Certamente os deuses do futebol são amorais. Também residem longe, muito longe da ética. O que importa aos tais deuses é que nada, nem ninguém, atrapalhe a eficiência de um time. Mesmo que, para a vitória almejada, seja necessário ignorar a presença de criminosos em campo, ou nas laterais, orientando e dirigindo as agremiações. Os deuses do futebol são os mais fiéis seguidores de Maquiavel, vivenciando a máxima: Os fins justificam os meios.
A fé nos tais deuses e os seguidores da cartilha determinada pelos mesmos é atitude de muita gente incauta, os tais torcedores obcecados pela camisa. Não raciocinam; torcem! E quando raciocinam fazem vistas grossas para crimes e falcatruas de ídolos, ou dos dirigentes desses. Quando questionados costumam sair com a mais ordinária das colocações: Mas isso não é futebol! Não preciso aprofundar que pouco interessa o crime caso o criminoso seja hábil no drible, artilheiro no campeonato.
Sustentação maior aos deuses do futebol vem da imprensa. Desviam o assunto, dão pequenas notas, defendem os tais criminosos e, principalmente, apagam o acontecimento relegando o mesmo ao esquecimento. Exemplo contundente o incêndio no vestuário do Flamengo, no Rio de Janeiro. Pobres meninos que morreram queimados! Pobres familiares que choram suas perdas.
Estupradores, assediadores, pais que abandonam filhos, sonegadores de impostos: criminosos e crimes mais comuns e constantes no nosso futebol. A imprensa até notifica alguma coisa, como o fato de Robinho estar chateado pela presença da polícia na porta de sua casa, constrangendo o pobrezinho que não havia entregado o passaporte, determinação da justiça.
Histórias envolvendo o universo de futebol vêm de longe e nossos maiores ídolos não ficaram distantes de situações controversas. A filha que Pelé só reconheceu juridicamente é triste exemplo. Garrincha, diz a lenda, foi pai em diversos países, abandonando a família aqui no Brasil e mantendo-se distante também dos tais filhos estrangeiros. Elza Soares pagou preço alto em situação em que a atitude fundamental deveria ter partido do jogador. Ao longo dos anos me habituei com caras feias quando comento tais fatos. Nunca deixei de admirar esses que considero os maiores atletas do nosso futebol, todavia, é bom salientar que aqueles tempos sendo outros, o mal que fizeram é o mesmo que alguns outros ainda fazem.
As coisas estão mudando nesse momento em que uma notícia alastra-se quase que instantaneamente, tendo mudado um pouco as coisas. Além do atleta condenado na Itália temos um outro caso contundente em andamento, na Espanha. Que a justiça seja feita e que cada um cumpra o que for determinado. E por estarmos em um mundo novo, onde novas questões são colocadas e novas posturas são exigidas, cumprir pena não basta. É preciso que o envolvido em crime, após cumprir determinações legais, adote ações diferenciadas para que a coisa não se repita.
Novas atitudes, é o mínimo que se pede do atual técnico do Corinthians, o exemplo da hora de profissional de futebol envolvido em história tenebrosa. E não é, hipocritamente, vestir camisa com imagem de Nossa Senhora. É sim, assumir o que fez, desculpar-se e trabalhar em ações contra pedofilia, contra assédio a menores. Se o sujeito “não fez nada” estando presente no quarto onde ocorreu o crime, que o faça agora. Investir contra tal técnico não é vingança, é exigência de uma posição honesta e de ações concretas lutando para evitar que isso se repita.
Finalmente, apelo para a melhor arma que temos para mudar a postura de cartolas e seus comparsas. Boicotemos os patrocinadores! Sejam de atletas ou times, duas respostas contundentes podemos dar: denunciar e boicotar! Lugar de criminoso é no banco dos réus, respondendo à justiça. E fora do banco, na cadeia ou fora dela, atuando em prol de vítimas de tais crimes.
Concordo plenamente! Boicote já.