De tudo o que Cecília Meireles escreveu tenho especial apreço pelo “Romanceiro da Inconfidência”. Tipo livro de cabeceira. Pela beleza dos versos, pela história da nossa terra, pelo que aprendo sempre… A aguda percepção de Cecília foi além do fato, do tempo, para entrar na alma dos homens e, talvez por isso, seja perturbadoramente atual. Exemplo? Os versos abaixo, da “Fala Inicial”:
Ó meio-dia confuso,
ó vinte-e-um de abril sinistro,
que intrigas de ouro e de sonho
houve em tua formação?
Quem ordena, julga e pune?
Quem é culpado e inocente?
…
Choramos esse mistério,
esse esquema sobre-humano,
a força, o jogo, o acidente
da indizível conjunção
que ordena vidas e mundos
em polos inexoráveis
de ruína e de exaltação
Ó silenciosas vertentes
por onde se precipitam
inexplicáveis torrentes
por eterna escuridão!
E assim caminhamos para mais um 21 de abril. Nesses tempos sombrios, de podridão exposta, de vergonha no lixo, resta-nos esperar e – mesmo que pareça absurdo – aguardar por dias melhores.
Até mais.