O ouro de Minas matou muita gente.
Escravizou outro tanto,
Favoreceu reis e bandidos
(Se é que há diferenças entre esses!)
Enriquecendo boa parte deles.
A velha Ribeirão do Carmo testemunhou,
Gostou e mudou de nome.
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Quanto já se sabia do ouro de Minas?
Muito tempo, dizem.
Só o quinto dos achados permitiu aparecer.
Quando os reis de Portugal tudo queriam
Nada saia da terra; raro era até a pirita,
O ouro dos tolos que deu vez ao verdadeiro
Quando Portugal contentou-se com o tal quinto.
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Saiu muito ouro de Ribeirão do Carmo
Tornada Mariana, primeira capital de Minas,
Acostumada desde nascença aos conchavos
Acertos, tramoias da gente de toda espécie,
Personagens da corrida do ouro.
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Escasseado o ouro recolhido à mão
A necessidade de máquinas, conhecimento,
Deu vez aos ingleses, notórios mineiros.
Sua Majestade formou seis companhias
Todas para extrair ouro de Minas.
Ancestrais da Vale, a vilã da hora.
Mariana, que foi Ribeirão do Carmo,
Tudo viu, tudo aceitou.
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Os ingleses ficaram com o ouro
Os EUA explorando o ferro.
Negociantes no quintal alheio,
Aboliram o quinto dos achados
Pela propina aos sem caráter.
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Ah, MInas Gerais!
Se fosse apenas o ouro, se quisessem apenas o ferro…
Há lítio, berílio, zinco, titânio, nióbio, chumbo
Engrossando a lista dos metais.
Há também enxofre, ocre, ardósia, bário, grafita,
E tantos outros não-metálicos,
Que o pobre de Mariana que foi Ribeirão do Carmo
Não consegue entender, nem sabe como administrar,
Muito menos explorar.
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Explorado, vê a lama descendo.
Assustado descobre chefes,
Líderes, diretores, arraia miúda,
Escondendo os donos de tudo:
Ingleses, Americanos,
Gente de Percival Farquhar.
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Aqueles de memória pródiga
Lembrarão a Belgo-mineira,
Luxemburgo por trás de tudo;
Mas é bom lembrar Washington
Não o homem, a capital de acordos
Fazendo de conta que seria nosso
O ferro que processado vendem (caro!) a nós.
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Ah, mineiros de Mariana,
Ah, capixabas de tantos ais!
Que sabem de tudo isso?
Que levarão de todo o horror?
Não ficam com os minérios
Nem com o quinto dos achados
Nem com royalties ou similares
De metais e não-metais.
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Ganharam um rio de lama
Matando Minas, ameaçando o mar.
E Mariana silenciosa,
Sonhando quando Ribeirão do Carmo
Livre da ambição desmedida
Vinda com ouro, ferro e tudo o mais.
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Valdo Resende,
Novembro/2015
Linda mensagem e porque não alfinetada. Parabéns