
Talvez o Brasil seja no mundo, e proporcionalmente, o país com mais doutores… sem doutorado. O sujeito é bacharel aqui, possui uma licenciatura ali, ou simplesmente usa terno e gravata e já é recebido prontamente com um: “Pois não, doutor!”. Há casos em que o sujeito, filho de um patrão, também recebe o título na forma de tratamento e, carinhosamente, vira “doutorzinho”. Também há situações em que o indivíduo, devidamente paramentado, abre um consultório médico ou dentário e… “Com licença, doutor!”
Conhecimento, ninguém nega, é sinônimo de poder; então, alguns setores habituados a não dividirem o pão dificultam o conhecimento aos que não tem, nem meios para comprar esse alimento, nem para pagar uma escola. História: De 1500 até 1759 os brasileiros foram educados basicamente pelos Jesuítas, que nos tornaram um país católico (E tem imbecil apregoando que a escola não é ideológica). E toca a ignorar as manifestações religiosas indígenas, a abafar as religiões que entraram no país junto com os africanos escravizados. Os mais abastados estudavam em Portugal.
Constituição Brasileira, a gente vê todo o dia, é algo discutível. Uns não cumprem, outros querem acabar com ela, outros a ignoram… A Constituição de 1824 assegurou instrução primária e gratuita a todos os cidadãos (300 depois da invasão portuguesa!). Se considerarmos a pesquisa do IBGE de 1918, que nos informa que temos 11,3 milhões de analfabetos, podemos afirmar que desde 1824 não respeitamos a Constituição Brasileira. Ora, em meados dos 1800 criaram os cursos de Direito. Nessas, o aluno ficava estudando durante longos cinco anos. Quem vai deixar de chamar de doutor a um sujeito tão estudioso? Só que o indivíduo saía das escolas como bacharel. Bacharel é o indivíduo graduado! O iletrado não sabia disso, passou a chamar o sujeito de doutor…
Para se ter uma ideia da importância do Direito, em nosso país, chegamos ao 38º Presidente e, desses, 21 cursaram Direito. Tancredo Neves, o que foi sem ter sido, também cursou Direito, o que elevaria para 22 “doutores” na presidência? Não. Da lista, apenas dois (2) cumpriram exigências acadêmicas para tanto: Afonso Pena e Michel Temer. Entre os Presidentes oriundos de outras áreas temos um único doutor, o Fernando Henrique Cardoso. O médico Juscelino Kubitschek foi especialista em urologia. Não foi doutor. Mas… quantos não chamam de doutor aos bacharéis em medicina?
E aí… apareceu uma cidadã, Damares Alves, que segundo o Jornal Folha de São Paulo, a dita senhora costumava apresentar-se como Mestre em Educação e Direito. Confrontada, ela apelou para os céus, de onde segundo ela vem os títulos de mestres, e não em instituições que oferecem Mestrado.
E agora… apareceu um cidadão, convidado para o Ministério da Educação. Carlos Alberto Decotelli quase chegou lá, ao doutorado, obtendo os créditos para o título. Créditos, nunca é demais informar, é um conjunto de atividades exigidas para o bacharel, ou licenciado, antecedendo a avaliação final, quando o pretendente defende publicamente uma tese. Esse “publicamente” da tese é de fundamental importância. Pois pode haver contestação. Não havendo, o sujeito se torna indiscutivelmente um doutor.
Bom, estamos no Brasil onde, segundo Ari Barroso, coqueiro dá coco. Então, para você, que chegou até aqui, meu muito obrigado, algumas perguntas e possíveis reflexões após as mesmas:
– Em relação à Damares, estão fazendo ou não maior escarcéu que com o Sr. Decotelli?
– O plágio do cidadão de bem Sergio Moro vai ficar por isso mesmo? Sim, o juiz impoluto apresentou artigo com plágio. A culpa está sendo creditada à Beathrys Ricci Emerich, parceira do ex-ministro na redação do artigo.
– Beathrys é ou não é nome decidido em sessões de numerologia?
– Se tivemos dois presidentes sem formação universitária, Café Filho e Lula da Silva, um senhor graduado, Mestre pela Fundação Getúlio Vargas, com créditos aprovados para doutorado, não pode ser Ministro?
Orientação para possíveis respostas, por gentileza, pesquisem: Falsidade ideológica, má-fé, estelionato, falcatrua, fraude, embuste… enfim, mau-caratismo.
Até mais.
Inacreditável o quanto nosso povo está de “olhos fechados” para tantas falcatruas! O mesmo povo (de qualquer origem econômica e/ou cultural) que esbravejou e continua esbravejando contra um presidente sem curso superior. Jessé Souza explica bem a “elite do atraso” e a “classe média no espelho” como os mantenedores dos “doutores” brasileiros.
Ora, meu amigo Valdo… Você está se esquecendo de algo muito importante: o nosso ex-futuro-quiça ministro, inegavelmente verossímil ministro, dado o nosso contexto, só não obteve o titulo de doutor porque sua tese estava muito profunda e precisava de cortes para ser aprovada. Devia estar mesmo! Tão profunda quanto a sua falta de caráter. Mas, como você mesmo disse, nesse país de tantos doutores (e acrescento: de tão massacrados professores!) que diferença faz um doutor a mais, um doutor a menos?