a cantora do Coral Lírico só fizeram abrir espaço para a maestrina do Coral Livre da Cidade de São Paulo. Beleza!

Até mais!

2 comentários sobre “O lugar de Heloísa Junqueira ou um tiro saindo pela culatra

  1. Angélica Leutwiler

    Lindo post, Valdo Resende. Sempre sensível e atento aos acontecimentos do palco e dos bastidores… Brava, Heloisa Junqueira! Caminho reto e muito sucesso para os dois!

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