De Uberaba veio notícia de perdas. Na manhã de hoje reencontro o velho senhor, simpático vizinho, que há tempos não aparecia na porta de nosso prédio. Notei que sentia falta do bom dia do senhor que está com 86 anos. Pergunto se está tudo bem; ele responde: “- Bem, bem mesmo, nunca mais! Mas temos que continuar, não é assim?”
Enquanto caminhava para o médico, ironicamente senti o peso da expressão “bem, bem mesmo, nunca mais”. Recordei um velho poema que escrevi quando jovem, pensando em Maria Elza Sigrist, amiga querida. Não sabíamos que alguns problemas de então eram só um pequeno esboço do que a vida nos reservava; lá, como hoje, a poesia melhora a vida.
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Reviver a partir da perda,
Tendo em frente o nada
Retrocedendo um pouco.
Afastar ilusões, buscando novas
Porque é parte.
Estar atento ao novo encontro.
Se possível, duradouro,
Pra ter chances de ser profundo
Porque assim vale.
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Vestir roupas novas, sorrisos;
Remoçar e ser, intensamente,
Prosseguir e amar calmamente
Porque não há pressa.
E não se desesperar com ventos fortes
Céu escuro, tempestades,
Ignorando possíveis acidentes
Pra ser inesperado e,
Ao vir, deixar-se morrer sem muita luta
(Amor pinta sem labuta).
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Mergulhar no negro desencontro
Buscar forças, energias
Para outra vez…
Reviver a partir da perda.
(Redivivo/Valdo Resende)
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Até mais!
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