Parece loucura escrever longos textos em tempos de frases telegráficas e overdose de imagens, vídeos. E aqui vai, conforme expressão popular, mais um “textão”. Míseras laudas quando penso em calhamaços de Dostoievski ou James Joyce. Certamente há livros sendo publicados por aí. Aos montes! Parati recebe agora quantidade enorme de leitores, e não faz tanto tempo tivemos a Bienal do Livro em São Paulo.
Ontem ganhei do meu simpático porteiro uma revista Veja. Pensei em Crepúsculo dos Deuses*! Uma frágil publicação feita de textos para consumo rápido, reportagens tímidas, sem a exorbitância de páginas publicitárias dos tempos áureos. Evidência maior de mudança é constatar todos os conteúdos digitais da Abril por 1,00 por semana. Todos! De Placar a Claudia, passando por Super Interessante, Quatro-Rodas e por aí vai. Uma tentativa de ampliar público na tal Black Friday. Mas, vamos voltar aos livros.
Estão lá, na revista, os mais vendidos em ficção, não-ficção, autoajuda e esoterismo, infantojuvenil. As maiores editoras presentes: Record, Rocco, Companhia das Letras, Sextante… A maioria dos livros que alcançam tais listas foram pensados para o grande público e um exemplo contundente, em ficção, é notar nos dois primeiros lugares um bem pensado produto para “vendas casadas”: em primeiro lugar está “É assim que começa” e o leitor precisará comprar o livro colocado em segundo lugar para descobrir que “É assim que acaba”.
Longe estou de criticar quem escreveu “Os segredos da mente milionária” ou “Mulheres que correm com os lobos”. Minha mente pode até ser milionária, mas o dinheiro que seria meu deve estar fugindo, escondido dos lobos. Faço parte daqueles escritores fora do tal mainstream (me sentindo chic em usar essa palavra!). Não por vontade própria, é bom registrar. As coisas vão devagar.
Tudo isso veio a propósito da comemoração de um ano da publicação de O vai e vem da memória. Meu livro tem feito modesta, mas digna carreira. Uma comparação se faz necessária para esclarecer a dimensão das coisas. Um megassucesso costuma começar com cerca de 100.000 volumes impressos e distribuidos amplamente. Imprimi 300 volumes. Sem pretender me equiparar ao Drummond de Andrade, quero lembrar que o poeta custeou a publicação de 500 volumes do seu primeiro trabalho.
Uma ilustração possível sobre a situação é comparativa: Um escritor como eu é como aquele vendedor ambulante de chocolate caseiro concorrendo com o Sonho de Valsa, o Diamante Negro e, como sou guloso, já penso logo em Amandita. A vida é bela! E eu gosto de escrever.
Lá atrás já pretendia ser escritor. Jamais cogitei um plano de negócios. Romântico, meu mote era cumprir uma vocação! Ou sina? Castigo? Karma? Gosto. “Mais vale um gosto que um caminhão de abóbora”, aprendi com minha mãe. Gosto de escrever! (coisas maravilhosas da língua que me encantam: O gosto e o gosto. O substantivo e o verbo). E assim vou eu, vivendo e escrevendo, sabendo que em algum momento serei lido, a maior recompensa. Se você chegou até aqui, obrigado. Escrever é tão bom quanto ser lido. Não importa quantos, mas por quem.
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* Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, de 1950). Dirigido por Billy Wilder, conta a história de uma estrela decadente, Norma Desmond (Glória Swanson), vivendo fora da realidade.
Gostar é importante. Escrever é que são elas. E você escreve. E bem. E como é bom ler você, meu amigo!
Boa tarde! Você está bem? Este testão-crônica cabe no Monte Sião…. o que vc acha?
Enviado do meu Galaxy
Devagar se vai ao longe.