O instante vai e a paisagem torna-se turva
Lembrança desfocada como a foto tirada pela janela do carro em movimento.
O vazio vence a excitação, já que o velho cotidiano toma conta;
Antes que vença, ainda recorremos a fotografias, retendo o recente vivido.
Brinco com o garoto que, cúmplice do tempo, já ostenta 13 anos e diz que é rapaz.
Falo com o afilhado que, na minha mente, será sempre o menino:
– Olha o Pão Doce, que lindo!
Ele sorri, olhando-me como se olha ao parvo. Pão Doce…
Antes que eu repita a expressão noto novo brilho, do menino que é rapaz.
Um acordo tácito é estabelecido sem documentos ou registros:
O Pão Doce é muito bonito!
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Férias são sonhos plenos de imagens fugidias, múltiplas, logo esmaecidas
Ingressos, recibos, cartões e fotos, um ou mais cacarecos são lembranças
E a roupa suja para a lavanderia é realidade, golpe fatal do fim da viagem.
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Desse recente momento ficará o límpido olhar de Antônio
Indiferente à ostentação do Barroco; ignorando teorias artísticas no MAR
Mantendo a paciência com as portas fechadas da Casa Daros e do Museu do Índio
Tudo aparentemente esquecido atrás do sorvete no final do dia.
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SP/Inverno de 2013