De Uberaba chega a notícia de um evento promovido pela prefeita para celebrar o Dia das Crianças. Uma exposição onde foi ensinado a usar explosivos e sobre cada tipo de revólver e rifles. Meus pêsames!
O nome do evento é curioso: “Tempo de Brincar – 2ª Edição”. Tenho medo de saber o que foi ensinado na primeira edição, mas nesta, segundo foi noticiado, a Polícia Militar e a Polícia Penal foram os professores do dia. Explicaram que o armamento exposto pode atingir de 10 a 15 pessoas. Ou seja, penso eu que dá para matar a família, a vizinhança mais próxima e sobra tiro para algum abelhudo que resolver questionar sobre o motivo da matança!
Fui atrás dos objetivos da prefeitura! A prefeita tira o dela do rumo e informa que foi solicitação das forças de segurança pública, visando “afastar o medo, culturalmente imposto nas crianças sobre as forças de segurança e promover uma aproximação destas com a comunidade”. Amigos meus não andam armados! Nem me ensinam a usar granadas ou bombas de gás lacrimogêneo. Me oferecem, conforme o evento, pipoca, picanha, pernil, pizza… só para ficar na língua do P, caro Policial! Vou ficar amigo de quem porta um fuzil e ou uma metralhadora, que pode ser apontada em minha direção, ou de quem me convida para degustar um panetone, um pudim?
A prefeita de Uberaba, Elisa Gonçalves de Araújo, do Partido Solidariedade, em entrevista ao Estado de Minas afirmou que pretende “humanizar a educação” na cidade. O jornal não diz o que significa para a prefeita “humanizar” e “educação”. Provavelmente a distinta deve ter mudado de opinião, já que tal fala se deu em janeiro do ano passado. No entanto é valido notar que seguindo o governador mineiro, a prefeita é apoiadora do presidente candidato à reeleição, notório incentivador do uso de armas e do comércio armamentista no país.
Dotar a polícia de armamento atual e qualificado é uma questão de planejamento de especialistas do setor, e de uma formação adequada de cada policial para que a população não se torne vítima de quem existe para defendê-la. Armar a população é outra história. Em recente debate, a candidata Soraya Thronicke disse que as armas devem ser liberadas desde que usadas com “critério e responsabilidade”. Seria o critério principal de uso estourar os miolos e mandar para o inferno o inimigo do momento? Tudo com a responsabilidade de saber que a direção do tiro está direcionada à pessoa certa? Foi isso que a senhora quis dizer, Dona Soraya?
Volta e meia temos lido no noticiário a morte de alguém por uma criança, manuseando curiosamente a arma de um adulto encontrada em algum canto da casa. As crianças participantes do evento de Uberaba já têm uma noção preliminar de como usar. Essa é a real dimensão do fato. A notícia de jornal, a cena do filme, da novela, toma outra forma quando tenho em mãos uma granada e descubro exatamente como ativá-la. Também é distinto brincar com uma arma de plástico e sentir em minhas próprias mãos o peso, a potência e as possibilidades de uma metralhadora ou fuzil. O que é que isso tem a ver com amizade?
Dá próxima vez, cara Prefeita, caros responsáveis pela segurança de Uberaba, promovam um encontro entre a Banda de Música do IV Batalhão da Cidade. Mostrem os instrumentos, como funcionam, como cuidar dos mesmos. E ensinem uma canção! Toquem e cantem Saudades de Uberaba, do Alberto Calçada. É melhor lembrar um passado imperfeito que forjar um futuro de sangue ao ensinar uma criança a usar uma arma.