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Talvez esteja entre os vizinhos,
Morador do mesmo bairro, na mesma cidade.
Pode ser o cara tranquilo que diz bom dia a todos,
O trabalhador correto, pontual e competente,
O estudante compenetrado, disciplinado,
O temente a Deus, o religioso abnegado.
Um homem qualquer
O ser – humano? – comum,
Indivíduo entre milhões.
Chegado o momento.
Sem alteração física, sem mãos trêmulas, sem incertezas.
Um tipo já conhecido repete o triste ato:
Meticulosamente prepara as armas, averigua a munição.
Criteriosamente escolhe um alvo,
Deliberadamente mata um, dois… Cinquenta pessoas!
O assassino tinha família, trabalho, religião.
Um passado com sinais, agora, constrangedores.
Recolhidos e identificados os corpos
Mães choram irreparáveis perdas.
E o roteiro – já conhecido – é seguido à risca:
Por que venderam armas ao assassino?
Qual a ligação do mesmo com grupos extremistas?
Como ele vivia, com quem, de onde veio tal absurdo?
Veja o passo a passo do acontecido!
Outro roteiro – também conhecido – merece repetição.
Somos os fabricantes e os compradores de armas.
Sossegamos a consciência cobrando do governo,
Clamamos por educação, por mais religião,
Moldamos Deus aos nossos míseros anseios,
Alimentamos preconceitos, seguimos discriminando…
E seguimos em frente, tudo esquecendo por mínimas distrações:
Um jogo de futebol, um capítulo de novela, um enlatado qualquer.
No entanto,
Talvez esteja entre os vizinhos,
Morador do mesmo bairro, na mesma cidade.
Pode ser o cara tranquilo que diz bom dia a todos,
O trabalhador correto, pontual e competente que,
Deliberadamente,
Mata um, dois… Cinquenta pessoas!