Onde morar?

A Praça da Sé, em foto de 2022

O sujeito que ocupa a prefeitura de São Paulo é um grande sábio, autor de expressão conclusiva que deve entrar para a história: “rua não é endereço e barraca não é lar”, disse, após vitória da prefeitura na justiça para retirar das vias públicas barracas de moradores em situação de rua. A questão é problema quando entra uma matemática básica na história.

Alardeando ter criado 21 mil vagas para a população afetada, o prefeito ignora o fato de que são 32 mil pessoas nessas condições, conforme levantamento municipal, o que também não bate com uma pesquisa da UFMG: seriam mais de 42 mil pessoas. Em seu pronunciamento o ilustre sábio não diz o que fazer com as milhares de pessoas que, sem habitação, não podem morar nas ruas. Informa que irá em frente aumentando as vagas. Até que isso ocorra, a solução do digníssimo alcaide é proibir barracas nas ruas.

O caminho para as ruas, invariavelmente, começa pelo desemprego, passa pelo subemprego e o desequilíbrio entre gastos e ganhos. Tipo um amigo para quem restou a informalidade trabalhando como motorista por aplicativo. Com a imensa quantidade de quilômetros diários rodados não demorou nadinha para que o carro precisasse de consertos. Provavelmente, o prefeito de São Paulo comentaria: “se fizesse manutenção o veículo não precisaria de oficina”. O ilustre gestor esquece do combustível,  do aluguel, do mercado, da farmácia, da luz, do gás, da água…

Após vender tudo o que podia e o que não deveria, como exemplo aqui a geladeira, a primeira inadimplência foi para com amigos, parentes e conhecidos: pede-se uma grana e não paga. A gente entende. Quem não entende é a ENEL, que corta a luz, o dono do imóvel quando atrasa o aluguel e os demais fornecedores. A família vai perdendo tudo. Sem maiores dramas, meu caro amigo mudou-se para apartamento menor, no fim do mundo – irá gastar mais gasolina – e, graças aos céus, não foi parar na rua. Isso não ocorre com todo o mundo, ou alguém, além do prefeito paulistano, acha que a pessoa vai morar na rua porque quer?

Sob um viaduto na Rua Major Diogo vi, em várias ocasiões e horários, o cotidiano de alguns moradores em situação de rua. Um grupo em círculo segurando um tecido garantindo, com isso, um mínimo de privacidade para alguém, no meio do círculo, tomando banho. Em dias gelados faziam pequenas fogueiras que aqueciam alimentos e quem estivesse ali, ao redor do fogo. Não é difícil relatar e enumerar outras situações, mas o que eu gostaria mesmo é de poder fazer com que o Sr. Ricardo Nunes, o sábio prefeito, passasse por tais experiências. Talvez se empenhasse em encaminhar com maior agilidade as soluções pretendidas e necessárias.

Constata-se matematicamente que é insuficiente a quantidade de vagas disponíveis nos abrigos paulistanos. A barraca é um último recurso antes que a pessoa vá viver a céu aberto, o que, ao que tudo indica, pouco importa ao prefeito. A barraca não é solução, fato. Então, cabe ao sujeito que ocupa a prefeitura prover meios e formas de resolver a questão; é para isso que o sujeito está ocupando tal cargo.

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