Renato Teixeira esteve em Uberaba, dividindo o palco com Almir Sater e Sérgio Reis. Não pude deixar de lembrar esse causo, criado nos tempos do Papolog. Foi uma amiga quem contou; não presenciei a história… O causo é que o afeto de Edna pelo Renato Teixeira perdura, embora transformado, até a presente data. A mistura das personagens é interessante: Edna, que é de Minas, tem origem Síria; Renato é caiçara, nascido em Santos, mas virou caipira em Taubaté, interior de São Paulo, onde morou.
Renato Teixeira começou profissionalmente nos Festivais da Record. Autor da música “Dadá Maria”, defendida por Gal Costa, com quem gravou a música, naquele que ficou sendo seu primeiro disco. Naquela época, lá em Uberaba, Edna nem tomou conhecimento.
“Mas que alegria vê-la aqui, Dadá Maria
Faz um ano que a saudade vem chamando por você…”
Elis Regina gravou “Romaria” (1977) e o Brasil aprendeu a gostar de Renato Teixeira. Em Uberaba, Edna tomou-o por príncipe encantado. E passou a sonhar com o dia em que teria um primeiro contato com seu ídolo. Sonhava com a certeza do encontro; era ter paciência e esperar, pois o local ela tinha.
Quando o amor começa, nossa alegria chama,
E um violeiro toca em nossa cama…
Tudo é sertão, tudo é paixão, se o violeiro toca
A viola, o violeiro e o amor se tocam…
Um dia o compositor visitaria a cidade; para fazer show ou para visitar Chico Xavier. Com certeza, almoçaria no restaurante mais celebrado de Uberaba, de nome “AS TRÊS COROAS” e de propriedade dos familiares da jovem. Nunca houve, e não há mais na cidade, local público para se comer comida síria, como no restaurante das queridas senhoras Zaíra, Abadia e Síria.
Seria Renato Teixeira chegar e Edna faria com que a mãe a levasse ao restaurante das tias. Em Minas Gerais ninguém gosta de “entrão”, o sujeito inconveniente que entra em assuntos, invade a vida de pessoas sem ser chamado. Então, a jovem arquitetou um plano, com o apoio da irmã, Marisa, para aproximar-se do ídolo com a famosa hospitalidade mineira. O dia chegou!
A notícia correu rápido! O compositor estava em Uberaba. Edna não cabia em si de alegria. Renato Teixeira, por essa época, já estava totalmente identificado com a música caipira. O artista é um dos maiores divulgadores de um jeito de ser caipira, através de músicas que alcançam grande sucesso. Se ele gosta de caipira, pensou Edna, ela seria a caipirinha mais faceira de Uberaba.
“Sou caipira, Pirapora, Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida…”
Hora do almoço. As tias Zaíra, Abadia e Síria não se abalaram com o visitante. Afinal, quem tinha o melhor tabule, a berinjela curtida mais gostosa? E os charutos? As esfihas, as saladas de jiló, quiabo? Cada refeição era uma garantia de festa para o paladar naquele restaurante. O compositor chegou, discreto, com assessores, e foi prontamente servido. Edna,com a mãe e a irmã, almoçavam em uma mesa próxima.
“Como uma estrada que vai dar não sei aonde
Por meu destino o coração é quem responde
Braços abertos pra se ver a luz do peito
Com grande amor que seja puro amor refeito…”
De repente, um grito de dor! Com o dedo na boca, simulando um corte, Edna chamou a tia Síria: “- Tia, tem pó pa tapá táio?” Síria, olhou, sem entender lhufas, e a menina insistiu:“- pó pa tapá taio!” A irmã, cúmplice, adiantou-se: “- Pó pô açúca messsmo!”. Edna quase que engoliu o dedo quando o compositor perguntou: – Machucou?
Tinha dado certo! Conseguira chamar a atenção do artista sem ser “entrona”. Respondeu, toda sorrisos: “- Foi um cortizim; pititim; poca coisa!” E ele, todo atencioso: “- Tem certeza?” Ela, toda sorridente: “- Bissoluta!” As tias e a mãe, D. Benha, ficaram intrigadas com aquilo. A família investiu pesado em educação; as meninas estudavam nos melhores colégios. Que brincadeira era aquela?
“Parei em Minas pra tocar as cordas
E segui direto para o Ceará
E no caminho fui pensando é lindo
Essa grande aventura de poder cantar
Amanhaceu, peguei a viola…”
Quando percebeu que o compositor terminava o almoço, Edna, agora já sentindo-se amiga próxima, puxou assunto: “- Vai pro Ridijanero hoje, né meesssmo? Mas num vai sem tomá um cadiquim de café; eu messssma faço.” O rapaz aceitou. A tia, ainda sem entender direito o que ocorria, interviu: “- A água já está fervendo!” Edna não perdeu a deixa de mostrar mais um pouco de seu caipirês: “- Pó pô Pó?” A mãe já se preparava para um pito na menina quando Marisa, a irmã, salvou a situação: “- Pô pó? Pó pô, craro!”
Renato tomou o café e foi-se. Edna passou dias suspirando, lembrando-se das feições do moço, olhando-a quando reclamou do machucado. Ficava repetindo baixinho: “-Tem pó pa tapá táio?”.
E o tempo passou. Ela é, hoje, uma das pessoas mais simpáticas e queridas da cidade. O restaurante não existe mais. Para privar das famosas refeições da família, só sendo amigo.
“Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe,
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei,
Ou nada sei…
Sobre esse episódio, contado aqui sem autorização, tenho certeza que ela me dirá: “-Engraçadinho!” E dará boas risadas. Afinal, é apenas um “causo”, desses que se conta tomando café, ou bebendo uma boa cerveja e, com certeza, mentindo um pouco…

“A amizade sincera é um santo remédio
É um abrigo seguro
É natural da amizade
O abraço, o aperto de mão, o sorriso
Por isso se for preciso
Conte comigo, amigo, disponha.”
O afeto por Renato Teixeira continua. Se ela chegar perto dele certamente fará brincadeiras, contará piadas. Em segundos, será grande amiga do cara. É delicioso e fácil gostar e ser amigo de EDNA MARIA IDALÓ. Um beijo!
Até!
Notas musicais:
Dadá Maria – Renato Teixeira
Um Violeiro Toca – Almir Sater/Renato Teixeira
Romaria– Renato Teixeira
Olhos Profundos – Renato Teixeira
Amanheceu, Peguei a Viola – Renato Teixeira
Tocando em Frente – Almir Sater/Renato Teixeira
Amizade Sincera – Renato Teixeira/Dominguinhos