
Leigos, pouco podemos dizer sobre o que há sob os nossos pés. Pode ser raiz de mandioca que, segundo consta, continua crescendo quando partes da planta permanecem após colheita… Alguns filmes gostam de sugerir cemitérios malditos, poços de petróleo, minas de ouro… Arqueólogos buscam vestígios humanos, paleontólogos pesquisam fósseis tão distantes no tempo quanto possível. Gosto desses últimos que lembram questões constantes na vida de todos nós: Quem somos, de onde viemos e para onde vamos!
Na próxima semana receberemos Rodolfo Nogueira, um paleoartista brasileiro. O rapaz traduz conhecimento científico em imagem, por exemplo, aquelas dos dinossauros que encantam todos nós. E foi me preparando para esse papo que recordei coisas e locais que guardam memórias de outras eras, que se constituem nesse meu balaio de antes do tempo.
Descendo do trem em Peirópolis para passar um dia com meus primos, nos idos da década de 1960, não imaginava que caminhávamos sobre sítios que guardavam relíquias paleontológicas. Airton, casado com minha prima Maria, foi telegrafista e passava longas temporadas em postos da antiga Mogiana, depois Fepasa. Peirópolis foi um desses.
No Piauí, em São Raimundo Nonato, foi onde visitei os primeiros sítios arqueológicos com material pré-histórico, devidamente guiado e orientado por especialistas para saber onde estava pisando. É uma experiência recomendável visitar o Parque Nacional da Serra da Capivara para ver pinturas rupestres que sobreviveram milênios. Sinais que indicam presença de ações, rituais, maneiras de ser nesse mundo que uma hora qualquer acabam ou, no mínimo, se transformam.

Pesquisando sobre a Baixada Santista soube dos Homens dos Sambaquis, habitantes que há 3.900 anos coletavam alimentos, viviam da caça e de produtos do mar. Deixaram montes formados por conchas para enterrar os mortos, ou para rituais festivos. Em sua maioria os sambaquis foram destruídos por antepassados recentes. Os homens costumam tomar posse de terras, construir sobre essas, para isso ajustando basicamente a superfície. Vai saber o que está no subsolo de São Paulo! Durante a construção do metrô de Roma, o mais demorado a ser concluído, muitas interrupções entre cada avanço da escavação do túnel apenas para investigar se o material encontrado tinha ou não valor histórico.
Voltando para a terrinha, o entorno de Peirópolis foi ocupado minimamente por construções de alvenaria ou similares. Estão lá poucas casas formando um pequeno povoado de gente que vive da lavoura, da pecuária, do comércio de produtos típicos da culinária regional. As fazendas próximas guardaram os sítios paleontológicos que agregam outras características para Uberaba: soma dinossauros ao gado zebu, ao legado de Chico Xavier.
Tenho visitado Peirópolis para comer a deliciosa comida mineira de seus restaurantes, comprar doces maravilhosos e visitar o museu paleontológico. Lá estão alguns exemplos de peças encontradas na região e imagens, muitas e belas imagens criadas por artistas como Rodolfo Nogueira. Olhando-as, nossa imaginação vai longe, mal conseguindo dimensionar esse tempo tão distante, quando dinossauros caminhavam sobre a terra.
Os dinossauros são a concretude de que tudo pode ir para o beleléu! Tamanho, força, poder não bastam para garantir nossa sobrevivência. Gosto de pensar nesses estudos como possibilidades de reflexão sobre nós mesmos. Houve um planeta, o nosso, que por tais e tais circunstâncias dividiu-se em continentes. Nessa mesma Terra rolou um barato que exterminou dinossauros e seus parentes. Após uma imensa quantidade de tempo, onde hoje está a caatinga nordestina houve água, e lá sobraram para os dias de hoje, sob camadas de terra, vestígios da presença humana.
Tempo é conceito abstrato, criação humana; recente, se a gente considerar eras passadas. Como tudo começou, por onde caminhou… O pessoal lá do Piauí diz que o semiárido caminha do Leste para Oeste. Um dia, dizem, a Amazônia será tão seca quanto algumas regiões nordestinas. Com o desmatamento provocado pelo ser humano é bem provável que essa situação ocorra antes do tempo. Nosso planeta é algo vivo, que vai se transformando lentamente, às vezes com ocorrências acelerando o processo. E há bons cientistas, pesquisadores e artistas facilitando nossas vidas nessas tarefas.
Penso ter tido boa sorte nessas coisas de vestígios do tempo. Um dia visitei os Fóruns Romanos e tudo me pareceu muito velho. Não tão velho quanto o Sítio da Pedra Furada, no Piauí, que é bem novinho se comparado aos achados em Peirópolis. Conheci estudiosos como Niede Guidon e sou amigo da “moça das pedrinhas”, a Janaina dos Santos, que fez doutorado estudando morfoestratigrafia, sedimentologia e… paleoambientes! Brincadeira nossa, eu costumava perguntar para “Jana”: para que serve? Agora, acrescentarei paleoarte ao balaio de coisas de antes do tempo. No próximo domingo, em uma boa conversa com Rodolfo Nogueira. Todos convidados!

Trem das Lives com Rodolfo Nogueira
Domingo, dia 31/01